Com informações do InfoGlobo
BRASÍLIA – O Brasil não tem feito o dever de casa para impedir o aumento da temperatura do planeta, na avaliação de ambientalistas. O processo pode se tornar irreversível na próxima década, alertou o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climáticas (IPCC) divulgado na segunda-feira, 10. A tarefa mais importante no país seria a redução do desmatamento para diminuir emissões de gases de efeito estufa pelo país. Só a devastação na Amazônia e no Cerrado responde por 44% das emissões nacionais, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.
Especialistas ouvidos pelo GLOBO listam algumas medidas urgentes a partir dos cenários apresentados pelo IPCC. As sugestões são real compromisso com acordos climáticos, retomada e maior fiscalização de desmatamento, melhor uso de pastagens abandonadas ou subutilizadas, cuidados com a escassez de água e investimento em fontes renováveis de energia.
“Não são medidas exatamente novas, mas hoje andamos para trás”, diz Suzana Kahn Ribeiro, vice-diretora da Coppe-UFRJ e integrante do IPCC. — O Brasil tem um perfil diferente do resto do mundo, em que os combustíveis fósseis são a principal causa de emissões. Aqui a liderança é do desmatamento, do uso do solo para expansão da fronteira agrícola.
Com a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), de 2009, o Brasil se comprometeu a reduzir emissões de gases do efeito estufa entre 36,1% e 38,9%, em relação ao que havia sido projetado até 2020. Também deveria diminuir o desmatamento em 80% em relação à média para o período 1996-2005, o que equivaleu a 3.925 quilômetros quadrados por ano. Mas a devastação anual no país já ultrapassou os 10 mil quilômetros quadrados, e a tendência é de alta no desmatamento e nas emissões.
— A política de clima foi abandonada — lamenta Carlos Rittl, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade de Potsdam, na Alemanha.
Recuo com novo cálculo
Também houve retrocesso com o previsto no Acordo de Paris em 2015, de acordo com pesquisadores. O Brasil deveria diminuir as emissões em até 37% até 2025, em relação aos níveis de 2005, com extensão da meta para 43% até 2030. Mas o governo refez os cálculos do ano-base de 2005 e as emissões foram revistas para cima, o que elevou também o limite de emissões, afirmam.
— Derrubar o desmatamento é fundamental para o Brasil contribuir na redução das emissões. E isso pode começar pelo desmatamento legal, que representa no mínimo 50% do que ocorre em terras públicas. Fora o ilegal dentro de propriedades — defende Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Para Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB) e do Grupo Consultivo para a Crise Climática, a escassez de água doce é outro ponto de atenção negligenciado:
“Não podemos tratar rios e córregos como latas de lixo”.
Ambientalistas avaliam que será difícil reinserir o Brasil na agenda de clima e meio ambiente durante o Governo Bolsonaro.
“Ainda vai ter muito trabalho de reconstrução, e diálogos com a sociedade refeitos”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Depois da divulgação do IPCC, os ministérios da Agricultura e Meio Ambiente reforçaram que têm metas de redução de gases do efeito estufa.
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