Cientistas afirmam que Ártico está ficando mais úmido e tempestuoso

Iceberg próximo a Tasiilaq, na Groenlândia - (Lucas Jackson - 16.jun.2018/Reuters)
Da Revista Cenarium*

MANAUS — À medida que os seres humanos aquecem o planeta, a região ártica, outrora sempre frígida e congelada, está se tornando mais úmida e tempestuosa, com mudanças em seu clima e estações que estão forçando as comunidades locais, a vida silvestre e os ecossistemas a se adaptarem, disseram cientistas na última terça-feira, 13, em uma avaliação anual da região.

Embora 2022 tenha sido apenas o sexto ano mais quente já registrado no Ártico, os pesquisadores viram neste ano muitos novos sinais de que a região está mudando.

Uma onda de calor em setembro na Groenlândia, por exemplo, causou o derretimento mais severo da camada de gelo da ilha nessa época do ano, em mais de quatro décadas de monitoramento contínuo por satélite. Em 2021, uma onda de calor em agosto fez chover no topo da camada de gelo pela primeira vez.

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Iceberg próximo a Tasiilaq, na Groenlândia – Lucas Jackson – 16.jun.2018/Reuters

“Percepções sobre a região circumpolar são relevantes para o debate sobre o aquecimento do nosso planeta, hoje mais do que nunca”, disse Richard Spinrad, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). “Estamos vendo os impactos das mudanças climáticas acontecerem primeiro nas regiões polares.”

As temperaturas no Círculo Ártico têm subido muito mais rapidamente do que no resto do planeta, transformando o clima da região em algo menos definido por gelo marinho, neve e “permafrost” e mais por mar aberto, chuva e paisagens verdes.

Nas últimas quatro décadas, a região se aqueceu quatro vezes mais do que a taxa média global, não duas ou três vezes como se costuma relatar, disseram cientistas finlandeses neste ano. Algumas partes do Ártico estão se aquecendo até sete vezes mais que a taxa global, segundo eles.

Quase 150 especialistas de 11 países compilaram a avaliação deste ano das condições do Ártico, o Arctic Report Card, que a NOAA produz desde 2006. O boletim deste ano foi divulgado na terça-feira em Chicago em uma conferência da União Geofísica Americana, a sociedade de cientistas da terra, atmosféricos e oceânicos.

O aquecimento no topo da Terra eleva o nível do mar em todo o mundo, muda a forma como o calor e a água circulam nos oceanos e pode até influenciar eventos climáticos extremos, como ondas de calor e tempestades, dizem os cientistas. Mas as comunidades do Ártico sentem os impactos primeiro.

“Nossas casas, meios de subsistência e segurança física estão ameaçados pelo rápido derretimento do gelo, o aquecimento do permafrost, mais calor, incêndios florestais e outras mudanças”, disse Jackie Qatalina Schaeffer, autora de um capítulo no boletim sobre comunidades locais, diretora de iniciativas climáticas do Consórcio de Saúde Tribal dos Nativos do Alasca e uma nativa inupiaq de Kotzebue, no Alasca.

Entre outubro de 2021 e setembro deste ano, as temperaturas do ar acima das terras do Ártico foram as sextas mais elevadas desde 1900, disse o relatório, observando que os últimos sete anos foram os mais quentes. O aumento das temperaturas ajudou plantas, arbustos e gramíneas a crescerem em partes da tundra ártica, e 2022 viu níveis de vegetação verde que foram os quartos mais altos desde 2000, particularmente no Arquipélago Ártico Canadense, no norte de Quebec e na Sibéria central.

Três fatores principais podem estar aumentando a precipitação em diferentes partes do Ártico, disse John Walsh, cientista do Centro Internacional de Pesquisa do Ártico na Universidade do Alasca em Fairbanks e também autor do boletim. Primeiro, o ar mais quente pode conter mais umidade. Em segundo lugar, à medida que o gelo marinho recua, as tempestades podem sugar mais água oceânica aberta.

Os indicadores de gelo marinho se recuperaram neste ano após quase recordes de baixa em 2021, mas ainda estavam abaixo das médias de longo prazo, constatou a avaliação. Março é normalmente quando o gelo está em sua maior extensão todos os anos, e em setembro é a menor. Em ambos os pontos neste ano, os níveis de gelo estavam entre os mais baixos desde que os satélites fazem medições confiáveis.

O terceiro fator é que as tempestades estão passando por águas mais quentes antes de chegar ao Ártico, alimentando-as com mais energia, disse Walsh. Os remanescentes do tufão Merbok viajaram sobre águas excepcionalmente quentes no norte do Pacífico em setembro, antes de atingir comunidades ao longo de mais de 1.600 quilômetros na costa do Alasca.

A camada de gelo da Groenlândia diminuiu nos últimos 25 anos, e em 2022 não foi diferente. Mas o que chamou a atenção dos cientistas foi um aumento extraordinário de derretimento em setembro, o tipo de evento que normalmente seria visto no meio do verão.

No início de setembro, um sistema de alta pressão trouxe ar quente e úmido que elevou as temperaturas em partes da Groenlândia até 2,22°C acima do normal para aquela época do ano. Mais de um terço da camada de gelo derreteu, de acordo com o boletim. No final daquele mês, os remanescentes do furacão Fiona percorreram a ilha e causaram o derretimento de mais de 15% da camada de gelo.

(*) Com informações da Folhapress

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