Especialistas criticam desmonte dos ministérios dos Povos Indígenas e do Meio Ambiente

Mulheres símbolos do Governo Lula: Sonia Guajajara e Marina Silva (Thiago Alencar/Revista Cenarium)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um dia após as decisões, no Congresso Nacional, que impactaram, diretamente, nas pastas das ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas), a REVISTA CENARIUM conversou com cientistas sobre os impactos que as decisões provocam nas duas pastas e o desgaste que as medidas trazem ao Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Da pasta de Marina retiraram o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a Agência Nacional de Águas (ANA). De Sonia Guajajara transferiram a atribuição para a demarcação das terras indígenas para o Ministério da Justiça, chefiado por Flávio Dino (PSB-MA).

Para o sociólogo do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Luiz Antônio é preciso ter leitura da realidade. “Primeiro é importante lembrar que o presidente Lula foi eleito dentro de uma conjuntura, conjuntura essa que deu a ele entre 130, 140 deputados que o apoiam. Do outro lado temos mais de 300 parlamentares que são do campo da direita e extrema-direita. Esses deputados, hoje, estão fazendo o que eles sempre fizeram: política! É preciso que a sociedade saia das salas, casas, gabinetes e vá pressionar esses deputados e senadores”, analisou.

Plenário do Congresso Nacional (Reprodução/Agência Senado)

Questionado se é possível reverter, Luiz Antônio comentou: “É da competência do governo organizar seus ministérios, e a única limitação que ele possui é se caso queira aumentar os gastos por isso, acredito que ele tem liberdade e espaço para reverter no jeito Lula de governar, ou seja: ele vai negociar com o Congresso e vai dividir esse ônus, porque é assim que o Lula governa“, observou. “Ele vai dizer: é assim que vocês querem? Ok! Quando a fatura chegar, e ela vai chegar, eu vou jogar no colo de vocês”, previu.

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Efeito simbólico

Para o antropólogo Alvatir Carolino, os congressistas da direita e extrema-direita mandaram um recado: “Isso é fruto de um Congresso conservador e com muita representação da extrema-direita. As ações políticas de Estado dos ministérios não deixarão de existir, mas o efeito simbólico é cruel e de caráter de preconceito etnorracial e misógino, pois de ações que seriam coordenadas e executadas por ministérios cujas gestões estão sob comando de uma mulher indígena e outro de uma mulher negra, e ambas têm origem política em movimentos de base social”, avaliou.

Demarcações de terras indígenas estão no centro do debate nacional (Reprodução/Internet)

Para o especialista, as ações foram coordenadas para evidenciar que a extrema-direita está presente e ativa. “Esvaziam os ministérios dos Povos Indígenas e do Meio Ambiente na intencionalidade de diminuir a importância e a projeção nacional e internacional de Sonia e Marina. Essa questão não se encerra aí, é possível que o presidente faça vetos, é possível que as ações sejam executadas de forma interministerial e, assim, os signos que as duas ministras emprestam ao governo permaneçam em evidência”, declarou.

O debate ambiental também move a agenda política do País (Lula Sampaio/AFP)

Alvatir conclui que o simbolismo moveu os parlamentares a tomar as decisões. “Bourdieu (sociólogo) nos ensina sobre o poder simbólico e, aqui, estamos com fatos cuja questão é extremamente simbólica. O governo fez uma estrutura simbólico-fundamental e o Congresso desestruturou o poder simbólico das pastas dirigidas por duas mulheres, uma indígena e outra negra. É racismo, misoginia, e eu diria que há também medo político da projeção que essas mulheres podem alcançar junto à percepção mais ampla da sociedade brasileira”, finalizou.

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