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Cerrado fica menos resiliente às mudanças climáticas
Cerradão na Estação Ecológica de Assis, unidade de conservação do estado de São Paulo, tem alta densidade de árvores finas - Giselda Durigan/Unicamp
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06 de maio de 2024
Da Revista Cenarium*
SÃO PAULO – Com o acelerado processo de destruição do Cerrado e a falta de manejo adequado das áreas remanescentes do bioma, extensas porções do território brasileiro estão se transformando em cerradão —uma formação florestal pobre em biodiversidade, na qual espécies típicas do Cerrado se misturam com espécies generalistas, que ocupam matas de galeria e outras estruturas.
Cientistas se perguntam se o cerradão é capaz de preservar a biodiversidade do Cerrado ou se tende a evoluir para um tipo de floresta biodiversa, semelhante à mata atlântica —ou nem uma coisa nem outra.
Um estudo de longo prazo enfocou o tema. E investigou as mudanças registradas ao longo de 14 anos em 256 parcelas, totalizando uma área amostral de 10,24 hectares, em um cerradão localizado no interior de uma unidade de conservação do estado de São Paulo: a Estação Ecológica de Assis. O trabalho foi publicado no periódico Forest Ecology and Management.
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Concebido e supervisionado pela professora do IB-Unicamp (Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas) Giselda Durigan, o estudo faz parte do projeto de doutorado do primeiro autor, Francisco Ferreira de Miranda Santos. E, entre outros colaboradores, teve a participação de Ricardo Ribeiro Rodrigues, orientador de Miranda Santos.
O local estudado pelo grupo está protegido do fogo há pelo menos 60 anos e não se beneficiou, portanto, da realização de queimadas regulares criteriosas (com zoneamento da área total e cronograma de queima em datas apropriadas, em sistema de rodízio), que hoje se reconhece ser uma técnica de manejo da maior importância para a preservação do Cerrado.
Sem queimar durante todo esse tempo, as árvores se adensaram e cresceram: as modificações na estrutura da comunidade vegetal e na composição das espécies foram avaliadas pelo grupo da Unicamp.
Durigan enfatiza o empenho dos pesquisadores. “Estudos de dinâmica de florestas são, por natureza, demorados. As mudanças são lentas e é preciso esperar, pacientemente, que a floresta nos conte sua própria história. O desafio é compreender como os extremos de calor e frio, excesso ou falta de chuvas, vendavais, ou a simples competição entre as próprias árvores, disputando recursos como luz, água e nutrientes, vão direcionando as mudanças no tempo“, diz.
“Além da paciência, esses estudos exigem também disciplina e trabalho árduo para coletar dados em diferentes ocasiões. E, depois, inspiração e embasamento teórico para formular hipóteses e interpretar o que os dados mostram.”
O tamanho da área estudada (mais de dez hectares) e o número de árvores identificadas e medidas (mais de 20 mil) fizeram desse estudo um grande desafio.
“A cada ocasião de medição, uma equipe de quatro pessoas trabalhava cerca de um ano para medir novamente todas as árvores, substituir a numeração perdida, identificar e marcar novos indivíduos, encarando chuva, espinhos, carrapatos, bernes, buracos de tatus etc.“, conta.
“Depois, fazendo disso o objeto de seu doutorado em ecologia na Unicamp, Miranda Santos passou meses na frente do computador, organizando o gigantesco banco de dados, detectando inconsistências, atualizando a nomenclatura das espécies, pareando as medições feitas em diferentes ocasiões para saber a história de cada árvore.“
Esse relato é interessante porque ajuda a desfazer a falsa ideia de que o processo científico seja uma avenida reta. Depois que um estudo é publicado, exceto pelas dificuldades inerentes à linguagem técnica, tudo parece simples. Mas, para chegar a tal simplicidade, muito esforço é requerido.
Durigan conta que Miranda Santos e ela encararam juntos o desafio de corrigir um erro histórico na malha de coordenadas das 256 parcelas, que se arrastava desde o início e dificultava ainda mais o trabalho.
“Só tinha uma solução: entrar na mata, procurar as árvores numeradas dentro de algumas parcelas, mapear sua posição real e comparar com a posição delas no mapa. Foi assim que descobrimos que o erro era muito fácil de corrigir: bastava girar a malha de coordenadas 90° para a esquerda e tudo voltava ao seu devido lugar.“
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