Estudo brasileiro quer descobrir os impactos da Covid-19 na população trans

O questionário online possui 18 perguntas e ficará disponível para ser respondido a partir desta quarta-feira, 3 (Divulgação)

Da Revista Cenarium*

Um mapeamento de âmbito nacional quer radiografar os impactos da pandemia do novo Coronavírus numa parcela da população ainda muito vulnerável no Brasil: as pessoas trans.

A pesquisa, desenvolvida pelo Cedec (Centro de Estudos em Cultura Contemporânea), buscará saber como a doença atingiu a população T e como essas pessoas estão garantindo o sustento e o acesso aos equipamentos públicos de saúde durante a pandemia.

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“E mais do que isso: se elas estão mais vulneráveis às situações de violência”, conta Giordano Magri, um dos gestores da pesquisa.
O questionário online possui 18 perguntas e ficará disponível para ser respondido a partir desta quarta-feira, 3.

A maioria das estatísticas brasileiras referentes à população trans são fornecidas por entidades. Segundo a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos. Em 2019, 124 pessoas trans -a maioria, de travestis-, foram assassinadas.

A estimativa da Antra é que 1,9% das brasileiras e dos brasileiros sejam trans.

Segundo Magri, mais do que novos problemas, a pandemia aprofundou questões sociais que já atingiam as pessoas trans antes da crise sanitária.

“Todo mundo já viu na mídia os impactos causados pelo coronavírus em todos os segmentos sociais, mas ninguém mostrou o que está acontecendo com a população T nesse período atípico”, diz.

A Folha de S.Paulo percorreu em abril vários pontos da região central da cidade de São Paulo para mostrar o cotidiano das pessoas trans que viviam nas ruas durante a pandemia.

A reportagem encontrou mulheres trans com tuberculose e que só não estavam numa situação ainda pior porque recebiam alimentos, cobertores, utensílios de cozinha e medicamentos doados pela população.

Dados do censo da prefeitura mostram que a população de rua na capital paulista chegou a 24.344 pessoas em 2019 -uma alta de 53% em quatro anos. Em 2015, as pessoas nessa situação somavam 15,9 mil. O problema é que essa contagem não detalha as pessoas trans sem-teto.

Mapeamento em São Paulo

Desde janeiro, um mapeamento pioneiro financiado a partir de emenda do vereador Eduardo Suplicy (PT) busca saber justamente quantas são e como vivem as pessoas trans na capital paulista. O trabalho de campo ocorreu até março por causa das restrições impostas pela pandemia.

Na primeira fase da pesquisa, foram realizados 903 entrevistas em centros de convivência e eventos da comunidade LGBTI da cidade. A Folha teve acesso aos dados parciais. Entre os respondentes, 44% se identificaram como mulher trans, 27% disseram ser travestis, 19% homens trans, 7% não binária e 3% apresentaram outras identidades.

Até antes da pandemia, cerca de 54% das pessoas trans entrevistadas exerciam alguma atividade remunerada e outras 39% recebiam bolsa ou outro auxílio do estado.

Outro dado importante refere-se ao uso dos serviços públicos de saúde.

Pouco mais de sete em cada dez respondentes disseram usar com frequência as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e as AMAs (Assistência Médica Ambulatorial), o que “indica tanto a importância do SUS [Sistema Único de Saúde] para o tratamento contínuo dessa população, quanto a necessidade de expansão da política pública de trabalho e renda”, segundo o relatório da pesquisa.

Na segunda fase do levantamento, que será feito exclusivamente por telefone, a meta é alcançar as pessoas trans que utilizam os equipamentos de saúde, os serviços das bombadeiras -travestis que fazem aplicação clandestina de silicone; além das cafetinas.

“Tivemos que retomar a pesquisa no regime de home office porque muitas das entrevistadoras -a maioria trans- também passaram por dificuldades financeiras. Algumas até entraram até em situação de rua”, conta Magri.

Após mapear a parcela mais aparente da população T, os pesquisadores terão o desafio de entrar na rede de contatos das pessoas já entrevistadas para localizar outros trans. Na pesquisa social, a estratégia é conhecida como bola de neve e é usada para “furar a bolha” entre grupos de difícil acesso.

1,9% – é a estimativa de participação de pessoas trans no total da população brasileira

210 milhões – é o total de habitantes do Brasil

35 anos – é a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil

76,3 anos – é a expectativa de vida da população brasileira

124 casos – de assassinatos contra trans foram registrados em 2019 no país

0,2% – é a participação de estudantes trans nas universidades federais brasileiras

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