Estudo revela que árvore amazônica pode recompor áreas de garimpo

Folhas de pau-de-balsa (Ochroma pyramidade) (Divulgação/Embrapa)
Da Revista Cenarium*

SÃO PAULO – O uso do mercúrio na extração de ouro pode estar com os dias contados. Pesquisas mostram que folhas de uma planta da região amazônica poderão ser a solução. Além de resolver uma série de problemas deixados pelo uso do mercúrio, a planta recomporá áreas removidas pelos próprios garimpos.

Pesquisadores da Embrapa, cooperativa de garimpeiros, três universidades e até o setor de joias estão voltados para esse projeto, que visa a obtenção de um extrato das folhas de pau-de-balsa (“Ochroma pyramidade”). A árvore, frondosa, com crescimento rápido, e que pode atingir 30 metros, tem vários nomes populares, como pau-de-balsa, pau-de-jangada, pata-de-lebre e outros, dependendo da região do País.

“Não estamos inventando a roda, mas tentando melhorá-la”, diz Marina Morales, pesquisadora da Embrapa Florestas e responsável pela condução dos estudos. A fala tem sentido, porque a utilização da folha do pau-de-balsa já ocorre, embora de forma artesanal, na região de Chocó, na Colômbia.

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O que se pretende, agora, é obter um bioextrato, retirado das folhas da árvore, para que seja um bioextrator do ouro e, se competitivo, um possível substituto do mercúrio. Na Colômbia, a planta mostrou viabilidade como substituta do mercúrio na extração do ouro, quando feita a “céu aberto”.

Morales ainda prevê muitos desafios dentro do laboratório. O caminho traçado pelo grupo, no entanto, tem grandes chances de obter uma produção em escala. A pesquisa está sendo bem aceita, mas ela acredita que ainda terá de tirar muita gente da zona de conforto no desenrolar do projeto.

A primeira parte do estudo, que se iniciou em 2020, visou elevar o potencial do que já está sendo feito, com a caracterização química das folhas do pau-de-balsa. O objetivo é buscar um extrator mais competitivo do que o mercúrio, ou pelo menos igual, afirma a pesquisadora.

Neste ano, o estudo entra na segunda fase, com o intuito de melhorar o bioextrato. Por meio da Coogavepe (Cooperativa dos Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto), na região de Peixoto de Azevedo (MT) serão recolhidas amostras para a comparação entre a extração tradicional com mercúrio e o bioextrator da folha de pau-de-balsa. A cooperativa reúne 150 garimpos de pequena escala liberados para minerar.

‘Ochroma pyramidade’, também conhecida por pau-de-balsa e pau-de-jangada (Reprodução/Wikimedia Commons)

A extração do ouro em “céu aberto” é feita com a remoção do solo e a utilização de jatos de água para a separação de minérios, gerando o “concentrado”. O passo seguinte é a utilização do mercúrio para a separação do ouro de outros minerais.

Nesse último passo, os pesquisadores vão utilizar o bioextrator do pau-de-balsa, em vez do mercúrio. Na primeira fase do projeto, foram apuradas quatro possíveis formulações, que serão testadas e aprimoradas para ver qual melhor substitui o mercúrio.

A pesquisadora da Embrapa diz que o objetivo é ter um bioextrator atóxico competitivo, de maneira que possa ser utilizado não apenas de forma artesanal, mas também por pequena mineração, com indicação de análises de toxicidade e de citotoxicidade.

Os testes nas novas formulações vão indicar a toxicicidade do produto. Será medida a atuação do bioextrator em pequenos crustáceos e feita a varredura química deles para avaliar possíveis interferências. A citotoxicidade mede os efeitos do produto, tanto em modelo animal, quanto em vegetal.

O bioextrator, em fase final e já melhorado, será posto em contato com raízes de plantas — nesse caso, a cebola — para verificar eventuais aberrações. No modelo animal, o teste será em peixes.

São normais ajustes finos no desenrolar de uma pesquisa, mas Morales crê que, a partir de 2025, a fase de laboratório passe para a de testes em garimpos de pequena escala. Em um cenário ideal, uma nova etapa do processo seria encaminhada, a da produção das árvores de pau-de-balsa em área próxima à dos garimpos.

Leia também: Amazônia: estudo mostra que bioma tem 30 a 40 mil espécies só de plantas

A proximidade do plantio das árvores aos garimpos tem vários fatores positivos. Permite a montagem de uma biofábrica na própria região, evitando o transporte de folhas e reduzindo custos. O plantio serve para uma revegetação das áreas já utilizadas pelos garimpos e para a exploração comercial da madeira de pau-de-balsa. Leve e resistente, a madeira tem várias utilidades, que vão de hélices para geradores de energia eólica a artesanatos e brinquedos.

A introdução do pau-de-balsa na extração do ouro trará uma série de benefícios, que vão da proteção à saúde dos trabalhadores e da população ribeirinha a maior sustentabilidade ambiental e econômica.

A utilização do mercúrio em áreas específicas de manipulação em garimpos legalizados pode diminuir a liberação desse metal no ambiente, o que não ocorre nos garimpos ilegais. O problema maior do mercúrio é ser cumulativo, diz a pesquisadora. Vai seguindo na cadeia e traz sérios riscos de saúde e ao ambiente, podendo levar, no caso humano, a uma síndrome neurodegenerativa.

Além da Embrapa Florestas, participam dos estudos do desenvolvimento do extrato a Embrapa Agrossilvipastoril, a Coogavepe, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMG), a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O estudo preliminar foi financiado por Raquel de Queiroz, designer de joias.

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(*) Com informações da Folhapress
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