Em sete anos, Brasil perde 890 mil empregos de maior complexidade; indústria e serviços recuaram quase 380 mil postos

Conforme a pesquisa, há seis trimestres móveis consecutivos que a taxa de desocupação vem caindo de forma significativa (Jeso Carneiro/Flickr)
Com informações da Folhapress

SÃO PAULO – O Brasil perdeu 890 mil empregos na produção de bens de média e alta complexidade em apenas sete anos, de 2013 a 2020. Se consideradas somente as 12 principais profissões de maior complexidade, tanto na indústria de bens de consumo quanto no setor de serviços, a perda é de quase 380 mil.

Os números fazem parte de um estudo inédito do GPPD (Grupo de Pesquisa em Política Pública e Desenvolvimento), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), feito a partir dos dados mais recentes da Rais (Registro Anual de Informações Sociais).

 Placa caída nas proximidades da fábrica da Ford em Camaçari (BA)
Placa caída nas proximidades da fábrica da Ford em Camaçari (BA) (Rafael Martins/Folhapress)

De acordo com os pesquisadores, a participação no emprego total desses setores vem caindo ao longo dos anos, passando de 11,4% em 2006 para 9% em 2020. Ainda assim, de 2006 a 2013 houve um aumento no número de empregos desses setores, passando de 3,92 milhões em 2006 para 5,04 milhões em 2013.

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A partir deste ano e com o impacto econômico da crise de 2015 e 2016, no entanto, os dados apontam que o número de empregos desses setores vem caindo paulatinamente: bateu em 4,15 milhões em 2020 e chegou à perda de 890 mil postos, retornando a um patamar semelhante ao de 2007.

“O que a gente observa é que havia uma melhora na participação, sobretudo, na composição do emprego antes de 2013. Setores de alta e média complexidade vinham aumentando sua participação no mercado de trabalho, embora lentamente. Nos últimos sete anos, eles não só não conseguem mais voltar ao ritmo de antes, como ficam praticamente estagnados”, diz o professor da UFMG João Prates Romero.

Esses segmentos incluem atividades distintas, como a fabricação de veículos automotores, produtos de borracha e materiais plásticos e metálicos, operários de confecções e de móveis.

O setor automotivo tem se tornado um símbolo dessa perda de vagas. Em 2019, a Ford anunciou que encerraria suas atividades na unidade de São Bernardo do Campo. Um ano depois, os funcionários de Taubaté (140 quilômetros de SP) receberam a notícia do fim das atividades e, em 2021, a montadora anunciou o encerramento de sua produção, no Brasil, o que ocasionou mais de 4.000 demissões na Bahia.

Neste ano, em maio, a Caoa Chery decidiu limitar suas atividades em Jacareí (80 quilômetros de SP) e fechar a fábrica de forma temporária para fazer alterações. Cerca de 600 funcionários foram demitidos. A unidade será remodelada.

A lenta recuperação da economia, com crescimento anual do PIB (Produto Interno Bruto) na casa de 1% nos anos seguintes, não ajudou a salvar esses postos de maior qualidade.

A pesquisa também mostra que, na fabricação de produtos de metal, a queda foi de 510 mil empregos para 420 mil (-17,7%) entre 2014 e 2020; já quem atuava na produção de veículos sentiu uma perda de 490 mil para 410 mil no período (-16,33%).

“Todos esses setores produtores de bens de média e alta complexidade fazem parte da indústria de transformação, que registrou queda de 1,05 milhão de empregos de 2013 até 2020. Ou seja, a maior parte da queda da indústria no período se deu justamente nos setores de maior complexidade”, diz Romero.

O pesquisador ressalta que outros estudos indicam como o aumento da complexidade econômica está ligado à alta da renda e do emprego nos países.

O que ajudou a amortecer a redução dos empregos de maior complexidade entre 2013-2020 foi o setor de serviços. Quando eles são considerados no cálculo, a perda de empregos no período cai de 890 mil para 790 mil.

Nessas atividades, serviços prestados por trabalhadores de escritório, por exemplo, estavam em número maior em 2020 do que eram em 2014 (passaram de 1,37 milhão para 1,5 milhão, ou representavam 2,76% da participação no emprego total para 3,25%).

Um movimento semelhante ocorreu com os que prestam serviços para edifícios e atividades paisagísticas (que, praticamente, retornaram ao período pré-recessão) e as atividades de atenção à saúde humana (que passaram de 1,89 milhão para 2,3 milhões).

“Uma vaga de alta complexidade custa mais a ser recuperada. Quando olhamos em termos relativos, os postos em setores de produção de maior valor chegam a 6,5% do total e começam a cair. Mesmo que o setor de serviços de alta complexidade aumente, é algo preocupante”, afirma o pesquisador.

Além disso, apesar de a crise provocada pela Covid-19 ter tido um efeito mais intenso sobre o setor de serviços, em 2020, houve um crescimento relativo do número de empregos nessas atividades, enquanto os demais setores ficaram praticamente estagnados.

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