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Da depressão à irritabilidade: veja efeitos da abstinência do uso de celular
Efeitos do uso do celular na mente humana (Composição de Paulo Dutra/Revista Cenarium)
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18 de janeiro de 2024
Ricardo Chaves – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Com o uso do celular cada vez mais elevado, o aparelho tem se tornado uma extensão do corpo, e os contínuos avanços tecnológicos têm feito com que ele faça parte da rotina, seja no trabalho ou na vida pessoal. Sinais de ansiedade, irritabilidade e estresse, manifestados após um tempo sem mexer no aparelho, podem ser sintomas de vício e isso tem nome: nomofobia.
A dificuldade em se desvincular do mundo virtual pode, inclusive, estar associada à dependência das drogas, conforme revela uma série de estudos publicados na última década. Segundo pesquisa realizada pela GlobalWebIndex, o número de horas que o brasileiro passa no celular triplicou nos últimos anos.
Especialistas explicaram à REVISTA CENARIUM que o uso excessivo do celular, além de gerar vícios, também contribui para o isolamento social e tem impactos negativos na saúde física e mental.
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De acordo com o pós-doutor em Neurociências Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, o vício em dispositivos eletrônicos é um problema que altera os neurotransmissores envolvidos no sistema de recompensa do cérebro, principalmente, a dopamina. O especialista esclarece que a dependência em celular e em jogos eletrônicos é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença, a “game disorder”.
“Esse tipo de problema tende a ser maior, atualmente, pois, além de se tornar mais acessível, a tecnologia passou a ser mais presente no nosso dia a dia, muitas vezes, desde a infância, quando o cérebro não está totalmente formado, o que estimula os vícios”, explica o especialista.
Sintomas comuns
Fabiano de Abreu explica que o uso excessivo de celular, além de gerar vícios, também contribui para o isolamento social e distúrbios do sono, devido à exposição à luz azul e problemas posturais.
“A dependência do celular também afeta a saúde mental, contribuindo para a depressão e ansiedade; essa última é ainda mais estimulada pela nova cultura de vídeos curtos e áudios acelerados”, explica.
O especialista chama a atenção para sintomas que se deve observar para ficar atento e buscar ajuda. “Os principais sintomas do vício em celulares são a compulsão para verificar o dispositivo, mesmo sem notificações; irritabilidade ao ser interrompido durante o uso; negligência de responsabilidades em prol do celular; isolamento social; perda de interesse em atividades que antes gostava; ansiedade e tiques ao ficar sem o celular e dificuldade em reduzir o tempo de uso”, explica.
Comportamento viciante
Para a terapeuta e psicanalista Samiza Soares, a evolução da tecnologia e a facilidade de acesso às redes sociais e conteúdos digitais podem contribuir para um comportamento viciante. A especialista destaca a importância de se estar atento aos impactos negativos que o uso excessivo pode ter na saúde física e mental.
“A comparação entre o vício em celular e o uso de drogas, muitas vezes, destaca a natureza compulsiva e potencialmente prejudicial do comportamento. Ambos os vícios envolvem a busca constante por gratificação instantânea, impactando negativamente a saúde física e mental”, diz a psicanalista.
Samiza explica que, assim como as drogas, o uso excessivo de celulares pode levar à dependência e afetar áreas do cérebro associadas ao prazer e à recompensa. A busca incessante por notificações, mensagens ou entretenimento on-line pode resultar em sintomas semelhantes aos de vícios químicos, como ansiedade, irritabilidade e dificuldade de controle.
“É importante notar que essa analogia não significa que o vício em celular seja equivalente ao vício em drogas em todos os aspectos, mas sim, destacar algumas semelhanças comportamentais e neurológicas”, esclarece Samiza Soares.
Samiza Soares explica, ainda, que o uso excessivo de aparelhos celulares pode influenciar na saúde, de diversas maneiras, como problemas posturais, dores no pescoço e nas costas, além de problemas de visão devido ao tempo prolongado de exposição às telas. Também pode afetar a saúde mental, contribuir para o estresse, ansiedade, insônia e até problemas de relacionamento interpessoal.
“Alguns sintomas que podem indicar a necessidade de buscar ajuda incluem ansiedade intensa ao ficar sem o celular, dificuldade em controlar o tempo de uso, negligência de atividades sociais, acadêmicas ou profissionais em favor do uso do celular e irritabilidade ao ser interrompido”, explica a terapeuta.
Menos telas e mais vida real
Uma pesquisa divulgada no fim do ano passado pelo Eletronics Hub aponta que os brasileiros passam 56% das horas do dia, em que estão acordados, utilizando telas como as de smartphones ou computadores.
Para a psicóloga e neuropsicóloga Dilza Santos, os números mostram a gravidade do cenário e como as pessoas “estão esquecendo de viver o momento presente e vivem no piloto automático”. Ela chama a atenção, principalmente, para jovens e adolescentes que deixam de viver essa fase da vida.
Santos explica, ainda, que a dependência pode trazer reflexos e contribuir para uma ansiedade elevada e depressão na vida adulta. A especialista alerta que é preciso colocar limites ao que chama de “epidemia silenciosa na saúde mental”.
“Sabemos que as tecnologias são importantes, é um caminho sem volta, porém, o uso em excesso é prejudicial à saúde em todas as faixas etárias. Precisamos, urgente, estabelecer limites, principalmente, na primeira infância. Criança tem que ser criança, tem que brincar, correr, interagir com outras crianças, brincar ao ar livre, não viver isolado na frente de uma tela”, esclarece a especialista.
Preocupação com jovens
Uma pesquisa publicada em 2019, por cientistas do King’s College de Londres, apontou que quase um quarto dos jovens é dependente do celular e, com isso, passaram a ser considerados viciados no dispositivo.
O levantamento publicado na BMC Psychiatry analisou 41 estudos anteriores envolvendo 42 mil jovens em investigação. Esse comportamento viciante, segundo eles, significa que as pessoas ficam desnorteadas se não acessarem o aparelho.
PhD em Neurociências, Fabiano de Abreu explica que esse é o grupo mais vulnerável e diferente de adultos, não conseguindo equilibrar o uso do aparelho. “Quanto menor a idade, maior o impacto. Crianças e adolescentes, por exemplo, podem sofrer esses efeitos de forma mais intensa por não terem o cérebro totalmente desenvolvido, o que as torna mais vulneráveis”, avalia.
Dicas para equilibrar uso
Para equilibrar o uso do celular é preciso esforço e constância. Especialistas ouvidos pela CENARIUM afirmam que, para se tornar mais eficaz, o uso do aparelho deve ser reduzido aos poucos, com a definição de metas e com controle do tempo de uso para que se tenha mais noção do tempo perdido.
Um escape é a realização de atividades que mais interessam à pessoa que está passando por problema de dependência por uso de celular e incluí-las na agenda. A mudança pode ajudar a desviar a atenção do eletrônico, assim como meditar e ter maior contato social.
Outra opção é buscar ler um livro, conversar com as pessoas sem o uso de celular, dar prioridade a encontros presenciais e nos fins de semana usar o mínimo possível. Além disso, exercícios ao ar livre e meditação também podem ajudar.
Estabeleça limites e crie rotina
Veja dicas para equilibrar o uso de aparelhos e criar momentos de desconexão, estabelecendo uma rotina com atividades off-line e cultivando hobbies e interações sociais fora do ambiente digital:
1) Estabeleça limites de tempo: defina momentos específicos para usar o celular e evite ultrapassar esses limites. Utilize alarmes ou lembretes para ajudar na autodisciplina;
2) Crie uma rotina matinal sem celular: ao acordar, reserve os primeiros minutos para atividades sem o celular, como meditação, alongamento ou leitura. Evitar o telefone logo pela manhã pode contribuir para um começo mais tranquilo do dia;
3) Zona livre de celular nas refeições: faça um esforço consciente para não usar o celular durante as refeições. Desfrute da comida, concentre-se nas interações sociais e permita-se um momento livre de telas;
4) Utilize modo não perturbe: ative o modo não perturbe durante certos períodos do dia ou à noite para reduzir interrupções e promover um ambiente mais calmo;
5) Troque o celular por um livro, à noite: antes de dormir, substitua o tempo no celular pela leitura de um livro. Isso pode ajudar a relaxar a mente e melhorar a qualidade do sono;
6) Estimule atividades ao ar livre: programe atividades ao ar livre que não envolvam o celular, como caminhadas, corridas ou piqueniques. Isso proporciona uma pausa saudável na dependência tecnológica;
7) Organize espaços sem celular: reserve áreas específicas da casa, como a mesa de jantar ou o quarto, como espaços livres de dispositivos eletrônicos, incentivando uma desconexão temporária;
8) Estabeleça metas semanais para redução: defina metas alcançáveis para reduzir, gradualmente, o tempo de uso do celular. A progressão gradual pode facilitar a adaptação a novos hábitos.
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