Desemprego aumenta no Brasil e cenário de retomada é incerto no Amazonas

Entre os que tiveram jornada reduzida, a maior parte terá corte de salário de 50% ou mais. Foto: Agência Brasil

Carolina Givone – Da Revista Cenarium

MANAUS – A taxa de desocupação subiu para 12,2% no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 1,3 ponto percentual (p.p) na comparação com o último trimestre de 2019, segundo a PNAD Contínua divulgada nesta quinta-feira, 30, pelo IBGE. Trata-se de 1,2 milhão de pessoas a mais na fila por um emprego. O Brasil soma 12,9 milhões de desempregados.

No Amazonas, parlamentares estaduais e federais disseram que não há um plano de retomada econômica para o estado, e que mesmo num eventual repasse de verbas da União para investimentos, não há garantia de inclusão para a região. Aderson Frota, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (Fecomércio), afirma que especificar os impactos locais ainda é incerto, pois muitas empresas ainda contam os balanços de perdas.

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“Pelo fato de haver muitas perdas de natureza econômica, em função dessa pandemia Covid 19, desde o mês de março não temos estatísticas confiáveis, que possam retratar as reais perdas do setor comercial e de serviços. Tenho conversado com muitos empresários do segmento e estes estão apreensivos com os efeitos do fechamento de grande parte das atividades comerciais e de serviços”, comentou.

“Ainda existe uma preocupação forte do horizonte, e com grande parte da economia paralisada, muitas empresas estão perdendo seu ponto de equilíbrio, motivado pelos seguintes fatos: perda de vendas, custos operacionais a cumprir, folha de pagamento dos funcionários, recolhimento de impostos e pagamento de fornecedores. Se esta pandemia imobilizar por mais tempo a economia o que se vislumbra a médio e longo prazo é o desemprego que já começa a dar os primeiros sinais amargos do ponto de vista social”, reitera Frota.

Para Frank Souza, superintendente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas (Sinduscon-AM), a saída para o setor tem sido o diálogo para amenizar as perdas e manter postos de trabalho.

“Nós temos trabalhado tanto nível local, quanto a nível federal tentar para reduzir os impactos da Pandemia. Sabemos que Manaus é um capital estado e que grande parte da economia roda por aqui, apesar dos 61 municípios. Em âmbito federal, todas as MPS feitas pelo governo, têm ajudado a manter os postos de trabalho. E no Amazonas nós não temos canteiros de obras parado, então se torna um princípio de ‘não demissão’ e a manutenção do emprego.  Tomando todos os cuidados de higiene e prevenção contra o vírus não interrompemos a execução das obras existentes”, explicou.

“Quanto mais afetado o estado, menos investimento faz, então essa redução aqui pode chegar de 25 a 40%. No entanto, estamos acompanhando e trabalhado por meio do comitê de crise, criado pelo próprio governo do Estado, para fazer com que as empresas tenham celeridade nas obras à lançar, e as que estão a caminho de liberação de licenciamento. Com esse acompanhamento e os apartamentos entregues, os proprietários fazem o financiamento e o retorno das obras se inicia disso”, ponderou.

Dados nacionais

“Esse crescimento da taxa de desocupação já era esperado. O primeiro trimestre de um ano não costuma sustentar as contratações feitas no último trimestre do ano anterior. Essa alta na taxa, porém, não foi a das mais elevadas. Em 2017, por exemplo, registramos 1,7 p.p.”, disse a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, observando que na comparação com o primeiro trimestre de 2019 (12,7%), a taxa de desocupação do primeiro trimestre deste ano caiu (-0,5 p.p.).

Beringuy destaca também a queda de 2,5% no contingente da população ocupada, cerca de 2,3 milhões de pessoas. Segundo ela, foi o maior recuo de toda a série histórica e refletiu nos serviços domésticos (-5,9%), que também apresentou a maior queda da série. O recuo de 7% no emprego sem carteira assinada do setor privado também foi recorde. Emprego com carteira e o conta própria sem o CNPJ também caíram.

“Ou seja, foi uma queda disseminada nas diversas formas de inserção do trabalhador, seja na condição de trabalhador formal ou informal. O movimento, contudo, foi mais acentuado entre os trabalhadores informais. Das 2,3 milhões de pessoas que deixaram o contingente de ocupados, 1,9 milhão é de trabalhadores informais”, disse a analista da pesquisa.

Com isso, a taxa de informalidade teve uma pequena variação de 41% no último trimestre  de 2019 para 39,9% no primeiro trimestre deste ano, o que representa 36,8 milhões de trabalhadores. Os informais são os trabalhadores sem carteira, trabalhadores domésticos sem carteira, empregadores sem CNPJ, os conta própria sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares. 

Houve perdas em todas as atividades: indústria (2,6%), construção (6,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (3,5%), alojamento e alimentação (5,4%), outros serviços (4,1%) e serviços domésticos (5,9%). 

Ainda de acordo com a pesquisa, o total de pessoas fora da força de trabalho subiu para 67,3 milhões, batendo novo recorde desde 2012. Esse grupo é composto por pessoas que não procuram trabalho, mas que não se enquadram no desalento. Os desalentados, pessoas que desistiram de procurar emprego, somaram 4,8 milhões, quadro estatisticamente estável em ambas as comparações.

“A população fora da força de trabalho já vinha crescendo, e é importante lembrar que no primeiro trimestre de cada ano, essa população costuma aumentar, porque é um período de férias e muita gente interrompe a procura por trabalho”, disse Adriana Beringuy.

A analista da pesquisa não garante que as medidas de isolamento social, provocadas pela pandemia da Covid-19, doença causa pelo novo coronavírus, refletiram na taxa de desemprego do trimestre fechado em março.

“Grande parte do trimestre ainda está fora desse cenário. Não posso ponderar se o impacto da pandemia foi grande ou pequeno, até porque falamos de um trimestre com movimentos sazonais, mas de fato para algumas atividades ele foi mais intenso”, comentou.

O rendimento médio real habitual (R$ 2.398) no trimestre encerrado em março ficou estável nas duas comparações. Já a massa de rendimento caiu para R$ 216,3 bilhões, quando comparada ao último trimestre de 2019, uma variação de -1,3%. Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, houve estabilidade na massa de rendimentos.

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