Início » Poder » Edson Fachin rebate Bolsonaro e diz que quem trata das eleições são as ‘forças desarmadas’
Edson Fachin rebate Bolsonaro e diz que quem trata das eleições são as ‘forças desarmadas’
Ministro do STF, Edson Fachin, durante julgamento sobre suspensão da denúncia do ex-PGR Rodrigo Janot contra Temer e integrantes do PMDB (José Cruz/Agência Brasil)
“A Justiça Eleitoral está aberta a ouvir, mas jamais está aberta a se dobrar a quem quer que seja tomar as rédeas do processo eleitoral”, disse ainda Fachin à imprensa durante evento no tribunal para testes do sistema eleitoral.
PUBLICIDADE
Fachin afirmou que o trabalho das Forças Armadas para logística e administração das eleições é “proveitoso”, mas que o processo eleitoral é um tema civil.
“Além disso, a contribuição [das Forças Armadas] que se pode fazer é de acompanhamento do processo eleitoral. Quem trata de eleição são forças desarmadas”, disse Fachin, que também é ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
“E portanto as eleições dizem respeito à população civil que de maneira livre e consciente escolhe seus representantes”, afirmou ainda.
O TSE criou a Comissão de Transparência Eleitoral) no fim de 2021, que reúne diversas instituições, como as Forças Armadas, além de especialistas, para discutir as regras eleitorais.
Desde então os militares têm feito diversas propostas de mudanças no processo eleitoral, sendo que algumas delas espelham ideias de Bolsonaro.
Bolsonaro já insinuou que ele mesmo foi chamado ao debate sobre as eleições com o convite feito pelo TSE aos militares.
Fachin ainda afirmou que quem coloca dúvidas sobre o processo eleitoral “não confia na democracia”.
Ele negou que a frase seja um recado a Bolsonaro, que, sem provas, afirma que as urnas podem ser fraudadas e ameaça não aceitar o resultado do pleito deste ano. “Não mando e não recebo recados de ninguém”, disse o magistrado.
“Quem defende ou incita a intervenção militar está praticando ato de afronta à Constituição e à democracia. Não se trata de recado, é uma constatação”, completou.
Fachin disse que nada interferirá na Justiça Eleitoral e no resultado do pleito deste ano. “Uma geração deu a sua vida durante 21 anos de ditadura civil e militar para que pudéssemos, a partir de 1988, exercer o direito de escolher”, afirmou.
Bolsonaro é um defensor deste período de governos militares que durou de 1964 a 1985.
Fachin também disse nesta quinta-feira, 12, que há muito “barulho no canteiro de obras da política”. “Mas esse é um tribunal que opera com racionalidade técnica”, declarou.
Depois de falar com a imprensa, a Folha ouviu Fachin dizer a um colega, em voz baixa, que subiu o tom “um pouco”, mas que “era o necessário”.
O ministro deixa o comando do TSE em agosto, quando Alexandre de Moraes assume o cargo. Fachin acompanhou nova etapa da edição do Teste Público de Segurança do Sistema Eletrônico de Votação que começou em 2021.
Nesta análise investigadores voluntários executam planos de ataque ao sistema eleitoral, em ambiente controlado, para apontar vulnerabilidades.
Esses exercícios de ataques foram aplicadas em novembro de 2021, em fase anterior do ciclo de testes. Segundo o TSE, cinco planos foram bem-sucedidos, ou seja, geraram sugestões de aperfeiçoamento das urnas, mas não apresentaram brechas que podem comprometer o pleito deste ano.
Estes cinco planos estão sendo repetidos nesta semana, após o TSE realizar ajustes no sistema, para confirmar que não há brechas para vulnerabilidades. Há entre os pesquisadores peritos da Polícia Federal.
Na resposta, a equipe do TSE apontou que as Forças Armadas confundem “conceitos” e erram cálculos ao apontar risco de inconformidade em testes de integridades das urnas.
O TSE ainda repetiu que não há “sala secreta” de totalização dos votos, um argumento levantado, sem provas, pelo presidente Bolsonaro.
Em fevereiro, o TSE havia publicado em seu site um documento com respostas a questionamentos anteriores das Forças Armadas. Depois disso, os militares enviaram, fora do prazo, segundo a corte, outras sete propostas.
Os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral são uma rotina em seu governo. No passado, por exemplo, afirmou diversas vezes sem apresentar provas que havia vencido as eleições de 2018 no primeiro turno.
No ano passado, ele também fez uma transmissão ao vivo para apresentar supostas provas que tinha contra a confiabilidade das urnas e que o pleito havia sido fraudado. No entanto, apenas levou teorias que circulam há anos na internet, sem comprovação.
Naquela live recheada de mentiras, Bolsonaro divulgou documentos de uma investigação sigilosa aberta em 2018 sobre um ataque hacker no sistema do TSE.
Por causa disso, Bolsonaro virou alvo de investigação. A delegada Denisse Ribeiro, da Polícia Federal, já enviou ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, a conclusão segundo a qual ocorreu crime na atuação do presidente naquele caso.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.