Por Paula Litaiff*
A eleição para diretor do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), em 2023, traz à tona interesses que vão além da missão de servir à sociedade. Após a REVISTA CENARIUM publicar a matéria “Autor de pesquisa que negou 2ª onda da Covid-19, Henrique Pereira é indicado a presidir Inpa”, no dia 10 de agosto, servidores do instituto que apoiam o pesquisador produziram uma nota que distorce o conteúdo da matéria, com o objetivo de atender interesses políticos e contemplar “laços de amizade”, gerando confusão e desinformação, conforme sete pontos rebatidos abaixo:
1) O que diz a nota – “Por meio deste manifesto, nós, pesquisadores, tecnologistas, analistas e técnicos do Inpa, apresentamos nossa solidariedade ao professor Henrique dos Santos Pereira, professor titular da Universidade Federal do Amazonas [Ufam] e candidato ao cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia [Inpa]. Repudiamos veementemente os atos difamatórios e caluniosos que visam manchar sua reputação, mediante acusações infundadas de uma suposta atuação tendenciosa e antiética durante o enfrentamento da pandemia de Covid-19 em Manaus.”
O que a CENARIUM publicou – A matéria não “difamou”, não “caluniou” e não “acusou” o candidato Henrique Pereira. O texto reportou, sem adjetivações, um estudo publicado na revista científica Journal of Racial and Ethnic Health Disparities, assinado por oito pesquisadores de seis instituições de pesquisa, no qual aponta “fraude” na análise de Henrique Pereira, cujo levantamento afirmou que o novo coronavírus, causador da Covid-19, sofreria uma remissão “por conta própria”, no dia 10 de maio de 2020, em Manaus, mas cinco meses depois, a capital deu início a uma das maiores crises sanitárias de sua história, por conta do alto índice de transmissão. A lógica do estudo de Henrique Pereira foi citada pelo então ministro da Saúde Eduardo Pazuello, no dia 23 de junho de 2020, na reunião da Comissão Mista de Acompanhamento do Coronavírus no Congresso Nacional, conforme publicado no YouTube do Senado. Leia mais
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2) O que diz a nota – “O professor Henrique possui uma carreira acadêmica ímpar, construída ao longo de 38 anos de dedicada atuação, culminando em 14 livros publicados e mais de 120 contribuições em conceituadas revistas científicas internacionais.”
O que a CENARIUM publicou – A matéria, em nenhum momento, altera dados da trajetória acadêmica de Henrique Oliveira.
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3) O que diz a nota – “Durante a pandemia de Covid-19,[Henrique Pereira] esteve na linha de frente dos esforços de articulação para o seu enfrentamento, mesmo pertencendo a um campo político oposto ao do ex-presidente Jair Bolsonaro.”
O que a CENARIUM publicou – O texto não cita se Henrique Pereira não teve “esforços” ou se “deixou de estar” na linha de frente da pandemia e nem cita a inclinação político-ideológica do pesquisador.
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4) O que diz a nota – “Em um momento de forte negação da ciência por parte do governo mais nefasto da história do Brasil, Pereira esteve corajosamente à frente do Boletim ODS Atlas Amazonas…”
O que a CENARIUM publicou – A matéria não questiona a coragem de Henrique Pereira no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e menciona o Boletim ODS Atlas Amazonas como sendo um projeto sob a coordenação dele.
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5) O que diz a nota – “Como cientista, o professor Henrique Pereira não é avesso a contestações ou críticas…”
O que a CENARIUM publicou – O texto não diz se Henrique Pereira é “avesso a contestações ou críticas”. O texto informa que a reportagem tenta ouvir o pesquisador há três meses, mas sem respostas dele.
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6) O que diz a nota – “O aparecimento de notícias requentadas, em meio ao processo de seleção para o cargo de diretor do Inpa, como forma de atingir a sua reputação acadêmica, esconde algo. A quem interessa isso?”
O que a CENARIUM publicou – O texto publicado não se trata de uma “notícia requentada“, já que aborda a eleição do instituto que está em andamento e aponta o perfil dos candidatos, incluindo o de Henrique Pereira, que teve um estudo contestado em um artigo científico publicado. Esse é um tipo de assunto que não interessa somente aos servidores do Inpa, mas a toda a sociedade, a quem o instituto deve servir com seus trabalhos científicos, uma vez que é financiado com dinheiro público.
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7) O que diz a nota – “Mentiras, ofensas e sensacionalismo, com o objetivo de manchar a reputação de um cientista, não contribuem para elevar o nível do debate público e desinformam o público a respeito das reais disputas em torno das indicações para cargos de direção institucional.”
O que a CENARIUM publicou – Toda pesquisa e pesquisador devem se colocar à disposição da análise de seus pares, e a matéria contesta um estudo de Henrique Pereira, embasada em um artigo publicado em periódico científico por outros cientistas. A nota tenta desqualificar o trabalho de outros pesquisadores e o que realmente aconteceu na segunda onda da pandemia, com uma das maiores crises sanitárias e a morte de mais de 10 mil pessoas no período de novembro de 2020 a junho de 2021.
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O servidor público, independentemente da área de atuação, não pode se considerar intocável e defender que o Jornalismo “ético” é somente aquele que atende ao seu interesse ou interesse de seus amigos. O Jornalismo é, sobretudo, a exposição de ideias fundamentadas, e quem não estiver disposto a debatê-las, sem adjetivações ou com pseudo-vitimismo, deve abandonar o campo de debate.
A REVISTA CENARIUM esteve entre os veículos de comunicação na Amazônia que mais combateu o negacionismo, reportando informações de instituições de pesquisa como o Inpa e atuando na linha de frente em reportagens especiais. A equipe seguirá fazendo o seu trabalho com base em dados fundamentados, como sempre fez desde a sua fundação, e não sucumbirá a mentiras e ameaças.
Leia a nota de servidores do Inpa de apoio a Henrique Pereira e saiba quem assinou
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(*) Paula Litaiff é diretora da REVISTA CENARIUM
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