Em votação popular, Equador decide interromper exploração de petróleo na Amazônia

entro de Processamento Tiputini, da estatal Petroecuador, no Parque Nacional Yasuni, no nordeste do Equador - 21.jun.23/AFP
Da Revista Cenarium Amazônia*

QUITO – Além de decidir os candidatos que disputarão a Presidência em outubro, o Equador votou para suspender a exploração de petróleo numa parte da Amazônia equatoriana em referendo histórico neste domingo, 20.

Os campos em questão ficam no Parque Nacional Yasuni, uma das áreas ambientais mais ricas do mundo, na fronteira com o Peru. Com 93% das urnas apuradas, 59% dos eleitores responderam “sim” à seguinte consulta popular: “Você concorda que o governo equatoriano mantenha o petróleo do ITT [Ishpingo, Tambococha e Tiputini], conhecido como bloco 43, indefinidamente sob o subsolo?“.

Muitos criticaram a formulação da pergunta, já que seria mais lógico responder “não” à exploração.

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Apesar de a área ter sido declarada “reserva da biosfera” pela Unesco em 1989, a estatal Petroecuador extrai petróleo do bloco 43 de Yasuni desde 2016, com aval do então presidente Rafael Correa. Ele tentou, sem sucesso, criar um fundo de preservação com aportes internacionais para evitar a exploração.

Quem advogou pelo “não” no plebiscito argumentou que a paralisação provocará perda de receitas para o país, que passa por uma grave crise de segurança. Já quem defendeu o “sim” destacou o alto impacto da atividade para a natureza e os povos indígenas da região. A polêmica atraiu a atenção de celebridades, como o ator de Hollywood Leonardo DiCaprio e a ativista ambiental Greta Thunberg.

O parque Yasuní cobre mais de 1 milhão de hectares e abriga pelo menos 2.000 espécies de árvores e arbustos, 204 de mamíferos, 610 de pássaros, 121 de répteis, 150 de anfíbios e 250 de peixes. É também o lar de várias populações indígenas, incluindo pelo menos duas das últimas tribos “isoladas”.

Segundo estimativas do governo, o bloco 43 fornece 12% dos 466 mil barris de petróleo produzidos por dia pelo país. A gestão do atual presidente, Guillermo Lasso, diz que o fechamento das operações vai gerar a perda de US$ 1,2 bilhão (R$ 6 bilhões) por ano, o que equivale a 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) local.

Os equatorianos decidiram que esse é um preço pequeno a pagar. “Acho que não vale a pena, não compensa explorar o pouco que nos resta de natureza por isso, então votei contra [sim]“, dizia a estudante Daiana Abril, 25, na porta de um colégio eleitoral em Magdalena, bairro periférico de Quito, pela manhã.

A estudante Daiana Abril. (Júlia Barbon/Folhapress)

Ela criticou a pergunta que estava nas cédulas de papel. “O mais lógico seria responder ‘não’ à exploração de petróleo“, afirmou. O funcionário público Wilson Chulde, 57, foi na mesma toada: “Votei no ‘sim’, mas muita gente vai votar errado por não entender a questão, fizeram ao contrário para confundir“.

Confusos ou não, os equatorianos acabaram optando pela retirada dos maquinários da Amazônia. “Esperamos que nosso exemplo inspire outros países“, disse à BBC antes da votação Pedro Berneo, um dos líderes do Yasunidos, grupo ambiental que faz campanha há dez anos pelo referendo.

(*) Com informações da Folhapress

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