Com Auxílio Brasil em alta, Bolsonaro reduz verbas de outros programas sociais

Governo destina menos verba para ações de saúde, educação e moradia voltadas aos mais pobres (Sergio Lima/AFP)

BRASÍLIA – De olho na campanha à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) turbina o Auxílio Brasil, mas o governo acumula resultados negativos em outros programas sociais. A verba para habitação, saúde e educação da população mais pobre tem passado por sucessivos cortes ao longo da gestão bolsonarista.

Marcas petistas como o Farmácia Popular e o Fies registram queda no orçamento desde que Bolsonaro assumiu o mandato. Até o programa Casa Verde e Amarela – vitrine criada por ele na construção de moradias – não foi poupado.

A redução nos recursos para esses projetos na área social tem consequências. O número de casas entregues nos anos Bolsonaro recua. A quantidade de farmácias credenciadas para atender a população de baixa renda também caiu.

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A exceção é o programa de transferência de renda, o Auxílio Brasil, criado no ano passado para dar a Bolsonaro um legado social e substituir a forte marca petista do Bolsa Família.

Numa coalizão entre a equipe econômica e a ala política do governo, o Auxílio Brasil foi desenhado para quebrar recordes de famílias atendidas e valores transferidos, mesmo que isso exija driblar regras de controle de gasto público.

Em mais um desses acordos, o governo espera aprovar nesta semana uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que cria novos benefícios sociais, apesar das limitações legais em ano eleitoral, além de ampliar o valor do Auxílio Brasil para R$ 600 e zerar a fila de espera do programa.

Enquanto isso, a principal iniciativa nos últimos anos para tentar reduzir o déficit habitacional no País enfrenta um cenário bem diferente. O Casa Verde e Amarela tem um orçamento de R$ 1,2 bilhão neste ano – o menor da história.

De 2009 a 2018, a média destinada ao antecessor do programa habitacional (Minha Casa, Minha Vida) se aproximava de R$ 12 bilhões por ano. No primeiro ano do Governo Bolsonaro, o presidente recebeu um Orçamento prevendo R$ 5 bilhões para esses projetos voltados à moradia para a população de baixa renda.

Com o aperto na verba, menos unidades habitacionais são contratadas para serem construídas. São cerca de 350 mil, por ano, sob Bolsonaro. Entre 2014 (quando a situação das contas públicas se agravou) até 2018, foram 438 mil, por ano, em média.

Em relação às casas entregues, são 410 mil, por ano, no atual governo. Entre a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o período de Michel Temer, a média foi de 544 mil por ano.

“Em razão do cenário de restrição orçamentária, o programa Casa Verde e Amarela foi impactado, assim como outros programas do governo”, afirma o Ministério do Desenvolvimento Regional, responsável por gerir essa área.

A pasta diz, então, que passou a priorizar a conclusão de obras que estavam paralisadas – das 180 mil unidades habitacionais que estavam paradas, 130 mil foram retomadas. Além disso, promoveu um corte nos juros do programa para o menor patamar da história.

A marca de Bolsonaro, na área habitacional, porém, acabou com a faixa do “Minha Casa, Minha Vida” que atendia as famílias de renda mais baixa e que poderiam assinar contratos com subsídio de até 90% do valor do imóvel, sem juros.

Para Sérgio Praça, professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais da FGV, o presidente Bolsonaro prioriza o programa Auxílio Brasil por ser um gasto social capaz de gerar dividendos eleitorais de forma mais imediata.

“Ele [Bolsonaro] é a cara do Auxílio Brasil, a cara desse aumento [no benefício]. Assim, ele consegue tomar crédito político alto por isso. Manter o orçamento de outros programas [sociais] seria ótimo para a população, mas isso tem menos impacto na campanha política”, disse o professor.

Com a PEC e as expansões anteriores no programa de transferência de renda, o presidente, segundo Praça, tenta cristalizar o cenário de que a corrida ao Palácio do Planalto seguirá para o segundo turno – apesar da vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto.

Criado para distribuir remédios gratuitos ou com descontos à população de baixa renda, o programa Farmácia Popular foi reduzido na gestão de Bolsonaro.

Desde 2020, primeiro ano da pandemia, são cerca de 20 milhões de beneficiários no programa. Isso representa 1,2 milhão a menos que no ano anterior. A cobertura já foi de 22,8 milhões sob Temer.

O Farmácia Popular distribui medicamentos básicos, gratuitamente, para hipertensão, diabetes e asma por meio de farmácias privadas conveniadas. Remédios para controle de rinite, mal de Parkinson, osteoporose e glaucoma, além de anticoncepcionais, são vendidos com desconto de até 90%.

A quantidade de farmácias também caiu para cerca de 30 mil unidades. No início do atual governo, eram 31 mil. Em 2015, auge da rede de atendimento, havia 34,6 mil farmácias.

O Ministério da Saúde diz que “não houve redução no orçamento do programa, considerando os valores previstos na LOA [ou seja, no Orçamento]”.

No entanto, por causa da inflação, a redução na verba chega a quase 25% na comparação com 2018. Os recursos, corrigidos pela inflação, recuaram de R$ 3,2 bilhões para R$ 2,4 bilhões (valor previsto para esse ano de eleição).

A pasta da Saúde reforça que o programa tem o objetivo de complementar a distribuição de medicamentos, cujo principal acesso é pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) ou farmácias municipais.

Na área educacional, o Fies – programa para estimular o acesso da população de baixa renda ao Ensino Superior – também perdeu espaço. O orçamento dessa iniciativa foi reduzido de R$ 22 bilhões em 2018 para R$ 5,5 bilhões neste ano. Procurado, o Ministério da Educação não se manifestou sobre o corte.

Técnicos dizem que o Fies cresceu de forma desordenada sob Dilma e, por causa da crise nas contas públicas, regras mais rígidas para a concessão de financiamentos foram adotadas no Governo Temer. O objetivo é reduzir a inadimplência.

No programa, parte das mensalidades de estudantes em universidades privadas são pagas pelo governo. Em troca, os beneficiários precisam quitar o financiamento após a formatura.

Desde 2020, o número de contratos assinados tem sido praticamente a metade da quantidade de vagas oferecidas.

Principais programas sociais do governo

Auxílio Brasil

  • Como funciona? Beneficiário recebe valor mensal para superar a faixa de pobreza ou extrema pobreza.
  • O que tem acontecido no Governo Bolsonaro? Programa substituiu o Bolsa Família e, desde que foi criado, tem sido priorizado. É a aposta da ala política para alavancar campanha à reeleição. Número de famílias atendidas e o valor transferido têm batido recordes e devem registrar novas marcas após a PEC que libera bilhões para benefícios sociais.

Casa Verde e Amarela

  • Como funciona? Financiamento com juros reduzidos para construção de moradias, especialmente, para população de baixa renda.
  • O que tem acontecido no Governo Bolsonaro? Programa substituiu o “Minha Casa, Minha Vida”. Mas verba tem sido reduzida nos últimos anos e é a menor da história em 2022. Número de unidades contratadas e entregues caiu na atual gestão, apesar do corte nas taxas de juros.

Farmácia Popular

  • Como funciona? Distribui medicamentos básicos gratuitamente para hipertensão, diabetes e asma por meio de farmácias privadas conveniadas. Remédios para controle de rinite, mal de Parkinson, osteoporose e glaucoma, além de anticoncepcionais são vendidos com desconto.
  • O que tem acontecido no Governo Bolsonaro? Verba do programa não é corrigida pela inflação desde o início da atual gestão. Com isso, orçamento tem perda de 25% nos últimos anos. Número de beneficiados pelos medicamentos e número de farmácias caiu.

Fies

  • O que é? Programa de concessão de financiamento a alunos de ensino superior.
  • Como funciona? Governo paga parte de mensalidades e aluno quita o financiamento após formatura.
  • O que tem acontecido no Governo Bolsonaro? Orçamento do programa foi drasticamente reduzido nos últimos anos por causa de regras mais rígidas para concessão dos financiamentos.
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