Caso Emanuela Orlandi: papa Francisco diz que acusações contra João Paulo 2° são infundadas e ofensivas

O polonês Karol Wojtyla, nome de batismo de João Paulo 2°, liderou a Igreja Católica de 1978 a 2005 (Remo Casilli/Reuters)
Da Revista Cenarium*

CIDADE DO VATICANO | REUTERS – O papa Francisco disse, neste domingo, 16, que são infundadas e ofensivas as insinuações sobre o envolvimento de seu antecessor João Paulo 2° no caso de uma jovem desaparecida há 40 anos.

Em junho de 1983, Emanuela Orlandi, então com 15 anos, não voltou para casa depois de uma aula de música em Roma — à época, ela morava com a família na Cidade do Vaticano. O caso nunca foi esclarecido e é alvo de uma série de teorias conspiratórias em torno da Santa Sé.

Na última terça-feira, 11, Pietro Orlandi, irmão de Emanuela, se encontrou com o promotor de Justiça do Vaticano, Alessandro Diddi, que em janeiro decidiu reabrir a investigação sobre o desaparecimento após pedidos da família.

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Após conversar com o promotor, Pietro foi a um programa de televisão, na Itália, e reproduziu parte de uma gravação. No áudio, um homem não identificado diz que meninas foram levadas ao Vaticano para serem molestadas e que o papa João Paulo 2° sabia do escândalo.

Papa Francisco discursa na praça de São Pedro, no Vaticano (Simone Risoluti/Mídia do Vaticano)

Segundo Pietro, o homem que gravou o áudio faz parte de um grupo do crime organizado que esteve envolvido no desaparecimento da irmã. “Disseram-me que Wojtyla [sobrenome do papa João Paulo 2°] costumava sair à noite com dois monsenhores poloneses e, certamente, não era para abençoar casas”, ele afirmou.

Os comentários causaram mal-estar e foram condenados por autoridades do Vaticano. Neste domingo, 16, o papa Francisco abordou o assunto diante de 20 mil pessoas na Praça São Pedro.

“Certo de que estou interpretando os sentimentos dos fiéis de todo o mundo, expresso um pensamento agradecido à memória de São João Paulo, que nestes dias tem sido objeto de insinuações ofensivas e infundadas”, disse o pontífice.

Andrea Tornielli, diretor editorial do departamento de comunicações do Vaticano, ecoou as declarações do papa argentino. Ele disse que as falas de Pietro representam uma “difamação desprezível”. Já o cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi secretário de João Paulo 2°, chamou-as de “ignóbeis, irrealistas, risíveis e criminosas”.

Leia também: Papa Francisco amplia normas contra abuso sexual na Igreja Católica a laicos

O polonês Karol Wojtyla, nome de batismo de João Paulo 2°, liderou a Igreja Católica de 1978 a 2005. Ele morreu naquele ano, aos 84 anos, e foi declarado santo em 2014.

No sábado, 15, o promotor Diddi convocou a advogada de Pietro Orlandi, Laura Sgro. À agência de notícias Reuters, ela disse que o papa João Paulo 2° não foi mencionado na conversa. “Eu nunca questionei a santidade dele”, afirmou.

Em outubro do ano passado, o serviço de streaming Netflix lançou “A Garota Desaparecida do Vaticano”, série que conta a história de Orlandi e explica as teorias que surgiram sobre o caso, nunca comprovadas.

Na série, o irmão de Orlandi diz que o papa Francisco teria declarado que ela “está no céu” — indicando, de acordo com a família, que o Vaticano sabe o que houve com a jovem. A produção da Netflix levanta, ainda, outras hipóteses: a de que a adolescente foi levada a Londres, onde permaneceu em um albergue católico até 1997, e a de que foi abusada por um membro do Vaticano dias antes de seu desaparecimento.

Desde que foi eleito, em 2013, Francisco vem tomando medidas para tentar erradicar abusos sexuais cometidos por clérigos. Em 2019, ele emitiu um decreto que tornou obrigatório que bispos e padres informem suspeitas de abusos sexuais, e permitiu a qualquer pessoa submeter denúncias ao Vaticano. Caso os bispos não informem os casos de abuso, podem ser considerados corresponsáveis pelos crimes que ocultarem.

Críticos afirmam que o pontífice não faz o suficiente, porém, o acusam de responder, lentamente, a escândalos, não ter empatia com as vítimas e acreditar, cegamente, na palavra de seus colegas clérigos.

(*) Com informações da Folhapress
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