Estudantes protestam contra evento na Ufopa sobre regularização de garimpo ilegal

Estudantes foram para a frente da universidade com cartazes contrários à temática sobre regularização (Divulgação)
Michel Jorge – Da Revista Cenarium

BELÉM (PA) – Acadêmicos da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) protestaram na sexta-feira, 28, após a instituição ceder espaço para que a Frente Parlamentar de Vereadores Mato Grosso/Pará realizasse um evento com a temática “Regulação do Garimpo”. Após o anúncio de que defensores do garimpo estariam no local, estudantes foram para a frente da universidade com cartazes contrários à temática sobre regularização.

Nas redes sociais, um garimpeiro, identificado como Chico, reagiu aos protestos dos acadêmicos e defendeu a atividade garimpeira. Ele afirmou que a discussão é necessária e que o mercúrio produzido pelo garimpo não é o responsável por poluir os territórios dos povos indígenas. Segundo o garimpeiro, acusação sobre a poluição “não passa de ideologias esquerdistas implantadas na mente dos jovens”.

A contaminação por mercúrio é comum em comunidades que dependem da pesca como fonte de alimentação (Vinícius Mendonça/Ibama)

A afirmação vai contra o laudo divulgado pela Polícia Federal (PF), em que afirma que a contaminação pelo metal pesado tóxico ameaça a vida de 76,7% dos 43 indígenas da Terra Yanomami, avaliado pela PF. A contaminação por mercúrio é comum em comunidades que dependem da pesca como fonte de alimentação, especialmente, em regiões onde há exploração ilegal de ouro. A mineração ilegal de ouro é uma ameaça constante à integridade ambiental e à saúde das comunidades indígenas que habitam a região, segundo órgãos de saúde.

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Contra a atividade garimpeira foi que os acadêmicos protestaram, levando em consideração a atividade ilegal na região do Tapajós, no Pará. Para o coordenador do Diretório Acadêmico Indígena, Alexandre Arapium, é contraditório uma instituição que produz conhecimento, inclusive, sobre a contaminação por mercúrio da população do Tapajós, ceder seu espaço para a realização do evento. Ele diz, ainda, que foi um susto receber a notícia, porque o evento levanta questões nocivas às populações tradicionais.

“Durante o dia, a gente fez o ato na universidade, onde conseguimos fazer um ‘escracho’ mesmo, conseguimos ir pra cima, tirar as pessoas de lá. [Eles] foram para a Câmara, a gente foi lá também, os estudantes da universidade, os estudantes indígenas, marcar espaço não só na universidade, mas também na Câmara, por entender que ali também é um espaço nosso”, relatou Arapium.

Os protestos foram marcados por atos pacíficos com uso de faixas e cartazes que traziam mensagens contra a legalização do garimpo. Alexandre não aceita a falta de posicionamento da universidade. “O fato da universidade não organizar o evento não significa que ela está isenta dessa discussão, porque a universidade tem o poder de dizer se vai sediar ou não uma atividade”. Ainda lembra que a Ufopa, apesar de nova, com pouco tempo de existência, já passou por casos similares.

“A universidade já tem histórico, inclusive, em outras gestões, de perseguição às lideranças indígenas e recentes casos de racismo. Então, quando a universidade abre a porta para sediar atividades como essa, ela está assinando embaixo que, ainda assim, reproduz atitude racista dentro da universidade”, afirmou Arapium sobre a necessidade de se posicionar como mecanismo para combater atitudes que ameaçam o território e a cultura de populações tradicionais.

Durante o evento, estava previsto a assinatura da “Carta de Santarém”, que firmaria o compromisso com os “avanços” sobre temáticas como a regularização fundiária, projeto Flona do Jamanxim, projeto Ferrogrão (ferrovia que liga Mato Grosso ao Pará), regularização dos garimpos, dentre outros.

Ufopa

A reportagem da REVISTA CENARIUM entrou em contato com a assessoria de comunicação da Ufopa sobre o evento. A instituição afirmou que o evento foi organizado por instituições externas, sendo a universidade responsável apenas por ceder o espaço. Ao serem questionados sobre as reivindicações dos estudantes, afirmaram que “alunos têm liberdade para se manifestarem dentro ou fora da universidade sobre qualquer tema”. 

Leia também: Saiba o que é cianeto, substância tóxica usada no garimpo ilegal para substituir mercúrio
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