Economista aponta falhas em imbróglio de Guedes e Bolsonaro: ‘Não há motivos para se vangloriar’

Guedes e Bolsonaro estão em lados opostos quando o assunto é aumento dos servidores públicos. Foto: Divulgação

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Se isso ele chama de boa política, talvez ele esteja no caminho errado”. É o que define o economista Inaldo Seixas sobre as falas recentes do ministro da Economia Paulo Guedes. Nos últimos dias, Guedes foi contra o aumento dos servidores públicos, disse que reduziu o déficit público e que vai reduzir em 25% o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Nesta terça-feira, 22, em uma conferência, o ministro disse ser contra a concessão de reajustes a servidores. A razão, segundo Guedes, seria porque ele teria conseguido reduzir o déficit público e “que não é possível anular esses ganhos agora”, disse.

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De acordo com informações do jornal O GLOBO, o governo do presidente Jair Bolsonaro avalia conceder um reajuste linear de R$ 400 para todos os servidores da União, neste ano, de acordo com integrantes do Executivo.

Para Inaldo, que é Coordenador da ABED – Associação Brasileira de Economistas pela Democracia e Conselheiro do Conselho Regional de Economia – (CORECON) esse imbróglio entre Guedes e Bolsonaro não tem fundamento

“Primeiramente, [a correção da inflação] é um direito constitucional. Os trabalhadores não estão pedindo nenhum favor. Pedem a atualização das perdas derivadas da inflação, que já está em 2 dígitos. Consequências da gestão do atual governo federal, ou seja, o presidente e o ministro da economia”, afirmou o economista.

Para o especialista, é normal que qualquer trabalhador – neste caso, do serviço público -, reivindique, ao menos, as perdas salariais, que se trata de um ponto passivo e não há motivos para se vangloriar.

Déficit Público

Em momentos de crise, como é o caso da pandemia, o especialista defende que os países aumentem o déficit público justamente para fazer a economia aquecer. “O ministro quer vangloriar que diminuiu o déficit, mas o fez a custo social. Como, por exemplo, o índice de desemprego, o alto índice de informalidade e, claro, dos quase 116 milhões que tem algum grau de insegurança alimentar”, complementa.

Para o economista, em momentos de crise econômica, são necessárias políticas anticíclicas “para que o Estado possa, através do déficit público e controle da dívida, aumentar tanto seu investimento quanto o seu consumo. Pois, é isso que vai, por assim dizer, gerar um aquecimento da economia. O investimento, em época de crise, tem que vir do governo. Tanto consumo, como investimento. Isso vai gerar, no curto prazo, uma volta do crescimento econômico. Os dados estão desmentindo o senhor Paulo Guedes. Os dados de crescimento econômico não são um bom dado para a economia brasileira desde a época do Temer”, salientou.

BC contradiz Guedes

O Boletim Focus é um relatório compilado pelo Banco Central (BC) que, de forma transparente e sistemática, divulga projeções de profissionais que trabalham em bancos, corretoras, demais instituições financeiras e outros participantes do mercado e da sociedade.

O boletim do BC vai contra o discurso de crescimento de Guedes e aponta que enquanto a expectativa média de crescimento do PIB era de 2,5%, em janeiro de 2021, neste mês de fevereiro de 2022, está em 0,30%. “Isso não pode ser chamado de boa política. A política que deveria ter sido feita é justamente o contrário”, disse.

Economista aponta falhas no discurso de Guedes Foto: Arquivo Pessoal

O especialista lembra que está provado, através dos multiplicadores econômicos, que à medida que se aplicam recursos públicos, existe retorno. “Por exemplo, na saúde, a cada R$ 1 que é investido, coloca-se na economia R$ 1,70; na educação, a cada R$ 1, volta R$ 1,85; nos serviços de transferência de renda como bolsa família, auxílio emergencial, do consumo de R$ 1 transfere-se para a economia R$ 1,38”, elencou o economista.

“Por tudo que esses números e estes parâmetros mostram, o que deveria estar sendo feito, agora, era justamente o contrário: facilitar que os trabalhadores brasileiros melhorem sua renda – e o que nós estamos vendo é o contrário –”, finalizou.

Veja na íntegra o Boletim Focus de Fevereiro:

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