Bolsonaro decide demitir o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna

O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras (Alan Santos/Presidência da República)

Com informações do InfoGlobo

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, nesta segunda-feira, 28, segundo integrantes do governo, em meio à pressão por conta do aumento no preço dos combustíveis e após diversas críticas feitas pelo governo e pelo Congresso à estatal.

O anúncio ainda não foi feito, mas isso deve ser confirmado nas próximas horas, de acordo com interlocutores do Palácio do Planalto.

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De acordo com fontes próximas ao governo federal, o economista Adriano Pires, especialista do setor de óleo e gás, é o mais cotado para assumir o cargo.

Silva e Luna já foi avisado que será demitido. Para isso, o governo encaminhará à Petrobras uma lista de nomes para fazerem parte do Conselho de Administração da Petrobras. Dessa lista, não constará o nome de Silva e Luna.

Os acionistas da Petrobras se reúnem no próximo dia 13 para confirmar os novos nomes ao Conselho, incluindo o seu novo presidente, Rodolfo Landim (presidente do Flamengo).

Para ser presidente da Petrobras é necessário fazer parte do Conselho de Administração. Sem o nome nessa lista, Silva e Luna é automaticamente substituído.

Silva e Luna tem, oficialmente, um mandato de dois anos, que só venceria no ano que vem. Mas isso não impede a troca, segundo fontes do governo, porque o Conselho precisará ser renovado, já que seu atual presidente, Eduardo Bacellar Leal Ferreira, pediu para deixar o cargo.

Com isso, abre-se a vaga de todos os conselheiros ao mesmo tempo, conforme o estatuto da Petrobras, deixando o caminho livre para o governo trocar Silva e Luna.

Reunião no Palácio do Planalto

A troca de Silva e Luna também chegou a ser discutida em reunião, na manhã desta segunda, de Bolsonaro com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os comandantes das três Forças Armadas no Palácio do Planalto.

Silva e Luna chegou a contar com o apoio dos militares do governo, mas perdeu esse apoio por conta da forma como conduziu o aumento dos combustíveis neste mês. Para integrantes do governo, faltou “sensibilidade” a Luna.

De acordo com integrantes do governo, assessores de Bolsonaro chegaram a convidar Rodolfo Landim para assumir a presidência da estatal, mas ele recusou, pois prefere ficar no Flamengo. Por outro lado, aceitou ser presidente do Conselho de Administração da empresa.

Esta é a segunda troca na Petrobras, em um ano, tendo a mesma causa: o preço dos combustíveis.

Primeiro presidente da Petrobras na gestão Bolsonaro, Roberto Castello Branco deixou o cargo em fevereiro do ano passado, sendo substituído pelo general da reserva Silva e Luna — que, até então, comandava a parte brasileira de Itaipu.

Política de preços

Com menos de um ano, efetivamente no cargo, Silva e Luna deixa o posto após Bolsonaro discordar da política de preço da estatal. Essa política repassa para o mercado interno as variações do dólar e do barril de petróleo. Este último, disparou por conta da guerra na Ucrânia, fazendo aumentar a pressão por reajustes nos combustíveis no País.

As sanções ocidentais à Rússia, causadas pela invasão da Ucrânia, fizeram o barril de petróleo disparar num primeiro momento (mesmo que agora esse valor já tenha voltado ao nível pré-guerra).

Por conta desse aumento, a Petrobras anunciou uma alta de 18,77% na gasolina e de quase 25% no óleo diesel, gerando uma insatisfação generalizada no governo e no Congresso.

Silva e Luna assumiu a estatal em abril de 2021. Na época, segundo a pesquisa de preços da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o litro da gasolina comum custava, em média, R$ 5,448 no País, e o do diesel, R$ 4,263. Na última pesquisa, o preço médio do litro da gasolina estava em R$ 7,21, uma alta de 32,3%, e o óleo diesel estava R$ 6,564 por litro, em média, no País, ou seja, alta de 54%.

Críticas de Bolsonaro

Bolsonaro fez diversas críticas à Petrobras, nas últimas semanas. Revelou que o governo federal não foi avisado, antecipadamente, que a Petrobras iria realizar um reajuste no preço dos combustíveis, que foi anunciado.

Bolsonaro disse que foi feito um pedido para que a empresa adiasse por um dia o aumento, mas afirmou que essa solicitação não foi aceita.

O presidente disse que o pedido foi feito de forma não oficial porque poderia classificar interferência na empresa:

— A (recusa da) solicitação feita, não oficialmente, porque não podemos interferir na Petrobras nem vamos interferir, de atrasar um dia o anúncio do pagamento, isso pegou muito mal aqui em Brasília.

Bolsonaro também classificou o reajuste como um “crime” cometido pela Petrobras.

— Por um dia, a Petrobras cometeu esse crime contra a população, esse aumento absurdo no preço dos combustíveis. Isso não é interferir na Petrobras, a ação governamental. É apenas bom senso. Poderiam esperar — disse.

A saída ocorre num momento de irritação de Bolsonaro com Silva e Luna, mesmo o presidente tendo sido aconselhado por auxiliares e ministros a mantê-lo no cargo.

Assessores vinham dizendo ao presidente que a troca do comando da empresa não teria efeito algum, já que o substituto não teria autonomia para mexer sozinho na política de preços da estatal.

A Petrobras transfere para o consumidor interno os custos do barril de petróleo no mercado internacional e da cotação do dólar. 

A política de preços está registrada em documentos internos e pela governança da Petrobras, que só podem ser alterados pelo Conselho de Administração (onde o governo tem maioria).

Militares do governo vinham conseguindo segurar Silva e Luna no cargo. Como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar, porém, esses ministros não gostaram da reação do presidente da Petrobras, Joaquim da Silva e Luna, e do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, às declarações de Bolsonaro sobre alta de preço dos combustíveis.

Vários desses ministros, especialmente, o general Braga Netto, têm repetido em conversas com aliados que Silva e Luna não cumpriu a missão para a qual foi convocado e não deveria estar respondendo ao presidente publicamente.

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