Casos de violência política aumentam às vésperas das eleições; Especialistas atribuem à polarização entre candidatos

Toalhas de Bolsonaro e de Lula estampadas em centro comercial (Felipe Lucena/UOL)
Karol Rocha – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em meio a uma polarização política, os casos de violência entre eleitores aumentam no País. A escolha partidária entre os candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) tem aflorado os ânimos de eleitores. Especialistas consultados pela REVISTA CENARIUM apontam que, além da polarização entre candidatos, o Brasil possui uma “cultura política ainda muito imatura”.

A pesquisa “Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022”, publicada em setembro deste ano, revelou que 67,5% dos entrevistados têm medo de ser vítima de agressões físicas por causa de suas escolhas. O cientista político, André Rosa, afirma que o problema perpassa pela falta de maturidade política, no Brasil, e a violência, que segundo ele, não está ligado à polarização.

“A democracia do Brasil é muito jovem. Passamos por uma ditadura militar há poucas décadas e, nesse sentido, eu vejo como uma falta de cultura política ou uma cultura política ainda muito imatura, tendo em vista que em países onde se tem uma cultura política mais bem consolidada é natural que se tenha debates, mesmo que acalorados, mas que não cause tanta violência como acontece nos países sul-americanos”, aponta o cientista político.

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Ele comenta que a questão perpassa por todo um contexto sócio-histórico que vem desde os primeiros anos de escola, em que a política não é abordada. “É uma questão que vai desde a nossa educação política na escola que desenvolve adultos que, hoje, não conseguem discutir política sem ir para as vias de fato. O problema central é a cultura política que não é madura o suficiente no Brasil”, disse o especialista.

Para o cientista político Rócio Barreto, o discurso de ódio do atual presidente em relação às eleições agrava o clima entre os eleitores, principalmente, para os apoiadores. O especialista relembrou o discurso de Jair Bolsonaro, que em 1° de setembro de 2018 afirmou: “vamos fuzilar a petralhada”, em um evento de campanha em Rio Branco (AC). 

“Esse ano, as eleições estão polarizadas, no sentido que o próprio presidente da República, talvez de forma involuntária, incentiva esse tipo de violência quando ele diz, na televisão, sobre metralhar toda a petralhada. Então, um chefe de governo falar isso a gente entende que é uma provocação e um estímulo à sociedade que trabalha do lado dele a cometer tais tipos de situações”, analisou.

Ele avalia, ainda, que os próximos dias podem ser de registros de violências políticas pelo Brasil. “A tendência é piorar nesta semana das eleições, e até mesmo no dia das eleições pode haver situações mais complicadas”, disse.

Agressão

Na noite dessa terça-feira, 28, por exemplo, um apoiador do deputado federal pelo Amazonas, Zé Ricardo (PT), identificado como Jadir Augusto, 52 anos, foi agredido durante uma caminhada eleitoral ocorrida na rua Campo Grande, bairro Redenção, Zona Centro-Oeste da cidade.

O caso foi registrado no 17° Distrito Integrado de Polícia (DIP) ainda na noite de terça-feira, 27. Conforme o Boletim de Ocorrência (B.O), a vítima foi atingida na cabeça por um indivíduo de 58 anos que utilizava uma barra de ferro. Segundo o delegado Gerson Aguiar, titular da unidade policial, será realizado exame de corpo de delito na vítima, e, posteriormente, as partes envolvidas participarão de oitivas.

Nas redes sociais, o candidato à reeleição, deputado federal Zé Ricardo, condenou os ataques sofridos pelo apoiador. “Quero, aqui, manifestar a minha solidariedade ao companheiro Jadir que foi agredido, hoje, no nosso ato político, na Redenção, por um bolsonarista intolerante que o agrediu com uma barra de ferro. Nós não podemos aceitar a violência política”, protestou ele.

Eleitores x Agressão

Ainda no estudo “Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022 – Percepções sobre medo de Violência, Autoritarismo e Democracia”, 67,5% dos entrevistados têm muito medo (49,9%) um pouco de medo e (17,6%) de ser vítima de agressões físicas em razão de escolhas políticas ou partidárias. Apenas 32,5% dos ouvidos não temem ser atingidos pela violência no pleito deste ano.

A amostra indica que 113,4 milhões de brasileiros têm medo de sofrerem agressões físicas. Ao mesmo tempo, a pesquisa verificou que 3,2% dos brasileiros disseram ter sido vítimas de ameaças por razões políticas e 0,8% de violência física.

O estudo é uma iniciativa da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com apoio do Fundo Canadá para Iniciativas Locais (FCIL).

A pesquisa é uma parceria entre a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que tem por base dados coletados pelo Datafolha por meio de uma amostra de 2.100 pessoas entrevistadas entre os dias 3 e 13 de agosto de 2022 e avança em relação ao que tem sido debatido no espaço público sobre democracia, direitos e autoritarismo. Veja o estudo completo neste link.

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