Crônicas do Cotidiano: Sua Excelência, o Estúpido

No final da semana passada, semana que não terminou devido às sequelas e às novas feridas abertas no coração do poder, fomos brindados com mais uma pérola de estupidez. Em pronunciamento de abrangência nacional, o Governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que sonha assumir a liderança da extrema direita brasileira, diz à Nação: “No Sul e Sudeste, temos uma semelhança enorme. Se há Estados que podem contribuir para este país dar certo, eu diria que são estes sete Estados aqui. São Estados onde, diferentemente da grande maioria, há uma população muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial”. Exceto os que votaram em sua reeleição, mesmo conhecendo a sua estupidez, o povo mineiro não é o culpado pela criatura que ocupa o Palácio da Liberdade e revela o seu instinto perverso e de cunho supremacista. Antes de abrir a boca para vangloriar-se, deveria Sua Excelência passar no Tesouro Nacional e quitar toda a dívida de Minas Gerais, impagável, há mais de Dez Anos, e negociada em parcelas. A dinheirama emprestada à Minas pela União é o dinheiro de todos os brasileiros, inclusive daqueles que esse senhor diz que não trabalham. Não! Ele não está sozinho! Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e outros desses sete devem muito também, mas seus Governadores não estão dizendo besteira, embora se vangloriem, de vez quanto, como os donos do país. Para eles, o Norte, o Nordeste e até o Centro-Oeste são “sanguessugas”, “lambaios”, “pesos mortos” que carregam ou qualquer outra coisa que consideram desprezível. Fingem não contabilizar a nossa contribuição ao Brasil, por puro preconceito.

Se assim é, porque não se juntam e não devolvem a parte da Nação que desprezam aos que a querem bem e por ela lutaram com heroísmo e foram derrotados? Devolvam o Nordeste à Confederação do Equador; devolvam aos Cabanos o Norte do Brasil, que o Leste tomou no soco; devolvam ao Maranhão os milhões de libras confiscadas dos lucros do Algodão, a maior das commodities dos tempos de Dom João, para custear a Corte no Rio de Janeiro; devolvam ao Amazonas o que foi pago na Campanha do Acre e as nossas divisas usurpadas durante o Ciclo da Borracha; devolvam os lucros da União com o Cacau na Bahia, com o Açúcar do Nordeste. Reconheçam que foram essas riquezas que sustentaram os desvios de conduta e de poder que fizeram com que o “sul maravilha” fosse além do Café, da Pata do Boi e da Escravidão doída que até hoje nos envergonha. Devolvam ao Centro-Oeste o resultado da pujança do Agro e paguem pela grilagem e invasão de terras na Amazônia, desde a Ditadura Militar. Tudo isso ainda não paga a mais-valia extorquida da mão de obra que formou a classe operária dos Sete Estados citados; não restitui a dignidade usurpada de retirantes nordestinos e de “bóias frias” que migraram para cortar cana nos canaviais do sudeste, oprimidos pelos esbulhos no campo, pelo conluio com usineiros perversos do nordeste e com os latifundiários de carteirinha de todo país, desde a Ditadura de Vargas. E, se for mesmo da vontade soberana dos “Sete Supremacistas” autoproclamados pelo Governador, que busca reascender a chama separatista e antipatriótica para livrar-se de nordestinos e nortistas, não esqueçam de indenizar o Nordeste por todo o patrimônio cultural e imaterial que lhe foi usurpado: o samba, a literatura, e outras coisas mais; e, no ato, paguem aos amazônidas pela chuva que rega vossos campos e alimenta os reservatórios, como serviços ambientais.

Ainda bem que a lambança do Seu Zema não vale um tostão furado! Lembra uma estória contada por minha vó: certo “Zé Ninguém” almejava casar-se com uma donzela; para conseguir seu intento, alugou a casa vizinha, comprou um penico e passava as noites a jogar a única moeda que possuía no urinol, provocando um sonido que se assemelhava ao de quem joga moedas num cofre, para impressionar os pais da moça. Seu Zema, o senhor não nos impressiona! Saiba que por aqui ainda queremos ser parte de um Brasil mais justo e menos boçal, feliz! Nos deixe continuar saboreando, sem imposto de importação, a goiabada, o doce de leite, os premiados queijos da Serra da Canastra, a pinga e os versos maravilhosos de Carlos Drummond de Andrade.

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Walmir de Albuquerque Barbosa é jornalista profissional.

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(*)Jornalista Profissional, graduado pela Universidade do Amazonas; Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo; Professor Emérito da Universidade Federal do Amazonas.

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