Em discurso de Natal, Lula diz que ódio deixou cicatriz na democracia e fala em restaurar paz

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso de Natal (Ricardo Stuckert/Reprodução)
Da Revista Cenarium Amazônia*

BRASÍLIA (DF) – O presidente Lula (PT) disse na noite de domingo, 24, véspera de Natal, que o ódio de alguns contra a democracia deixou cicatrizes e dividiu o País, mas que ela saiu vitoriosa após o 8 de Janeiro, quando apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) depredaram as sedes dos Três Poderes, no que o petista chamou de “tentativa de golpe”.

Lula reconheceu que ainda “falta restaurar a paz e a união”, pregou reconciliação nas famílias e afirmou que o primeiro ano de seu mandato — aprovado por 38% e reprovado por 30% da população, segundo o Datafolha — foi o tempo de “plantar e de reconstruir”. Disse que resultados econômicos serão colhidos em 2024 e exaltou a recente aprovação da Reforma Tributária, promulgada na semana passada.

Lula fez as declarações durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão para celebrar o Natal. O mandatário usou a sua fala de pouco mais de 5 minutos para pedir união no País, particularmente, entre familiares e amigos, no intuito de superar as divergências causadas pela polarização política.

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“O ódio de alguns contra a democracia deixou cicatrizes profundas e dividiu o País. Desuniu famílias. Colocou em risco a democracia. Quebraram vidraças, invadiram e depredaram prédios públicos, destruíram obras de arte e objetos históricos”, afirmou o petista, sem citar nomes.

“Felizmente, a tentativa de golpe causou efeito contrário”, disse, justificando que o episódio “uniu todas as instituições, mobilizou partidos políticos acima das ideologias e provocou a pronta reação da sociedade”.

“Ao final daquele triste 8 de Janeiro, a democracia saiu vitoriosa e fortalecida. Fomos capazes de restaurar as vidraças em tempo recorde, mas falta restaurar a paz e a união entre amigos e familiares”, continuou.

Essa postura, no entanto, contrasta com outros discursos, no qual mantêm ataques ao seu antecessor e a seus apoiadores. Chamou Bolsonaro, recentemente, de “facínora” e “coisa”, entre outros adjetivos.

Ainda no pronunciamento, Lula afirmou que “somos um mesmo povo e um só País” — mote de uma campanha publicitária recém-lançada pelo governo na linha de estímulo à pacificação — e pregou o combate às fake news, à desinformação e aos discursos de ódio.

O presidente também realizou um balanço do primeiro ano do seu terceiro mandato. Como já vinha afirmando, ele buscou transmitir otimismo, recorrendo à imagem de que as sementes foram plantadas em 2023, e listou uma série de exemplos de que os principais resultados ainda estão por vir.

Ressaltou as perspectivas positivas para o Brasil em relação ao meio ambiente e à transição energética. O mandatário e seu governo vêm difundindo a mensagem de que o País pode se tornar uma Arábia Saudita da energia verde — em referência ao País líder mundial na exportação de petróleo.

“2023 foi o tempo de plantar e de reconstruir. Aramos o terreno, lançamos as sementes, aguamos todos os dias, cuidamos com todo o carinho do Brasil e do povo brasileiro. Criamos todas as condições para termos uma colheita generosa em 2024”, afirmou Lula na TV.

Lula durante café da manhã com jornalistas no Planalto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante café da manhã com jornalistas (Gabriela Biló/Folhapress)

Ele ressaltou ainda a volta e o fortalecimento de algumas marcas de gestões petistas, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos. As falas gravadas por Lula foram acompanhadas por imagens do País e cenas de alguns dos compromissos internacionais que ele teve ao longo do ano.

Na economia, o petista citou o crescimento do PIB “acima das previsões do mercado” e a inflação sob controle. Disse que o preço dos combustíveis está caindo e a comida ficando mais barata, algumas de suas promessas de campanha. “O dólar caiu e a bolsa de valores está batendo recordes.”

O presidente mencionou ainda que o País passou da posição de 12ª para a de 9ª maior economia do planeta. Segundo projeções monetárias do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil está no 9° lugar — lideram a lista Estados Unidos, China e Alemanha.

Lula disse que foi recuperado o diálogo com o mundo e a credibilidade internacional. “O País voltou a ser ouvido nos mais importantes fóruns internacionais, em temas como o combate à fome, à desigualdade, a busca pela paz e o enfrentamento da emergência climática”, disse.

Ele dedicou o primeiro ano de seu governo a viagens e à participação em discussões como as da guerras da Ucrânia e da Rússia e de Israel contra o Hamas.

Lula também disse que o governo, junto com os Estados, está combatendo o crime organizado. A escalada da violência na Bahia e no Rio de Janeiro, o avanço da letalidade policial e os sinais trocados ao lidar com governadores aliados e adversários fizeram a gestão federal ser criticada e acusada de patinar nas crises da segurança pública.

Segundo o presidente, o governo está apoiando os Estados. “Além de armamento pesado; apreendemos R$ 6 bilhões em bens do narcotráfico, entre dinheiro vivo, apartamentos, mansões, automóveis de luxo e até aviões e helicópteros”, destacou, em aceno a uma pauta cara ao eleitorado bolsonarista.

O Governo Bolsonaro tinha como uma de suas bandeiras o tema da segurança pública, obtendo respaldo de servidores da área. Embora tenha prometido a reestruturação das carreiras dos servidores federais, essa promessa não se concretizou.

As principais medidas foram em relação à flexibilização das normas para acesso a armas de fogo. Isso resultou em 17 decretos, 19 portarias, duas resoluções, três instruções normativas e dois projetos de lei, gerando críticas de organizações da sociedade civil.

Contrastando com essa postura, o presidente Lula, em julho deste ano, assinou um decreto que estabelece mais restrições ao acesso de armamentos no Brasil.

Apesar da mensagem de reconciliação, Lula tem feito falas que segue estimulando a polarização política.

A uma plateia de candidatos do partido, no último dia 17, ele disse: “Não pode aceitar provocação nem ficar com medo. Quando o cachorro late para a gente, a gente não baixa a cabeça, a gente late para ele também”.

Dois dias antes, em inauguração de um contorno rodoviário na BR-101, em Serra (ES), o petista chamou Bolsonaro de “facínora” e “aquela coisa”, além de acusar o adversário político de “usar a fé dos evangélicos”. Lula também já se referiu ao rival como “gente ruim” por liderar um governo que “gostava de brigar”.

Congresso promulga reforma tributária com presença do presidente Lula (PT).
Congresso promulga Reforma Tributária com presença do presidente Lula (Gabriela/Biló/Folhapress)

Este foi o terceiro pronunciamento do petista em cadeia de rádio e televisão na atual gestão. O primeiro foi às vésperas do 1° de maio, Dia do Trabalho, quando o mandatário confirmou que seu governo enviaria uma proposta ao Congresso Nacional para estabelecer uma nova política de valorização do salário mínimo.

O pronunciamento seguinte aconteceu às vésperas das celebrações do Dia da Independência, quando o mandatário usou, como agora, uma mensagem de união e de superação do ódio.

“Amanhã não será um dia nem de ódio, nem de medo e, sim, de união. O dia de lembrarmos que o Brasil é um só. Que sonhamos os mesmos sonhos”, afirmou o presidente na ocasião.

O slogan daquela cerimônia foi “Democracia, soberania e união” e teve como um dos objetivos associar as Forças Armadas com o conceito de democracia, após meses de desconfiança por causa da aproximação da cúpula militar com o bolsonarismo e mesmo as suspeitas relativas ao 8 de Janeiro.

Aquele pronunciamento também foi usado para mostrar avanços econômicos nos primeiros meses de governo.

Leia mais: Em discurso natalino, Lula defende ‘virar página do ódio’ em meio a recentes arroubos retóricos
(*) Com informações da Folhapress
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