Crime contra a vida selvagem: investigação detectou 230 publicações de comércio ilegal de onça-pintada

Onça-pintada em ambiente natural (Leonardo Mercon / Shutterstock.com)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – O estudo publicado no bioRvix, repositório internacional de pré-publicações, apontou a existência de comércio ilegal de partes de onças-pintadas em pelo menos 19 países. A pesquisa da Wild Conservation Society (WCS), com apoio do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos (USFWS, em inglês), envolveu mais de 20 investigadores e pesquisou em 31 plataformas o comércio on-line e ilegal do felino.

A publicação detalha que foram encontrados 230 anúncios em sete idiomas, no período entre 2019 e 2020, de vendas de partes do animal.

A onça-pintada é o terceiro maior felino do mundo, pensando em torno de 150 quilos (Foto: depositphotos)

Segundo o relatório preliminar, foram detectados 21 anúncios em mercados on-line, dois em sites de busca, cinco em redes sociais, dois em sites de vídeos e um em blog. Ao todo, 579 imagens foram coletadas e em pelo menos 71 publicações foram confirmadas as imagens de onças, contendo 125 partes do corpo.

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Entre as partes mais comercializadas ilegalmente estão o dente e a pele, sendo 95 publicações do primeiro e 22 do segundo. Também foram detectadas cinco peças de cabeças de onça, dois corpos inteiros e uma publicação de partes de pele.

Dados divulgados na pesquisa da Wild Conservation Society (WCS). (Divulgação)

As publicações passaram por avaliação de técnicos, que conseguiram identificar, entre as 230 postagens, 71 que podiam confirmar ser de onça-pintada. Entre elas, 42 eram peças identificadas como dentes, 21 eram peles, cinco cabeças, dois corpos e uma parte de pele.

No Brasil, a caça comercial, ou seja, aquela praticada para subsidiar o mercado de couro, peles e carne, é proibida por lei desde 1967. De acordo com a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998: “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida“, pode render detenção de seis meses a um ano e multa.

Para a REVISTA CENARIUM, o especialista no combate ao tráfico de vida silvestre da WCS Brasil, Antônio F. Carvalho, explicou que o comércio ilegal da vida silvestre é uma séria ameaça para a conservação, isso porque as onças-pintadas são essenciais para a cadeia alimentar das regiões que vive.

A retirada indiscriminada de indivíduos devido à apanha ou à caça pode levar espécies a colapsos locais, culminando no desaparecimento de espécies em muitas regiões e em desequilíbrios na cadeia alimentar“, diz o especialista.

Ele explica que essa cadeia movimenta animais vivos que podem levar “na carona” parasitas e genes para regiões onde estes não ocorrem naturalmente, o que pode resultar em danos irreparáveis para populações silvestres nativas.

Percentual

Conforme o estudo, a maioria dos anúncios (50,7%) estavam em espanhol, seguido por português (25,4%), chinês (22,5%) e francês (1,4%). As publicações foram veiculas principalmente no México e no Brasil, em 12 plataformas diferentes, acompanhadas de imagens identificadas como onça-pintada pelos pesquisadores: 74,6% estavam em reses sociais e 24,4% nos mercados on-line.

Dados divulgados na pesquisa da Wild Conservation Society (WCS). (Divulgação)

Os dentes de onça-pintada detectados em 156 publicações eram mais frequentes no México, China, Bolívia e Brasil, oferecendo pelo menos 367 dentes no total. Além disso, também foram detectadas 12 publicações vendendo garras no México e uma em Costa Rica.

Já as peles foram identificadas apenas na América Latina, principalmente no Brasil, com sete peles detectadas, Peru com seis, Bolívia com três, México com duas peles e uma parte de pele, Venezuela e Nicarágua com uma.

O estudo também identificou uma pequena quantidade de comercialização ilegal de ossos por meio das buscas, mas não foi possível verificar as imagens, mas o documento afirma que obteve provas suficientes para confirmar a existência do comércio de ossos on-line dos países.

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