Dia do Jornalista: ‘Não é apenas emitir opiniões’, alertam profissionais sobre necessidade do diploma

Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro (a esq) e a Dra. Cris Barbosa (Composição: Weslley Santos/Revista Cenarium)
Carol Veras – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Em um cenário no qual as “fake news” e a desinformação continuam em ascensão no Brasil, uma profissão é essencial para a disseminação da verdade e proteção da democracia: o jornalismo. Mesmo com essa importância, os profissionais da área assistem à desvalorização da categoria, que teve início com a exclusão da exigência do diploma para o exercício da profissão.

Neste domingo, 7 de abril, Dia do Jornalista, a principal luta é pela restituição dessa obrigatoriedade. A data, criada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em 1931, é uma homenagem ao jornalista e médico assassinado Giovanni Battista Libero Badaró, com o objetivo de garantir os direitos dos profissionais da área.

Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2009 excluiu a exigência de diploma para o exercício da profissão. Na época, o então procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza argumentou que “exigir o diploma limita a liberdade de expressão garantida pela Constituição, pois a atividade jornalística demanda um conhecimento multidisciplinar e o diploma pode impedir que outros profissionais compartilhem seu conhecimento através do jornalismo“.

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A presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro, rebate a alegação de Antônio Fernando de Souza, lembrando que o jornalista não apenas emite opiniões. Ela defende a obrigatoriedade do diploma e lembra que a profissão tem a função de levar à sociedade informações de interesse público, sem emitir juízo de valor.

“Fazer jornalismo não é apenas emitir opiniões, é consultar fontes credíveis, fontes plurais, diversas e levar a informação de interesse público para a sociedade para que a sociedade possa tomar juízo de valor e assim adquirir cidadania”, declarou em vídeo divulgado nas redes sociais.

A Fenaj luta pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 206/2012, que restabelece a obrigatoriedade do diploma de nível Superior específico em Jornalismo para o exercício da atividade no País. A emenda está pronta para ser votada na Câmara dos Deputados e precisa de 308 votos favoráveis para restituir a obrigatoriedade da certificação como critério de acesso à profissão de jornalista no Brasil.

O jornalismo é uma profissão muito séria. O jornalista precisa de uma formação a priori e essa formação é conseguida através da universidade. É preciso que os profissionais passem por pelo menos quatro anos estudando para se qualificar não só na parte técnica e teórica, mas também e sobretudo a respeito da ética profissional“, destaca.

Samira de Castro, presidente da Fenaj (Reprodução/Redes Sociais)
Leia mais: Verdade e credibilidade: jornalismo profissional como antídoto contra fake news
Formação acadêmica

Pesquisas apontam que a exigência de formação acadêmica desempenha um papel importante em melhorar a qualidade das reportagens e a ética dos profissionais. Além disso, essa exigência tem estabelecido padrões éticos compartilhados e garantido pisos salariais para a categoria, como compartilha a mestre PhD em Ciências da Informação e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Cris Barbosa.

É inadmissível a prática de pessoas sem formação universitária de qualidade, com o selo do MEC [Ministério da Educação], que estejam praticando o jornalismo em nossa sociedade“, afirma a profissional. “No âmbito do jornalismo, uma profissão com mais de 400 anos de história e mais de um século de ensino especializado, no nosso caso – com 55 anos de ensino de jornalismo no Amazonas – todas as pesquisas apontam para a importância do diploma universitário como um requisito fundamental para o exercício da nossa profissão.”

Cris Barbosa ainda reitera que a profissão se faz cada vez mais necessária devido ao avanço da desinformação e da inteligência artificial. “Em tempos de modernidade líquida e avanços da desinformação ligada ainda à Inteligência Artificial, é crucial considerar que a prática de qualquer profissão especializada deve estar atrelada à educação especializada”, acrescenta.

Dra. Cris Barbosa (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gilona
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