Da Revista Cenarium*
MANAUS – Sete ativistas mergulharam na Fontana di Trevi, famoso ponto turístico de Roma, nesse domingo, e jogaram carvão vegetal diluído em suas águas para tingi-las de preto.
De dentro da fonte, os manifestantes do grupo italiano Ultima Generazione, ou última geração, ergueram cartazes nos quais se lia: “não vamos pagar por combustíveis fósseis”. “Nosso país está morrendo”, gritaram.
Policiais uniformizados entraram na água para retirar os ativistas, enquanto muitos turistas filmavam o episódio. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram que alguns dos presentes xingavam os manifestantes.
Roberto Gualtieri, prefeito de Roma, condenou a manifestação, o mais recente de uma série de atos contra obras de arte na Itália. “Basta desses ataques absurdos ao nosso patrimônio artístico”, escreveu no Twitter.
Inaugurada no século 18, a Fontana di Trevi é um dos símbolos de Roma, e a tradição dita que turistas devem jogar moedas se quiserem retornar à capital romana. O cenário foi imortalizado no filme “A Doce Vida”, de Federico Fellini, em que Anita Ekberg e Marcello Mastroianni se banham nas águas da fonte.
Em nota, o Ultima Generazione pediu o fim de subsídios estatais para combustíveis fósseis e afirmou que a manifestação foi motivada pelas fortes chuvas que atingiram a região de Emilia-Romagna, no norte, nos últimos dias, que causaram a morte de ao menos 14 pessoas. Segundo o texto, uma em quatro residências italianas correm risco de serem inundadas.
Protestos como o deste domingo se multiplicaram na Europa nos últimos meses. No ano passado, duas ativistas do Just Stop Oil (algo como “parem com o petróleo”) jogaram sopa de tomate em “Girassóis”, um dos principais quadros de Vincent Van Gogh, em exibição na National Gallery, em Londres.
Na Itália, já foram alvos do Ultima Generazione a fachada do Senado e a fonte da praça de Espanha, em Roma, a estátua do rei Vittorio Emanuele 2º, em frente ao Duomo de Milão, e uma parede externa do Palazzo Vecchio, em Florença, além de museus do Vaticano.
Em um ato em julho do ano passado, ativistas colaram as próprias mãos no vidro que protege a tela “A Primavera”, de Sandro Botticelli. A obra do artista italiano, concebida há 540 anos e símbolo da arte renascentista, fica em exibição na galeria Uffizi, em Florença.
O governo da conservadora primeira-ministra Giorgia Meloni tenta agir para reprimir esse tipo de intervenção. Em abril, foi anunciado um projeto de lei que prevê multas mais rigorosas, entre € 10 mil e € 60 mil (R$ 56 mil e R$ 336 mil), para quem destrói, mancha ou desfigura, total ou parcialmente, bens culturais e paisagísticos.
As medidas se juntam a sanções já presentes no código penal para esse tipo de crime, que hoje chegam a cinco anos de prisão e multa de € 15 mil (R$ 84 mil). O ministro da Cultura, Gennaro Sangiuliano já afirmou que os ataques produzem danos econômicos. “A limpeza exige a intervenção de pessoal especializado e maquinário custoso”, disse. Segundo ele, que se refere aos ativistas como “ecovândalos”, para limpar a fachada do Senado, foram gastos € 40 mil (R$ 224 mil).
Sandro Mora, porta-voz do Ultima Generazione, afirmou à Folha em abril que o endurecimento já era esperado. “Naturalmente as novas medidas nos preocupam, mas não a ponto de desistir. Sempre mais pessoas se dão conta da gravidade da crise climática, que hoje se traduz em seca e falta de água na torneira, como já ocorre em partes da Itália. Isso nos assusta mais do que as multas”, disse o ativista.
(*) Com informações da Folhapress
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