Em ação humanitária, CNS combate insegurança alimentar de comunidades extrativistas do Amazonas

O Conselho Nacional das Populações Extrativistas atende comunidades de toda a Amazônia. (Dione Torquato/CNS)

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – O Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) finalizou mais uma missão, beneficiando 1.500 pessoas de famílias tradicionais que residem em regiões de áreas protegidas, no Estado do Amazonas. A ação de campo tem caráter de assistência social, levando cestas básicas, itens de higiene e até combustível para a realização de tarefas diárias dos moradores, que estão enfrentando dificuldades com a cheia do rio Solimões e seus afluentes, além dos impactos já causados pela pandemia da Covid-19.

Os voluntários percorreram dois territórios: a Floresta Nacional (Flona) de Tefé e a Reserva Extrativista (Resex) do Baixo Juruá. Em Tefé, floresta nacional com área de mais de 1 milhão de hectares, vivem 1.115 famílias, com população de mais de cinco mil pessoas, onde pelo menos 800 delas, residentes de nove comunidades, receberam assistência em forma de 180 cestas básicas, doações importantes para sua segurança alimentar neste momento.

Já na Resex do Baixo Juruá, o atendimento foi prestado a 187 famílias, em oito comunidades, atingindo 100% da população extrativista.

A Flona Tefé e a Resex do Baixo Juruá foram visitadas entre os dias 9 e 18 de junho. (Dione Torquato /CNS)

Doações

A última ação, realizada entre os dois territórios de preservação ambiental, aconteceu em parceria com a WWF-Brasil, para a aquisição e distribuição das cestas básicas.

“A gente se sente muito feliz de receber essas cestas básicas. As dificuldades que estamos enfrentando não são poucas. Nossas casas já estão quase todas dentro d’água. Alguns agricultores e moradores já estão morando nas casas de outras pessoas, de favor. Ficamos felizes de receber, pelo motivo de não termos condições de trabalhar de forma adequada para conseguir nosso alimento”, disse Márcio Santos, um dos líderes extrativistas da comunidade de Deus é Pai, da Flona Tefé.

Vários extrativistas, assim como Márcio Santos, na foto, estão impedidos de trabalhar em razão do avanço das águas do Solimões. (Dione Torquato /CNS)

“O CNS trabalha em apoio às organizações de base, como as associações e cooperativas, com foco principal nos territórios protegidos, a exemplo das Unidades de Conservação, sejam elas estaduais ou federais. Nós trabalhamos com as populações de toda a Amazônia, mas especificamente, aqui, no Amazonas, com as populações ribeirinhas”, explicou à Revista Cenarium o secretário-geral do Conselho das Populações Extrativistas, Dione Torquato.

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Cheia, pandemia e desafios

O perfil socioeconômico das populações de Tefé e do Baixo Juruá é formado pela agricultura familiar e pela atividade extrativista, retirando recursos naturais de maneira sustentável. “Aqui temos a pesca artesanal, o manejo do pirarucu, o extrativismo do açaí, da castanha, entre outras atividades socioprodutivas dessas comunidades tradicionais”.

A chegada da pandemia e a cheia dos rios que afeta quase todo o Amazonas foi como um golpe na saúde e no sustento econômico dos extrativistas. O principal impacto foi sentido logo no acesso à saúde e com a contaminação dentro de seus territórios.

“As comunidades estão em áreas isoladas, com dificuldades de comunicação e acesso ao atendimento de saúde. A pandemia também agravou no modo de vida e de produção. As comunidades têm ficado limitadas em suas atividades produtivas e na comercialização dos produtos, contribuindo, assim, para o aumento da vulnerabilidade e da insegurança alimentar desses povos”, destacou Dione Torquato.

Com as comunidades alagadas, ficou impossível continuar cultivando a produção de alimentos. (Dione Torquato/CNS)

Para ele, a cheia do rio Solimões e seus afluentes também tem papel no agravamento do efeito da pandemia para as comunidades. “Muitas das famílias tiveram de deixar suas habitações tradicionais para vir para a cidade ou morar com as famílias que estão em situação mais segura. Tudo isso causa uma exposição maior, correndo o risco de uma possível contaminação por aglomeração, pois as famílias ficam reunidas por não ter para onde ir”, alertou.

Todos esses problemas também dificultaram o acesso às políticas de mercado para as populações extrativistas, além de não poderem produzir seu próprio alimento. Por isso é que o secretário-geral do CNS considera que as doações foram cruciais para que os moradores pudessem continuar enfrentando o momento de dificuldades. “Alguns perderam sua produtividade e outros ficaram impossibilitados de ir até os seus roçados, justamente porque as casas foram tomadas (pelas águas)”. 

Resultado das ações solidárias

As ações assistenciais têm sido presentes desde o início da pandemia, de acordo com o CNS, contando também com grupos de ações solidárias, doações de empresas e de pessoas da sociedade amazonense.

“As ações solidárias têm contribuído significativamente para a proteção desses territórios e dessas famílias, incentivando que elas permaneçam lá e não tenham que se deslocar para a cidade, correndo o risco de contaminação. E também têm contribuído, principalmente, na segurança e na soberania alimentar desses povos que, ora por enchente ou pandemia, têm dificuldade de produzir o seu próprio alimento. Então, essas doações de cestas básicas, bem como os materiais de higiene, de proteção, de comunicação, têm contribuído para a integridade física e de saúde para os povos das florestas”.

A última ação do conselho, que terminou em 18 de junho, atendeu a 1.500 pessoas com quase 400 cestas básicas. Ao longo do período de pandemia, só para as Unidades de Conservação de Desenvolvimento Sustentável no Estado do Amazonas foram mais de três mil.

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