Em TO, vacinação contra paralisia infantil não alcança 50% da meta; ‘Quando não mata, deixa sequela’, diz especialista

O Brasil está na região considerada de alto risco para a reintrodução do vírus da poliomielite (Marcelo Casal/Agência Brasil)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – A baixa cobertura vacinal contra poliomielite, popularmente chamada de paralisia infantil, no Brasil, tem preocupado autoridades de saúde. Em Tocantins, por exemplo, a adesão à vacina atingiu, até essa quinta-feira, 6, apenas 45,3% da cobertura da doença no Estado. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Infectologista Nelson Barbosa afirmou à Revista CENARIUM que a poliomielite “quando não mata, deixa várias sequelas”.

Segundo o órgão, neste ano, de 99.170 crianças a serem imunizadas na Campanha Nacional, o Estado vacinou somente 44.997. Ano passado, a meta relacionada à vacinação de rotina, 24.447 crianças em toda região de Tocantins, foram aplicadas 19.431 doses, resultando em 79,94% do público infantil imunizado. Em 2020, o percentual foi ainda maior, com uma cobertura de 83,8%.

Alerta

A redução de percentuais nos últimos dois anos, no Estado, é de pouco mais de 38% entre a população vacinada e o público-alvo da imunização contra a poliomielite, situação que acende um alerta nos infectologistas, que pedem aos pais para se atentarem quanto à importância da vacina, como destaca o médico Nelson Barbosa.

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Vacina contra poliomielite (Reprodução/TV Rio Sul)

É importante que pais e responsáveis levem suas crianças para vacinar, pois a poliomielite, quando não mata, deixa várias sequelas como, por exemplo, pé torto, a criança não consegue andar, crescimento diferente das pernas, paralisia das pernas, paralisia dos músculos da fala ou da glutição e outras questões. Por isso que os pais devem levar a sério a pauta da vacinação contra essa doença, porque se a criança que nasce sadia pegar a pólio pode sofrer com sequelas graves que vão interferir por toda a vida”, conta o profissional da saúde.

A REVISTA CENARIUM entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado de Tocantins, via e-mail, para saber as ações e atividades que a pasta irá desenvolver ou que já esteja colocando em prática para reverter o atual quadro, mas até a publicação desta matéria não obteve retorno.

Sobre a doença

Médico infectologista explica sobre a doença viral considerada grave que pode, inclusive, acometer adultos e idosos com sistema imunológico em baixa ou que não foram vacinados quando crianças com as doses necessárias.

Essa é uma doença infecciosa grave, causada por um vírus (poliovírus) que, na maioria das vezes, cursa com paralisia permanente de alguns músculos (dos membros inferiores ou dos membros superiores).
Acomete com maior frequência as crianças, mas também pode acometer idosos e adultos com o sistema imunológico enfraquecido ou que não foram imunizados contra a paralisia infantil durante a infância.
Três doses injetáveis aos 2, 4 e 6 meses e mais duas doses de reforço com a gotinha por via oral
“, detalha o médico.

Brasil em rota de risco

No último dia 5 de outubro, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga fez um pronunciamento no qual afirmou que o Brasil está em “região de alto risco para a volta da poliomielite”. Até o início deste mês, a cobertura vacinal está em torno de 60%. Estima-se que 14,3 milhões de crianças recebam a dose atingindo a meta de, pelo menos, 95% do público-alvo composto por crianças menores de 5 anos.

O Brasil está na região considerada de alto risco para a reintrodução do vírus da poliomielite, junto com os outros países da América. Isso é decorrente da baixa cobertura vacinal. Os mais idosos, provavelmente, se lembram da gravidade dessa doença que levou tantas crianças à morte ou sequelas graves”, disse o ministro que complementou relembrando que o Brasil não detecta casos de poliomielite desde a década de 1990.

Ministro da Saúde Marcelo Queiroga (Reprodução/Instagram)

O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a eliminar a circulação do vírus em território nacional, em 1994, graças à força e abrangência do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e a adesão da população à vacinação“, destacou.

Caso sob investigação

No fim da tarde dessa quinta-feira, 6, o Ministério da Saúde informou que investiga um caso de Paralisia Flácida Aguda no Estado do Pará. A informação foi repassada após o comunicado da Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa) sobre o risco para a detecção do vírus da poliomielite no Estado.

O paciente é uma criança de 3 anos, residente do município de Santo Antônio do Tauá, no nordeste do Estado, o qual testou positivo para o poliovírus (Sabin Like 3), por meio da metodologia de isolamento viral em fezes. Ainda segundo o Ministério da Saúde, o caso pode estar relacionado a um evento adverso ocasionado por vacinação inadequada. Com isso, a circulação viral da poliomielite no Brasil foi descartada pela pasta.

(Reprodução/Internet)

O Ministério da Saúde informa que não há registro de circulação viral da poliomielite no Brasil. A pasta enviou equipe ao Estado do Pará nessa quinta-feira, 6, para investigar um caso de Paralisia Flácida Aguda. De acordo com informações enviadas pela secretaria estadual de saúde, o caso pode estar relacionado a um evento adverso ocasionado por vacinação inadequada. É importante ressaltar que não se trata de poliomielite. O Ministério da Saúde reforça que pais e responsáveis vacinem suas crianças com todas as doses indicadas para manter o País protegido da poliomielite, doença erradicada no Brasil“, informou a nota.

Outros Estados

No Amazonas, a Fundação de Vigilância em Saúde Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) esclareceu, em nota, que no Estado não há caso notificado de poliomielite desde 1988. A FVS-RCP acrescentou, ainda, que está na fase de elaboração do Plano Estadual de Enfrentamento da Poliomielite para definição de estratégias de monitoramento e investigação de casos suspeitos de Paralisia Flácida Aguda – PFA, além de avançar na cobertura vacinal contra a doença, já que a poliomielite é imunoprevenível, isto é, uma doença que pode ser evitada por meio da vacina.

Na campanha nacional de imunização, que terminou na última sexta-feira, 30, o Amazonas alcançou 58,8% de cobertura vacinal contra a poliomielite. A meta estabelecida pelo Ministério da Saúde, de atingir 95% do público-alvo, que são crianças de 1 a 4 anos, não foi alcançada devido à baixa adesão dos pais e responsáveis à iniciativa.

O Acre também traz percentuais preocupantes. Até a última terça-feira, somente 34,15% do público-alvo contra a poliomielite foi vacinado no Estado, ou seja, das 64.932 crianças de 1 a 4 anos que deveriam estar vacinadas, apenas 22.172 tomaram as gotas imunizantes.

Vacina contra a poliomielite (Reprodução/Internet)

Da Região Norte para a Sul do Brasil, a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, também está com percentual abaixo do esperado quanto à vacinação contra a paralisia infantil. Apenas 40,38% do público-alvo da vacinação está imunizado contra a poliomielite.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre, anunciou nesta sexta-feira, inclusive, uma mobilização a mais neste sábado, 8, para ampliar a vacinação contra a doença.

Unir esforços e sensibilizar

Bernardino Albuquerque, também infectologista, salienta que que o País não atinge a meta há quase 7 anos. Para o médico, uma das ferramentas para a mudança de cenário é a união de esforços para sensibilizar a população quanto à relevância e riscos que a doença acomete.

“Houve diminuição significativa das coberturas vacinais. Em particular, a Poliomielite, doença cuja eliminação teve como principal ferramenta a vacinação, as coberturas ultrapassavam a 95%, garantindo, desta forma, a eliminação da circulação do vírus e o desaparecimento da doença. Há praticamente 7anos, não atingimos mais a cobertura necessária, criando, desta forma, um quantitativo importante de crianças não protegidas, portanto, susceptíveis à doença, o que dá margem à reintrodução do vírus”, salienta, que complementa:

A OMS já definiu que o risco é muito alto, precisamos unir esforços, sensibilizar nossa população, principalmente, pais e responsáveis para atingir esse importante objetivo de vacinar nossas crianças em níveis reconhecidamente protetores, evitando, num futuro próximo, a ocorrência de epidemias com consequências graves, seja pela ocorrência de mortes ou ver seu filho em situação complicada. A hora é agora, se deixarmos para depois talvez seja tarde demais.

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