Conheça a planta nativa do Brasil que pode substituir a cannabis na extração do canabidiol

A Trema micrantha blume é uma planta nativa brasileira (Reprodução/Internet)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – A “Trema micrantha blume”, planta nativa do Brasil, também conhecida como pau pólvora, periquiteiro, candiúva, candiúba, taleira, motamba, gurindiba, curindiba ou seriúva, possui canabidiol (CBD). É o que descobriram pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no estudo divulgado na última semana.

A substância, até então presente somente na Cannabis sativa, nome científico da maconha, pode ampliar o uso do CBD para fins medicinais. Isso porque o canabidiol encontrado nos frutos e flores da Trema não possui tetrahidrocanabinol (THC), elemento de efeito psicoativo presente na maconha, que é proibida no País por conter efeitos alucinógenos.

Para o coordenador da pesquisa, Rodrigo Soares Moura Neto, do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ, o uso da Trema micrantha blume na extração de canabidiol seria a solução para as barreiras da legislação brasileira impostas, atualmente, à Cannabis. No ano passado, o Conselho Federal de Medicina (CFM) determinou a prescrição do CBD somente para tratamento de epilepsias na infância e na adolescência.

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Rodrigo Soares Moura Neto, da UFRJ, coordena os estudos com a Trema micrantha blume (Reprodução/Conselho Federal de Biologia)

“No caso da planta brasileira, isso não seria um problema, porque não existe nada de THC nela. Também não haveria a restrição jurídica de plantio, porque ela pode ser plantada à vontade. Na verdade, ela já está espalhada pelo Brasil inteiro. Seria uma fonte mais fácil e barata de obter o canabidiol”, explicou o pesquisador.

Sobre a Trema micrantha blume

A Trema micrantha blume está presente em todo o continente americano e, no Brasil, é mais abundante nas regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste. Capaz de florescer todos os anos, ela cresce rapidamente e pode se transformar em uma árvore de 20 metros de altura quando alcança a fase madura.

No País, os povos originários utilizam as folhas da planta para fins medicinais, visto que ela possui propriedades cicatrizantes e analgésicas. O caule e os galhos oferecem uma fibra, usada na confecção de itens como cestos e cordas.

Além disso, a Trema é uma espécie utilizada em ações de reflorestamento e recuperação de solos degradados. A planta também fornece matéria-prima que serve para a fabricação de pólvora.

A Trema micrantha blume (Reprodução/Alan Franck)

Canabidiol no tratamento da dor

O canabidiol faz parte da vida de pacientes diagnosticados com diferentes tipos de doenças, como Alzheimer e Parkinson, além daqueles que fazem tratamento de epilepsia. Uma pesquisa recente, divulgada em maio deste ano pela revista BMJ Supportive & Palliative Care, mostrou que a substância pode ser receitada com segurança para pessoas que sofrem com dores causadas pelo câncer.

Cientistas constataram que a prescrição reduz, significativamente, a necessidade de analgésicos e opioides. “Nossos dados sugerem um papel para a cannabis medicinal como uma opção segura e complementar de tratamento em pacientes com câncer que não conseguem alcançar o alívio adequado da dor por meio de analgésicos convencionais, como os opioides”, relataram os pesquisadores em nota.

Dor oncológica

À REVISTA CENARIUM, o médico oncopediatra Henrique Samuel Carvalho de Albuquerque afirmou que, no caso de pacientes com câncer, a dor oncológica possui diversos aspectos, entre os principais, o físico, o mental e o social. Ele ressalta que a dor e todos os fatores que podem levar a sua piora ou melhora, podem estar presentes em qualquer fase da doença e, como cada ser humano é único, a percepção da dor é individual e subjetiva, o que torna a dor oncológica complexa e multicausal.

“Tem área da dor física, a exemplo das dores causadas pelas lesões secundárias à doença, temos a área da dor mental, muito abrangente, que pode ser composta por questões com a realização da finitude, alterações no humor, perda de sonhos e ânsia por redesignação perante o mundo e a área da dor social, onde pode ocorrer a perda da posição de provedor e cuidador para o status de ser o provido e que demanda cuidados”, explicou.

Leia mais: Cannabis medicinal: pesquisa garante potencial terapêutico da substância
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