Saiba o que é cianeto, substância tóxica usada no garimpo ilegal para substituir mercúrio

Garimpeiro trata o ouro em garimpo ilegal no rio Madeira, Amazonas. (25nov21 - Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – O cianeto, composto químico utilizado para o refino de minério, tem sido usado no garimpo ilegal como substituto ao mercúrio. É o que explicam especialistas consultados pela REVISTA CENARIUM e o que indicou a operação “Operação Déjà Vu”, da Polícia Federal, no Amazonas, que identificou o uso da substância tóxica na atividade clandestina no Estado.

O cianeto pode ser encontrado em diversas formas: o cianeto de hidrogênio, um gás incolor; cianetos de sódio e de potássio, em forma de pó branco; e cloreto de cianogênio, que pode ser líquido ou gasoso. O último é utilizado na indústria para a síntese de herbicidas e extração de ouro e prata. O cianeto, além de ser empregado como composto químico, já foi usado como arma química e agente para suicídio, como, por exemplo, em campos de extermínio alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

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Garimpeiro trata o ouro em garimpo ilegal no Rio Madeira, no Amazonas. (25nov21 – Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

A substância química tem a mesma função do mercúrio: é utilizada para aglomerar o ouro garimpado. Os dois produtos agridem o meio ambiente e são altamente tóxicos. Terras, rios e lagos ao redor do garimpo podem ficar estéreis por tempo indeterminado.

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De acordo com o professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e coordenador do Núcleo de Estudos Socioambientais da Amazônia (Nesam), Pedro Rapozo, o cianeto passou a ser utilizado no garimpo ilegal por causa das dificuldades encontradas na rota do tráfico do mercúrio, composto químico comumente usado pelos garimpeiros.

“A falta de acesso do mercúrio em algumas regiões tem impossibilitado o uso desse componente químico que tem procurado outras formas de extração do ouro de maneira ilegal no garimpo”, afirmou ele.

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Professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e coordenador do Núcleo de Estudos Socioambientais da Amazônia (Nesam), Pedro Rapozo (Arquivo pessoal)

Rapozo menciona, ainda, que apesar das substâncias serem encontradas naturalmente no ecossistema, o grande problema está ligado ao manuseio dos componentes químicos quando se trata da sua forma antropogênica, utilizada pelos seres humanos no caso da mineração. “O mercúrio é um componente químicos que bioacumula, da mesma forma que o cianeto, e a consequência disso vai gerar inúmeros impactos na população humana”, afirma.

Riscos ao organismo

A especialista em Toxicologia e Gestão de Segurança Química Camilla Colasso explica, no artigo “Vamos conhecer mais sobre o Cianeto?”, que a substância, considerada um composto extremamente tóxico, causa a interrupção do metabolismo aeróbico nas células. Com isso, as células do tecido não conseguem utilizar o oxigênio, consequentemente não há o funcionamento adequado e ocorre a morte celular.

“Tal efeito, a depender da concentração do cianeto e a via de exposição, pode provocar a hipóxia tecidual [condição em que os tecidos não são adequadamente oxigenados] e a morte em poucos minutos”, afirma.

Entre os sintomas leves da exposição ao composto químico estão: náuseas, tontura e sonolência; pessoas com exposição moderada podem ter perda de consciência por curto período, convulsão, vômito e cianose; e, na exposição severa, coma profundo, pupilas dilatadas não reativas, deterioração da função cardiorrespiratória, levando à morte.

Garimpo ilegal no Rio Madeira, no Amazonas. (25nov21 – Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Operação Déjà Vu

A Polícia Federal (PF) deflagrou, no último dia 19 de abril, a “Operação Déjà Vu”, para reprimir crimes contra usurpação de bem público da União, decorrentes do garimpo ilegal na região conhecida como Filão dos Abacaxis, Sul do município de Maués, distante 258 km de Manaus, no Amazonas.

As investigações tiveram início por meio de denúncias de moradores de poluição das águas e morte de peixes e demais animais que servem de alimentação para comunidade local. Um laudo pericial constatou “Um sofisticado esquema de lavagem de capitais com o uso de Permissões de Lavra Garimpeira (PLGs) sem nenhuma ou com pouca intervenção humana, atividade conhecida como esquentamento do ouro”.

Conforme análise do laudo pericial, o garimpo utilizava cianeto, e o dano ambiental configurado já ultrapassava a cifra de R$ 429.620.980,27, considerando o dano ambiental e o ouro extraído. Foram cumpridos seis mandados de prisão temporária e dez ordens judiciais de busca e apreensão expedidas, nas cidades de Manaus e Nova Olinda, ambas no Amazonas, Goiânia, em Goiás, Itaituba, no Pará, e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Operação Déja Vu, no Amazonas, em área de garimpo ilegal destruído pela PF em Maués (ICMBio)
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