Corecon do Amazonas contesta título de Dilma Rousseff: ‘Escolha política’

Dilma Rousseff foi escolhida como "Mulher Economista 2023". (Edição: Mateus Moura/Revista Cenarium Amazônia)
Marcela Leiros e Adrisa De Góes- Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – O Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM) publicou nesta sexta-feira, 15, nota de esclarecimento na qual afirma que não participou da votação que elegeu a ex-presidente do Brasil e economista Dilma Rousseff como Mulher Economista 2023, do Conselho Federal de Economia (Cofecon). O documento, assinado pelo presidente do conselho, Marcus Evangelista, dividiu profissionais da categoria, inclusive dentro da própria instituição.

Dilma — atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) — foi eleita Mulher Economista 2023 pelo Sistema Cofecon/Corecons, que reúne o Conselho Federal de Economia e os Conselhos Regionais de Economia. A decisão foi tomada durante a 729ª Plenária Ordinária do Cofecon, realizada no último sábado, 9.

À REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, Evangelista apontou que a escolha do Cofecon pelo nome da ex-presidente foi política. “Infelizmente, o sistema Cofecon/Corecons virou extensão de partido político. Vieram vários nomes, todos partidários, e optamos em não votar em nenhum“, declarou. “O Cofecon cometeu um erro em divulgar que os Corecons indicaram a Dilma, porém, sabe-se que foi uma decisão interna e não dos conselhos“.

Na nota, o Corecon afirmou que “o prêmio foi concedido sem participação” do órgão regional, que se absteve de votar. Foram sete votos pela abstenção e um voto pela indicação de Rousseff.

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Na época da votação, a Plenária do Corecon-AM por maioria de votos dos conselheiros efetivos presentes se manifestou pela abstenção em votar na categoria Mulher Economista de 2023, ao placar final de sete votos pela abstenção de voto a favor da indicação da economista Dilma Vana Rousseff, prevalecendo a vontade da maioria. A concessão do prêmio foi concedida pela Plenária do Cofecon, sem a participação deste regional“, consta na nota.

Nota de Esclarecimento do Corecon no Amazonas. (Reprodução/Instagram)
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Profissionais elogiam

Para a economista Karla Martins, que não concorda com a manifestação do Corecon-AM, a posição ocupada por Dilma Rousseff à frente dos BRICS engrandece e valoriza a categoria devido à relevância da entidade a outros países. A profissional também destaca a atuação da ex-presidente do Brasil, no período em que governou o País, para reduzir as desigualdades regionais.

“Ter uma economista brasileira à frente da instituição, que poderia ser a China, que tem um destaque econômico, poderia ser outros locais, já é um grande destaque (…) Além de, tecnicamente, Dilma fez durante seu governo medidas econômicas parareduzir as desigualdades sociais e regionais aqui do nosso País, inclusive um benefício para a de prorrogação da Zona Franca”, disse à reportagem.

O professor de Economia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Paulo Berti comemorou a eleição de Dilma ao título de Mulher Economista do ano e destacou, ainda, a relevância da presidente dos BRICS à categoria.

“A ex-presidenta Dilma Rousseff é uma extraordinária economista. Por essa razão é presidenta do Banco dos BRICS (…) Nós tivemos uma eleição e ela foi escolhida. Temos sorte de ter uma pessoa de extraordinária integridade e de excelência profissional como ela”, respondeu à CENARIUM.

Mulher Economista

Segundo o Cofecon, Dilma Rousseff foi escolhida por sua significativa contribuição para o desenvolvimento econômico e social do País ao longo de sua carreira. “A escolha de Dilma Rousseff como a Mulher Economista de 2023 reflete o reconhecimento do seu legado e expertise no campo econômico, bem como seu papel fundamental na formulação e implementação de políticas que moldaram a trajetória econômica do Brasil“, disse o conselho, em nota.

Economista, Dilma Rousseff tomou posse como presidente do NBD, também conhecido como “banco dos BRICS”, em abril deste ano. A cerimônia ocorreu em Xangai, na China. Com o mandato até julho de 2025, Rousseff é a terceira dirigente a comandar a instituição, tendo sido indicada para o posto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Antes de ser dirigente do NBD, Rousseff foi presidente do Brasil por dois mandatos. O segundo não chegou a ser concluído devido ao seu impeachment, em 31 de agosto de 2016. Denúncias de corrupção na Petrobras, investigadas pela “Operação Lava Jato’, acusações de improbidade administrativa (as chamadas “pedaladas fiscais”) e intensas manifestações populares levaram à interrupção do mandato.

Na juventude, se tornou militante política e chegou a ser presa durante a Ditadura Militar, em 1970. Por 22 dias, foi torturada na sede da Operação Bandeirantes (Oban) e no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Quando saiu da prisão, Dilma se mudou para Porto Alegre (RS), onde prestou vestibular para Economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na área, trabalhou como estagiária na Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Estado, concluindo o curso em 1977.

Ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Carreira Política

Na carreira política, assumiu o cargo de Secretária da Fazenda, a convite do então prefeito de Porto Alegre, Alceu Collares. Depois, assumiu a Secretaria de Minas, Energia e Comunicação do Estado. Ingressando no PT em 2001, foi convidada a participar da equipe de transição que antecedeu o primeiro mandato do presidente Lula. Com a posse do petista, Dilma se tornou ministra de Minas e Energia, cargo que ocupou de 2003 a 2005.

Em 2005, após o chefe da Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu, ser demitido, Rousseff assumiu a pasta, passando a coordenar programas estratégicos para o governo, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e “Minha Casa, Minha Vida”.

Em 2010, foi eleita presidente da República, sendo a primeira mulher a assumir o cargo, com quase 56 milhões de votos. Na disputa, venceu José Serra (PSDB) por, aproximadamente, 56% a 45% dos votos válidos. Em 2015, conseguiu se reeleger, com quase 52% dos votos válidos contra pouco mais de 48% do adversário Aécio Neves, senador do mesmo partido de Serra.

Com o impeachment, Dilma manteve seus direitos políticos. Em 2018, tentou retornar à vida política como senadora por Minas Gerais, mas não conseguiu ser eleita.

Editado por Yana Lima
Revisado: Gustavo Gilona
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