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EDITORIAL – As crianças de Belém e o ‘cata-vento’, por Paula Litaiff
Criança em meio ao lixo em Belém (Composição: Weslley Santos/ Revista Cenarium e Foto: Márcio Nagano)
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02 de abril de 2024
Quem mergulha no universo literário paraense se encanta com os versos da arte-educadora, escritora, compositora e acordeonista Heliana Barriga, conhecida pelas obras infantis que, há mais de 40 anos, acompanham a infância de quem vive no Pará. Em seu vasto conjunto de obras, há a poesia do “cata-vento”, que, costumeiramente, é utilizada como trilha sonora em eventos lúdico-escolares e que conta a história da personificação de um ser inanimado que “sonha” em ser mais do que a sua essência criadora o permite.
Heliana Barriga nunca foi lida às crianças que vivem no Lixão do Aurá, situado na fronteira das cidades de Belém e Ananindeua, no Pará, onde meninos e meninas vivem de catar lixo para sobreviver, em meio à omissão da Prefeitura de Belém e do Governo do Pará, que, juntos, insistem em maquiar a realidade trágica do sistema de descarte de resíduos sólidos que se arrasta, há décadas, na sede da 30ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a ser realizada de 10 a 21 de novembro de 2025.
A situação do Lixão do Aurá e a inoperância na gestão de resíduos na capital paraense fazem parte do especial de capa desta edição, além de serem pauta do documentário “Lixo: condutor de mazela e fonte de sobrevivência na cidade da COP 30”, disponível no YouTube da TV CENARIUM, produzido pela equipe de jornalistas da REVISTA e que virou enredo de artigo jornalístico em Londres, na Inglaterra. A situação é grave e a tentativa de camuflar o problema só reduz a esperança de quem habita na região.
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O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,746, numa escala de 0 a 1, e a renda per capita de R$ 3.850, em Belém, saltam aos olhos de quem não vive na sede da COP 30. São apenas números e não representam o cenário caótico de uma das principais cidades da Amazônia, que, assim como grande parte do Brasil, concentra a riqueza nas mãos de oligarquias que dominam a política e grande parte dos meios de comunicação no Pará.
No contexto de marketing virtual repassado à imprensa do Sudeste, que domina a narrativa midiática do País, Belém silencia crianças, como Jéssica, de 5 anos, que espera todos os dias a chegada de caminhões ao Lixão do Aurá, para catar restos de comida e alguma coisa para vestir. Essa história nunca vai ser contada nos livros de Heliana Barriga, assim como, dificilmente, vai estampar as páginas dos jornais paraenses, mas está sendo contada aqui, nas páginas da mais nova edição da REVISTA CENARIUM.
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