Brasil chega à trágica marca de 600 mil mortes por Covid-19

A Organização Não Governamental estendeu em um varal na areia, em frente ao Copacabana Palace, com 600 lenços brancos (Foto: Hermes de Paula/ Agência O Globo)

Com informações do InfogloboSÃO PAULO — O Brasil chegou, nesta sexta-feira, 8, à marca de 600 mil vidas perdidas para a Covid-19, pouco mais de três meses e meio após atingir meio milhão de mortos. O intervalo maior entre as tristes efemérides indica que o pior momento ficou para trás.  

Ainda são registrados, diariamente, 500 óbitos pela doença. Mortes que jamais serão esquecidas. Na manhã desta sexta-feira, 8, uma das mais bonitas manifestações ocorreu no Rio de Janeiro. Um ato da ONG Rio de Paz na Praia de Copacabana lembrou os 600 mil óbitos pela Covid-19, no Brasil. A Organização Não Governamental (ONG) estendeu em um varal na areia, em frente ao Copacabana Palace, com 600 lenços brancos. No entanto, há uma queda sucessiva no número de casos e mortes, além de estagnação na taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) em patamares baixos na maioria dos Estados brasileiros, como indica boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz divulgado nesta quinta-feira, 7.

O geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba, avalia que a situação no Brasil está melhor.   

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“Vejo o início do fim da pandemia. Ainda estamos no túnel, mas já enxergamos uma luz no fim e dá para fazer uma estimativa sobre quanto tempo estamos dessa luz. Não deve acontecer de novo o que aconteceu em abril e março passados. Mesmo que surja uma nova variante, a situação agora é diferente, temos as vacinas e elas estão avançando, melhorando”, afirma.

Um dos grandes motivos para o enfraquecimento da pandemia foi a vacinação, que engrenou no País. A forte aceitação da vacina fez avançar a imunização total para quase 45% dos brasileiros, o que reflete também na redução drástica nos números hospitalização – ao menos sete Estados estão com queda de 70% ou mais nas internações.  

Mais protegidos, os brasileiros estão claramente otimistas em relação aos próximos tempos de pandemia.

Adriana Mafra Torelli, de 50 anos, teve perdas muito importantes ano passado – o sogro, aos 83 anos, e o marido, aos 53. Imunizada, ela diz que agora se permitiu flexibilizar o isolamento, para além de sua atividade profissional. No começo do mês, saiu pela primeira vez para conversar com uma amiga e tomar um drinque. Os próximos planos contemplam participar de um cruzeiro em que há atividades musicais em alto-mar.

“Apesar de quebrada, tenho dois filhos para cuidar, sei que tenho uma vida inteira pela frente. Brinco que vou viver até os 105 anos e, como tenho 50, comecei tudo de novo agora, estou engatinhando e agora com mais segurança”, afirma.

Segundo a Fiocruz, desde julho, o Índice de Permanência Domiciliar se encontra próximo de zero, o que significa que já não há mais diferença na intensidade de circulação de pessoas nas ruas em comparação ao que era observado antes da pandemia.  

“Mas é importante ter toda calma nessa hora. Agora que as coisas estão indo bem, não precisa ter tanta pressa. O importante é manter essa direção. Ainda temos que completar algumas lições de casa, como cobertura vacinal completa e cuidados para evitar a infecção”, diz Raskin. 

Entre os cuidados, está o afrouxamento no uso de máscara, que deve ser gradual. O que deve ocorrer, é que ela seja dispensada em ambientes abertos, como praias ou parques, mas mantida no transporte público e outros ambientes fechados, como supermercados. Depois, ela passará a ser um acessório que cada pessoa poderá adotar em situações em que se sintam mais vulneráveis. Tudo isso, no entanto, só em 2022. Por enquanto, as máscaras são fundamentais para controlar a transmissão do vírus, que segue elevada.

Controle 

Pesquisadores de todo o mundo tentam estabelecer quais critérios científicos serão usados para declarar que a pandemia passou a ser uma epidemia. A professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, que tem pós-doutorado em epidemiologia pela Universidade Johns Hopkins, diz que um dos valores considerados seria um caso da doença para cada 100 mil habitantes, com entre 600 e 900 mortes por ano, como ocorre com a influenza. Valores dos quais ainda estamos muito distantes.  

“Quando tivermos mais de 80% da população vacinada acredito que vamos ver um impacto importante”, afirma a epidemiologista.  

Segundo Maciel, há muitas variáveis a serem consideradas, inclusive algumas que ultrapassam nossas fronteiras. Com uma parte do mundo ainda não imunizada, o risco de novas variantes é uma realidade. Na África, por exemplo, a cada 100 pessoas apenas sete estão vacinadas. Por isso, as vacinas são fundamentais.

“Quando se pensa em pandemia é preciso ter em mente que não basta olhar para o nosso quintal. Todos os quintais têm que estar sendo cuidados”, diz. No entanto, mesmo que surja uma cepa que escape às vacinas, hoje temos mais margem para uma ação rápida.  Muito em breve deverá ser parecido com o que fazemos para gripe. Remodelar a vacina de acordo com as variantes que estão circulando no momento.

Há poucos meses a preocupação maior dos especialistas era com a variante Delta, que teve impacto profundo no Reino Unido, EUA e Israel. Presente no Brasil de forma mais generalizada desde agosto, a cepa, no entanto, não provocou algo semelhante aqui.

“Fui acompanhando nos EUA o medo da chegada da Delta e a onda de novos casos e mortes. Aqui, no Brasil, simplesmente não aconteceu esse impacto e o tempo já passou. Não estamos livres, mas não aconteceu. Não acho que foi pela vacinação, porque na época não tínhamos grande cobertura de esquema vacinal completo e a Delta não respeita uma dose só. Acho que foi pela Gama. Aconteceu um fenômeno biológico que a meu ver tem tudo a ver com a Gama, que não perdeu a briga para a Delta, enquanto a Alfa perdeu”, explica Salmo Raskin. 

Outro aspecto que pode ter sido relevante, além da vacinação, segundo o geneticista, é temporal: a chegada da temida variante ocorreu poucos meses após o pico da pandemia no Brasil, de forma que mais gente estava com a imunidade alta após ter sido infectado naquele momento.

Nos EUA, a Delta ainda é explosiva principalmente em razão de grandes bolsões de pessoas não vacinadas. Embora a vacinação tenha aumentado muito no país no primeiro semestre, ela avança de forma impressionantemente lenta nos últimos meses (veja gráfico). Raskin, que morou alguns anos no Estado americano do Tennessee, não se surpreende:   

“Entra uma questão comportamental. O Brasil tem tradição de vacinas, todos estamos acostumados. Os EUA têm o triplo de vacina que precisam e você pode ir na farmácia da esquina se vacinar. Mas lá a campanha antivax é antiga, muito anterior a esse momento. É uma vergonha histórica para o País. Estão em torno da posição 40 no ranking de vacinação e cada vez mais países passam. Mostra a fragilidade do sistema de saúde americano e comportamental”.

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