Desafio entre preservação e desenvolvimento econômico no Rio Tarumã-Açu em Manaus

O Puxirum tem como objetivo a limpeza do espaço e das águas (Foto Ricardo Oliveira/Rede Cenarium)
Ricardo Oliveira – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Em meio a uma recente decisão judicial que sustentou a remoção dos flutuantes no Rio Tarumã-Açu, na zona Oeste de Manaus, proprietários e moradores enfrentam um dilema complexo entre a dependência econômica e a preservação de uma das maiores bacias do Amazonas. Atualmente, estima-se que existam quase mil construções flutuantes na área. De acordo com ambientalistas, essas estruturas despejam esgotos sanitários sem qualquer tratamento, resultando em poluição constante e perda do cenário natural da região.

Um estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa Química Aplicada da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) confirmou que os níveis de poluição no Rio Tarumã-Açu estão alarmantemente elevados, ameaçando todo o ecossistema local. Rafael Lopes, pesquisador envolvido no estudo, alerta sobre a urgência de medidas de proteção. Ele afirma: “Com a chegada dos flutuantes, houve uma deterioração significativa da qualidade da água. Nosso relatório destaca a necessidade imediata de ações para garantir que as gerações futuras possam continuar a desfrutar desse recurso vital.”

Na época da cheia na bacia do Tarumã o banhar-se é diário para os Ticunas (Ricardo Oliveira/Rede Cenarium)

Contrastando com essa paisagem de degradação, os indígenas que habitam o Parque das Tribos, na região do Tarumã, estão empenhados em preservar o meio ambiente. O parque abriga mais de 30 povos de diferentes etnias, que convivem e trabalham juntos para manter suas culturas, tradições, línguas e raízes. Um exemplo notável de sua dedicação à preservação foi o “Puxirum ambiental,” realizado em 16 de setembro. O termo “Puxirum” significa ajuda mútua, e essa prática tem sido transmitida por gerações.

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A jovem indígena Mira Maia, da etnia Ticuna, com seu filho no banho diário (Ricardo Oliveira/Rede Cenarium)

Lutana Kokama, líder indígena e presidente da Associação Indígena e dos Moradores da Comunidade Parque das Tribos (Aimpat), destacou a importância do rio para sua comunidade: “O igarapé é fonte de vida para a comunidade, utilizamos para o nosso lazer e pesca. No entanto, a poluição e a contaminação das águas têm ameaçado esse recurso vital. Estamos mobilizando o Parque das Tribos para conscientizar sobre a importância de manter o rio limpo e preservar suas nascentes, de onde ainda podemos obter água potável e peixes. Sem isso, não poderemos mais contar com as águas do rio.”

O cenário exuberante do Rio Tarumã e o espírito infantil da Amazônia (Foto Ricardo Oliveira/Rede Cenarium)

Ana Paula Macena, da etnia Mura, enfatiza a necessidade de ação concreta: “Não basta apenas defender a causa do meio ambiente, é preciso agir. Essa área é fundamental para todos nós, usamos para eventos, cultos e lazer. A mudança nas águas do rio devido à poluição afetou nosso modo de vida. Precisamos cuidar do meio ambiente e evitar que o lixo nas ruas seja levado para o rio.”

Os indígenas do Parque das Tribos encontram nas águas do Rio Tarumã uma forma de resistência à poluição (Foto Ricardo Oliveira/Rede Cenarium)

Rodrigo Tobias de Souza Lima, pesquisador da Fiocruz Amazônia e coordenador do Projeto Manaós, destaca a importância da relação entre saúde e território para os povos indígenas: “Promover a saúde a partir da visão dos povos indígenas requer cuidar do território. É uma ação socioambiental que visa promover a saúde e a vida no contexto urbano para os indígenas.”

“Puxirum” significa ajuda mútua, e essa prática tem sido transmitida por gerações. A líder indígena Lutana Kokama com crianças durante brincadeira. (Foto Ricardo Oliveira/Rede Cenarium)

O Puxirum também tem como objetivo a limpeza do espaço comunitário e a construção de casas. Durante esse mutirão ambiental, as tarefas são divididas de acordo com o gênero e o tipo de trabalho necessário. Homens são convidados para atividades que exigem força física, como derrubar a mata, enquanto mulheres são chamadas para a limpeza da roça. O plantio de roça é uma tarefa que envolve pessoas de todas as idades e gêneros, promovendo a colaboração e a conscientização ambiental na comunidade, sem distinção.

Material recolhido das margens do igarapé do Tarumã-Açu (Rodrigo Tobias – Fiocruz)

Neste cenário desafiador, os diversos grupos étnicos do Parque das Tribos continuam a liderar esforços significativos para proteger seu ambiente natural e cultural, demonstrando a importância da preservação ambiental em face das ameaças à bacia do Rio Tarumã-Açu. Eles encontram nas águas do Rio Tarumã uma forma de resistência à poluição. Por meio desse ato, as comunidades indígenas manifestam o seu compromisso em proteger e conservar o meio ambiente, ao mesmo tempo que reiteram a profunda significância ancestral das águas limpas para suas tradições e meios de subsistência.

“O igarapé é fonte de vida para a comunidade, utilizamos para nosso lazer e pesca”, afirma cacica Lutana Kokama (Ricardo Oliveira/Rede Cenarium)

Revisão por Gustavo Gilona

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