Explosão atinge aeroporto de Cabul em meio à retirada acelerada dos EUA

Feridos chegam a hospital em Cabul, capital do Afeganistão, após explosão no aeroporto da cidade (Asvaka News via Reuters)

Com informações da Folhapress

SÃO PAULO (SP) – Uma explosão atingiu os arredores do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul, onde afegãos e ocidentais se concentram para tentar uma vaga na evacuação liderada pelos Estados Unidos do País sob o Talibã.

Segundo relatos de autoridades americanas, tudo indica que foi um ataque suicida e que civis afegãos ficaram feridos. O ataque ocorre depois que a Casa Branca e seus aliados alertaram sobre riscos iminentes de ataques terroristas do Estado Islâmico, o que impactou na operação.

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Momento em que feridos chegam ao hospital em Cabul foi registrado pela população


A percepção de que o Ocidente está correndo para minimizar seu fiasco no Afeganistão, evidenciada na decisão de alguns países de suspender seus voos de evacuação nesta quinta, 26, gerou uma renovada corrida de pessoas desesperadas às imediações do aeroporto da capital.

Segundo relato de diplomatas ocidentais ainda na cidade a agências de notícias, o fluxo que havia sido contido por bloqueios do Talibã aumentou muito. O prazo limite para a ação com presença militar estrangeira é a próxima terça, 31.

Americanos e ocidentais diziam haver a ameaça terrorista associada ao Estado Islâmico Khorasan, a filial afegã do famoso grupo extremista que chegou a dominar vastas áreas na Síria e no Iraque em meados da década passada.

“Não posso ser mais enfático sobre o desespero da situação. A ameaça é real, iminente, letal”, afirmou o ministro das Forças Armadas britânico, James Heappey, corroborando o relato feito na noite de quarta pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken.

A Austrália fez um alerta de segurança semelhante, suspendendo operações. Embora o risco evidentemente seja real, como a explosão prova, os dedos apontados ao EI são também convenientes para diluir o dano à imagem ocidental.

Ele começou com a decisão do presidente Joe Biden de antecipar a saída de suas tropas de forma acelerada. Quando o Talibã iniciou sua ofensiva final, no começo de agosto, 95% dos militares ocidentais já haviam saído do país ocupado desde 2001 – quando o Talibã foi derrubado por apoiar a Al Qaeda, que cometera o 11 de Setembro.

Primeiro, os EUA não anteciparam o colapso do governo afegão em duas semanas, com a vitória talibã de 15 de agosto. Depois, fracassaram em organizar uma saída ordeira do País, gerando cenas como a de pessoas caindo de aviões decolando.

Essa debacle foi acompanhada por uma mudança de tom de Biden. Primeiro, o americano pintou um cenário racional e róseo. Depois, lavou as mãos. Ao fim, voltou a se preocupar, enfatizando que “muita coisa podia dar errado”.

Aí que entra a ameaça associada ao EI. Se por um lado ela ajuda o discurso do Talibã, de que não permitiria a operação de evacuação passar da data limite, por outro vai contra tudo o que o grupo tem pregado para tentar obter reconhecimento internacional.

Que os talibãs mintam, isso é de sua história: chegaram ao poder pela primeira vez em 1996 prometendo as mesmas estabilidade e garantias a adversários, mulheres e minorias. O deixaram com a fama de açougueiros medievais.

Mas o EI afegão é adversário do Talibã. Guardas talibãs, por sua vez afiliados à rede terrorista aliada Haqqani, disseram a repórteres da agência Reuters que também temiam um ataque em Cabul. Até aqui o EI nunca se mostrou como um adversário consistente do grupo.

Ele pode, claro virar uma força assimétrica desestabilizadora, mas analistas de terrorismo costumam avaliar mais a possibilidade de eles virem a associar-se ao Talibã do que combatê-lo. Uma alternativa crível é de que o grupo esteja usando o espantalho EI para afugentar de vez os ocidentais, como prepostos para garantir negativas plausíveis de radicalismo.

Seja como for, o perigo ajuda a justificar a decisão de Biden de não encarar o Talibã e estender o prazo da operação, como queriam Reino Unido, Alemanha e França. Nesta quinta, o esforço de países do norte europeu comandado por uma ponte aérea da Bélgica já havia sido suspenso, provavelmente de forma definitiva.

Cargueiros C-130 Hércules belgas faziam em média cinco voos de ida e volta a Islamabad, no Paquistão. Em seis dias, tiraram 1.400 pessoas de Cabul, em nome da Bélgica, da Holanda e da Dinamarca. Ao todo, a operação militar já tirou desde 14 de agosto impressionantes 95,7 mil pessoas de Cabul, segundo informou a Casa Branca nesta quinta. Isso dá pouco mais de 2% da população da capital.

Na quarta, Blinken havia dito que o Talibã se comprometera a permitir que pessoas que desejem deixar o País em voos comerciais, ocidentais ou afegãos, o façam depois do dia 31. Parece duvidoso, dadas as declarações anteriores de Zabihullah Mujahid. O porta-voz afegão havia dito para os EUA pararem de incentivar o êxodo de afegãos qualificados, pois o novo governo precisaria deles.

Além disso, seguem os relatos de violência de talibãs contra pessoas que tentam ir ao aeroporto, fora as buscas casa a casa de antigos colaboradores ocidentais. Não existe, obviamente, algum número, mas é factível que centenas de intérpretes e auxiliares tenham ficado para trás – só os EUA contavam 18 mil pessoas que haviam trabalhado ao longo dos anos na embaixada de Cabul.

Com a corrida final para fugir da capital, os EUA começaram a retirar inclusive os seus 6.000 militares enviados para a operação no aeroporto. Com isso, aliados como a França disseram que sua evacuação acaba nesta sexta, 27.

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