Bolsonaro recebeu minuta que previa golpe, aponta PF

O ex-presidente Jair Bolsonaro (Reprodução/Marcos Corrêa/PR)
Karina Pinheiro – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu, por meio de seu assessor direto, Filipe Martins, e pelo advogado Amauri Feres Saad, a minuta de um decreto “para executar um golpe de Estado”. As informações constam na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta manhã, a Polícia Federal deflagrou a Operação Tempus Veritatis, que apura uma tentativa de golpe de Estado por uma organização criminosa.

De acordo com o relatório da Polícia Federal (PF), a minuta detalhou supostas interferências do Judiciário, decretando a prisão de diversas autoridades. Em outros pontos, o relatório, citado de forma direta por Moraes, aponta reuniões entre militares de alta patente, da ativa e da reserva, que teriam o objetivo de debater aspectos operacionais do golpe. A PF também indica encontros no Palácio da Alvorada, com a participação de Bolsonaro, que teriam entre os temas em discussão a adesão de militares a um plano de golpe.

O ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (Alan Santos/PR)

A PF afirma que Bolsonaro teria pedido alterações no documento para retirar os nomes do ministro Gilmar Mendes e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Em dado momento, a PF afirma que Moraes “foi monitorado pelos investigados, demonstrando que os atos relacionados à tentativa de Golpe de Estado e Abolição do Estado Democrático de Direito estavam em execução”.

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A investigação menciona que Martins embarcou para os Estados Unidos juntamente com Bolsonaro no dia 30 de dezembro de 2022, no avião presidencial, sem passar pelos processos migratórios e teria retornado ao país meses depois, sem registros, “o que pode indicar que tenha se evadido do país para se furtar de eventuais responsabilizações criminais”, diz o relatório policial.

Leia também: Bolsonaro está proibido de sair do País e ter contato com investigados
Reunião convocada por Bolsonaro

Uma reunião convocada pelo próprio ex-presidente com membros da alta cúpula do governo federal foi realizada no dia 5 de julho de 2022, conforme aponta o relatório. Neste encontro, Jair Bolsonaro teria cobrado aos presentes para disseminar informações falsas sobre supostas fraudes nas eleições em nome de seus cargos.

Um vídeo contendo a gravação da reunião foi encontrado em um dos computadores apreendidos do ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, que fechou acordo de delação premiada com a PF, após sua prisão preventiva ter sido realizada sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

No vídeo, o general Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), cita uma “virada de mesa” em relação às eleições. “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse, segundo relatório da PF.

Bolsonaro teria insistido que as eleições de 2022 teriam sido fraudadas. “Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada!”

Planejamento do golpe

Após a reunião realizada, uma sequência de eventos teria sido feita para o planejamento do golpe, que foi descrita nas mensagens extraídas dos celulares de Mauro Cid. O ajudante de ordens de Jair assumiu a coordenação da disseminação de ataques à Justiça Eleitoral.

Com a derrota de Bolsonaro, a fase de planejamento teria se iniciado para uma ação mais efetiva das tropas do Exército. O coronel Bernardo Romão Correia Neto, por exemplo, teria organizado uma reunião em 28 de novembro, em Brasília, com oficiais que aderiram ao golpe para um planejamento operacional.

Em seguida, Correia Neto enviou a Cid a minuta de um documento chamado “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, que teria sido redigido na reunião com o objetivo de pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao movimento golpista.

Revisado por Gustavo Gilona
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