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Filme da Disney, ‘Mundo Estranho’ tem herói gay em busca do seu final feliz
É a primeira vez que a empresa do Mickey põe um personagem LGBTQIA+ em papel de destaque num longa-metragem (Reprodução)
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24 de novembro de 2022
Da Revista Cenarium*
MANAUS – Ethan Clade, um garoto negro de 16 anos que está apaixonado por outro menino, é um dos protagonistas de “Mundo Estranho”, nova animação da Disney que chega aos cinemas nesta quinta-feira.
É a primeira vez que a empresa do Mickey põe um personagem LGBTQIA+ em papel de destaque num longa-metragem, decisão que ocorre oito meses após a produtora ter sido acusada por funcionários de censurar cenas gays em seus filmes.
A história de “Mundo Estranho” se passa nas terras de Avalônia, um local que depende de uma planta para ter energia elétrica. Quando o vegetal é ameaçado de contaminação, a família de Ethan sai em missão para tentar salvar as plantações daquele lugar. No caminho, eles encontram um parente desaparecido e precisam enfrentar várias criaturas perigosas.
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A Disney vende orelhas de Mickey pintadas com as cores da bandeira LGBTQIA+ em seus parques de diversão, mas raramente inclui personagens da comunidade nos filmes. Em março, funcionários da Pixar, que pertence à Disney, divulgaram uma carta em que acusavam a produtora de cortar cenas de afeto entre personagens do mesmo sexo.
Três meses depois, em junho, a Pixar lançou “Lightyear”, filme que exibe um beijo entre um casal lésbico. Nos filmes produzidos pela Disney mesmo, entretanto, praticamente não há personagens LGBTQIA+.
“Mundo Estranho” começa com uma cena estilosa que apresenta o pai e o avô de Ethan, dois homens com objetivos de vida opostos que se desentenderam em certo ponto da vida. É a partir dessa briga que outros conflitos geracionais se desenrolam ao longo da trama.
A história depois avança 25 anos e introduz Ethan. Depois de ficar constrangido por causa do beija-beija meloso dos pais, o garoto gagueja em frente ao rapaz por quem está caidinho. Sua sexualidade é tratada com naturalidade pelo texto, pelo próprio garoto e pelos personagens ao seu redor —seu pai, Searcher, até brinca com o menino sobre a situação. É como se Avalônia fosse um lugar utópico, livre de preconceitos.
O flerte é jogado para escanteio quando o garoto e sua família embarcam numa nave que explora pedaços desconhecidos daquele mundo estranho. No caminho, Ethan conhece seu avô, faz amizade com um bicho gelatinoso azul, ganha ares de herói e descobre que sua vocação é ser um explorador. Isso deve frustrar as expectativas de seu pai, que sonha em ver o filho como fazendeiro.
Conflitos familiares e autodescoberta são temas batidos dentro da Disney, mas aqui os assuntos ganham brilho por causa da representatividade carregada pelo garoto. Se na história o pai se decepciona com o filho, nada tem a ver com sua sexualidade. A briga é por causa de sonhos, de profissão e de vocação —clichês que atravessam a vida de qualquer um, sendo gay ou não.
Será curioso notar a repercussão desse filme entre os conservadores. “Lightyear”, por exemplo, não recebeu autorização para estrear em ao menos uma dúzia de países, como os Emirados Árabes Unidos, o Egito e a Indonésia.
“Mundo Estranho” até tenta chamar a atenção do público para seus cenários exuberantes e ultracoloridos, além de querer empolgar com as cenas de batalhas entre humanos e criaturas inusitadas, mas o espetáculo do filme está mesmo na evolução dos personagens.
A mãe de Ethan, por exemplo, também descobre sua verdadeira vocação durante a viagem quando assume o controle da nave. Searcher, o pai, é levado a confrontar seu passado ao se ver de frente com o futuro desejado pelo filho. O avô, por sua vez, precisa quebrar a sisudez que carregou a vida inteira para compreender a individualidade daqueles que ama. É mais uma das animações da Disney que quer falar com adultos e crianças.
O filme se beneficiaria se dedicasse mais tempo de tela aos personagens, especialmente para Ethan –seu conflito com o pai escala de maneira desproporcional à rapidez com que é resolvido. O ato final também soa apressado.
“Mundo Estranho” está longe da originalidade de “Zootopia”, não tem uma história envolvente como a de “Moana” nem as músicas grudentas de “Encanto”. Mas vale o ingresso. É um desenho infantil nos moldes clássicos da Disney, mas com gays que vivem felizes para sempre.
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