Estiagem gera desabastecimento, inflação e desemprego na Amazônia, avaliam especialistas

Estiagem no Lago do Aleixo, em Manaus. (27.set.23 - Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)
Yana Lima – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – No Amazonas, onde os rios fazem a vez de estradas, a Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac) projeta que mais de 60% das cargas que dependem do transporte fluvial na região podem não conseguir transitar no Amazonas no último trimestre deste ano, por causa da estiagem. A informação é do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva.

Os prejuízos afetam desde as comunidades ribeirinhas, onde o alimento não chega, até as grandes indústrias, que ficam sem componentes e insumos. Como efeito cascata, isso gera menos produção, e as empresas podem ser forçadas a reduzir suas operações e, consequentemente, a redução do Produto Interno Bruto (PIB) e o desemprego. Com o segundo maior porto nacional em movimentação de contêineres de cabotagem, Manaus desempenha papel crucial na economia da Região Norte e do Brasil.

Os barcos de recreio são conhecidas embarcações de transporte fluvial da Amazônia (Reprodução/amazoniasemfronteira)

A estiagem e a baixa profundidade dos rios restringe a navegação, e muitos municípios estão praticamente isolados, o que ameaça tanto o transporte de cargas de Manaus para abastecer comércios, distribuições varejistas e atacadistas, quanto o escoamento de produções agrícolas e de produtos que têm cadeias operando no estado. Como resultado, os preços são afetados, contribuindo para um aumento na inflação dos produtos nos municípios amazonenses.

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O economista Inaldo Seixas avalia que os efeitos econômicos desta crise são muito negativos, e as consequências se estendem a todos os setores da economia da região. “O setor industrial, incluindo a Zona Franca de Manaus (ZFM), sofre com dificuldades no envio de cargas e no recebimento de insumos, afetando sua operação. Os navios de grande tonelagem, que atuam no transporte de produtos, enfrentam desafios tanto na entrega de mercadorias quanto na coleta de insumos. Além disso, outros setores, como comércio e serviços, que dependem fortemente de produtos de outros estados, também estão sendo prejudicados”, avalia.

Antônio Silva é presidente da Fieam (Foto: Divulgação / Fieam)

Os efeitos da estiagem na economia são imediatos. Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), a indústria amazonense está entre os setores que sofrerão prejuízos severos. “Diante desse cenário alarmante, as indústrias do Polo Industrial de Manaus (PIM) estão preocupadas com a possibilidade de não conseguirem cumprir os prazos de entrega dos produtos encomendados para as festas de final de ano”, destaca.

Estiagem e Transporte Fluvial

Em análise para a Abac, o diretor de operações logísticas, Maurício Trompowsky, destaca a importância do transporte fluvial na bacia hidrográfica amazonense. Em 2022, mais de 71 milhões de toneladas de cargas foram transportadas na região, com o Rio Amazonas como via principal, movimentando alimentos, materiais de construção, insumos industriais e combustível.

Porto de Manaus coberto por fumaça (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

A Agência Nacional de Água e Saneamento Básico (Ana) relatou uma redução de 40% a 50% na capacidade de navegação, devido à seca do Rio Amazonas, que se aproxima do menor nível de sua história. “A situação é tão grave que a Marinha restringiu a navegação noturna em pontos críticos da Bacia Hidrográfica do Amazonas por meio da Portaria Nº 158, publicada em agosto no Diário Oficial da União (DOU) pela Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental (CFAOC)”, pontua.

Soluções
O economista Inaldo Seixas (Reprodução)

Para o economista Inaldo Seixas, é preciso a adoção de medidas governamentais, que vão além das medidas emergenciais. “O governo precisa tomar medidas imediatas para enfrentar essa situação, tanto a curto prazo, com a utilização de recursos aéreos para transportar produtos essenciais às populações afetadas, como também a médio e longo prazo, adotando estratégias para tornar essas regiões menos dependentes do transporte fluvial”, sugere.

A Fieam concorda que é necessário empenho e apoio das autoridades federais, estaduais e municipais para mitigar os problemas causados pela intensidade da estiagem a qual atravessamos. “A Fieam está à disposição para colaborar no que for possível na construção das soluções conjuntas para minimizar os impactos da seca na economia do estado e, por conseguinte, na vida da população amazonense”, pontua.


Em recente visita a Manaus, o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou a realização de duas obras de dragagem, uma no Rio Solimões e outra no Rio Madeira, para recuperar a capacidade de navegação de ambos. A primeira obra terá oito quilômetros de extensão, com duração de 30 dias e custo de R$ 38 milhões. A segunda, de 12 quilômetros, terá duração de 45 dias e custo de R$ 100 milhões.

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