Focos de calor aumentam 69% em terras públicas na Amazônia; estudo afirma que ação humana é principal responsável

Focos de calor em área próxima aos limites da Terra Indígena Kaxarari, município de Lábrea (AM) (Christian Braga/Greenpeace)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Os meses de agosto e setembro são tipicamente mais quentes na região Amazônica, quando normalmente se registra aumento nos dados de focos de calor. Segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os focos de calor foram superiores a 74 mil focos em 2022 e já são o maior registro desde 2010.

O artigo publicado na revista Nature Ecology & Evolution, com o título “Record-breaking fires in the Brazilian Amazon associated with uncontrolled deforestation“, cita a ação humana, por meio o desmatamento, como a principal causa dos focos de calor.

Focos de calor em área próxima aos limites da Terra Indígena Kaxarari, município de Lábrea (AM) (Christian Braga/Greenpeace)

A grande incidência de queimadas, em 2010, foi explicada por um evento de seca extrema que ocorreu em grande parte da Amazônia. Já, em 2022, não houve nada semelhante, ou seja, o aumento nos focos de calor estava claramente relacionado com outros fatores“, explica o responsável pelo estudo, pesquisador de pós-doutorado na Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e bolsista da Fapesp, Guilherme Mataveli.

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O estudo ainda analisou a localização desses focos de calor, onde 62% foram detectadas em áreas desmatadas recentemente, se comparado com o mesmo bimestre de 2021, o aumento foi de 71% nessas áreas. Segundo Guilherme, os dados acendem alerta para desmatamento nas Unidades de Conservação e Terras Indígenas. “Nos últimos anos, a Amazônia se tornou mais vulnerável à grilagem e esse aumento expressivo das queimadas é um dos resultados do processo“, afirma o pesquisador.

Conforme o grupo de estudo, 35% dos focos de calor de agosto e setembro de 2022 ocorreram em locais onde o Cadastro Ambiental Rural (CAR), ou seja, o registro de propriedade rural e privada, não é requerido. Esse registro resultou em uma alta de 69% dos focos de calor nas áreas em comparação com o mesmo bimestre de 2021.

Focos de calor decorrente de queimadas (Foto: Victor Moriyama/Greenpeace)

‘TerraBrasilis’

Os dados, retirados do TerraBrasilis do Inpe, mostram ainda que no mês de outubro, os focos chegaram a 13 mil registros, sendo o terceiro mês com maior incidência desde setembro de 2021. Entre os Estados analisados no levantamento, Pará, Mato Grosso e Amazonas se destacam com os maiores registros.

Conforme números apontados desde agosto de 2019, o Pará registrou 124.727 mil focos desde a data inicial. Seguido pelo Mato Grosso, com 65.535 focos e Amazonas, com 62.632. Nos últimos três meses, os Estados tiveram mais de 37 mil focos de calor causados por desmatamento recente.

Estados com maior foco de calor desde 2019 (Reprodução/TerraBrasilis)

Este artigo aponta um problema sistêmico que deve ser seriamente enfrentado pela sociedade. A reversão desse quadro passa pela punição de infratores, implementação de políticas públicas eficientes, comunicação com a sociedade e busca por soluções alternativas, baseadas em ciência de ponta, que sejam sustentáveis para o desenvolvimento da região“, alerta Luiz Aragão, coautor do artigo.

O artigo “Record-breaking fires in the Brazilian Amazon associated with uncontrolled deforestation” pode ser encontrado em: www.nature.com/articles/s41559-022-01945-2. Também está disponível em: https://rdcu.be/cZT77.

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