Consciência Negra: ‘valorização civilizatória africana e seus descendentes na configuração do País’

Dia 20 de novembro: A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares (Thiago Alencar/CENARIUM)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – No dia 20 de Novembro é comemorado, no Brasil, o Dia Nacional da Consciência Negra. A data tem o papel de jogar luz sobre a resistência do povo negro e dar maior visibilidade à busca por igualdade, direitos e contra o racismo. Em meio a tantos avanços, o racismo ainda está presente na sociedade brasileira e precisa ser falado e discutido nas escolas, no Congresso Nacional e no dia a dia da população.

A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os Estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil. Neste dia, em 1695 (há 327 anos), Zumbi, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, foi morto por bandeirantes.

Monumento de Zumbi dos Palmares na Praça da Sé, Pelourinho, Salvador (Reprodução/Flickr)

O historiador Juarez da Silva explica que a data partiu de uma iniciativa do ativismo em ter um dia mais significativo que o da abolição malfeita, o 13 de maio. O 20 de novembro foi acolhido como algo a mais. “É importante, pois chama a atenção para a necessidade geral de se entender a questão negra e tudo que ela implica, bem como a valorização da contribuição civilizatória africana e dos seus descendentes na configuração do País”, afirma o historiador.

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Historiador Juarez da Silva (Raphael Alves/TJAM)

Já para o presidente do Movimento Igualdade, Christian Rocha, é uma data importante para o povo brasileiro refletir no que fez com seres humanos em relação à cor da pele, bem como levá-los a repensar que atitudes do passado não podem se repetir. A consciência negra é o oposto daquilo que falam sobre ter a consciência humana.

“Se os movimentos de negritude pregam por políticas públicas e por justiça, é porque teve exclusão e impedimento de direitos básicos. Então, a data nos traz as lembranças ruins de que negros foram impedidos de terem terra e estudar. Daqui desses princípios, já podemos imaginar o porquê de o País continuar segregando, de forma oculta, porém, não mais tão disfarçada”, explicou Rocha.

Presidente do Movimento Igualdade, Christian Rocha (Reprodução)

Avanços x preocupações

Juarez da Silva lembra, ainda, de avanços que a comunidade já teve, mas o historiador salienta que as preocupações e demandas são variadas. O racismo é uma estrutura que atua de variadas formas para prejudicar e embarreirar as pessoas negras na sociedade.

“Avanços foram vários. A criminalização do racismo, o reconhecimento por parte do Estado do prejuízo da população negra, o estabelecimento de políticas afirmativas diversas e práticas para a correção das desigualdades seculares. Seja de maneira simbólica, seja efetiva. Então, sim, o racismo ainda é um grande problema”, concluiu Juarez da Silva.

Christian Rocha destaca o avanço das políticas públicas. Os negros galgando cargos, antigamente, inimagináveis, ocupando espaço por sua luta e dedicação e, principalmente, por uma dívida histórica e irreparável. Já para ele, as preocupações são a falta de leis.

“Temos as instituições e os meios de comunicação como a força das nossas vozes. Que o Brasil se encaixe de verdade! Que delírios precisam ser remediados com políticas públicas e o funcionamento das leis. Essa coisa de racismo preocupa. A volta de discursos sobre o regime militar, isso é o que mais me preocupa, a falta de leis que possam deixar esse País mais humano, com acesso à educação, saúde e segurança para todos”, disse Rocha.

Democracia racial

Para a defensora pública Elânia Cristina Fonseca do Nascimento, que atua na Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), embora ainda se tenha uma ideia que o Brasil seja um País com uma democracia racial, muitos estudos apontam que o racismo ainda se encontra presente em nosso meio.

“É uma ideia que foi fundida no imaginário brasileiro, mas quando se observa a sociedade não há evidências dessa democracia. O número de professores universitários, médicos, atores do sistema de justiça ainda é muito inexpressivo, ou seja, a representatividade quase não existe em um País onde mais de 60% da população é negra”, destaca ela.

Defensora pública do Amazonas Elânia Cristina Fonseca do Nascimento (Reprodução)

Ainda segundo Elânia, membro também da Associação dos Defensores Públicos do Estado do Amazonas (Adepam), a defensoria possui um papel importante nessa luta, pois, ela é responsável pela promoção dos direitos humanos e, constitucionalmente, foi lhe dada esse dever.

“Quando se fala no artigo 5° da Constituição que se deve lutar contra qualquer tipo de preconceito, isso inclui o preconceito racial. Nesse âmbito, a defensoria sempre estará na luta por mais inclusão de pessoas negras dentro da sociedade”, destaca a defensora.

Racismo x injúria racial

Racismo: Previsto na Lei N° 7.716/1989. O racismo é um crime contra a coletividade e não contra uma pessoa específica. Realizado por meio da verbalização de uma ofensa ao coletivo, ou atos como recusar acesso a estabelecimentos comerciais, ou elevador social de um prédio, é inafiançável e imprescritível. A pena vai de um a três anos de prisão, além de multa.

Injúria Racial: Ela está especificado no Código Penal – artigo 140, terceiro parágrafo. É quando uma ou mais vítimas são ofendidas pelo uso de “elementos referentes à raça, cor, etnia, religião e origem”. É um crime inafiançável, com pena de reclusão de um a três anos, também com multa. A prescrição é de oito anos, ou seja, o processo precisa ser aberto dentro desse período.

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