Garimpeiros são presos pela PF após serem detidos por indígenas na TI Yanomami

Dois garimpeiros estavam sendo mantidos em comunidade por indígenas Yanomami (Reprodução/Hutukara Associação Yanomami)
Winicyus Gonçalves – Da Revista Cenarium Amazônia

BOA VISTA (RR) – A Polícia Federal (PF) prendeu dois garimpeiros venezuelanos que foram detidos por indígenas Yanomami da região do Balawau, na fronteira de Roraima com a Venezuela. Eles foram presos dentro da Comunidade Koherepi, na Terra Indígena Yanomami (TIY), após denúncia de lideranças à Hutukara Associação Yanomami (HAY). A prisão foi realizada na quarta-feira, 20, e divulgada nesta quinta-feira, 21.

Os garimpeiros chegaram na comunidade fugindo de outros invasores, de acordo com a associação. Eles vieram fugindo de outras regiões de garimpo do Parima, Hakoma e Homoxi e chegaram à Comunidade Koherepi, onde foram rendidos pelos Yanomami no posto de saúde da região, que está fechado. Eles não estavam armados e a suspeita é que tenham sido expulsos de regiões de garimpo ilegal, no território, por facções criminosas.

A Hutukara comunicou para a Frente de Proteção Etnoambiental da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) sobre a presença dos garimpeiros para que acionassem a Polícia Federal, Exército e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Por não poder de polícia para transportar os suspeitos, a Funai acionou a Polícia Federal. A corporação informou, em nota, que os suspeitos foram encaminhados à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), onde permanecem à disposição da Justiça.

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A REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA procurou o Ministério da Defesa e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Garimpo na Terra Indígena Yanomami (TIY) (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Retomada

A prisão dos suspeitos foi feita após lideranças indígenas de Roraima denunciarem que garimpeiros voltaram a explorar ouro na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Segundo a Hutukara Associação Yanomami (HIY) e a Urihi Associação Yanomami, eles têm concentrado as ações na madrugada e no período da noite, distante do curso dos rios e mais próximos da fronteira com a Venezuela para escapar das operações.

CENARIUM AMAZÔNIA já havia divulgado um vídeo, no dia 14 de novembro, em que invasores fazem um sobrevoo ilegal de helicóptero a uma região habitada por indígenas Moxihatëtëa que são isolados. O vídeo foi compartilhado no TikTok com o título “índios canibais em Roraima” e foi publicado no dia 13 de novembro, mas foi apagado. Apesar disso, o registro foi feito pela Urihi Associação Yanomami.

Nas imagens, ao menos dois homens falam sobre os indígenas, que estariam lançando flechas contra a aeronave. Um deles diz: “bando de v… (…) olha lá os canibal [sic] para quem nunca viu”. O vídeo foi compartilhado por Herukari, que também é presidente da Urihi Associação Yanomami no Twitter.

Um vídeo cedido pela Hutukara Associação Yanomami (HIY) mostra uma aeronave que sofreu queda na área do Rio Mucajaí, e conforme as lideranças, outras aeronaves tripuladas por garimpeiros sobrevoam o território. Os indígenas relatam, ainda, a presença de maquinários em operação próximo ao Rio Couto de Magalhães, contaminando o rio com lama e mercúrio.

Crise Humanitária

O garimpo e a desassistência em saúde indígena no Governo Bolsonaro levaram a uma explosão de casos de malária, desnutrição grave, infecções respiratórias e outras doenças associadas à fome, como diarreia. Desde o dia 20 de janeiro, a região está em emergência de saúde pública.

Em meio à crise, o governador de Roraima, Antonio “Denarium”, defendeu ao jornal Folha de São Paulo uma assimilação cultural dos indígenas Yanomami. Ele propôs que os indígenas “não podem mais ficar no meio da mata parecendo bicho”.

Em outro trecho da mesma entrevista, Denarium minimizou a desnutrição dos indígenas e disse que não era possível vincular o garimpo de ouro à situação dos Yanomami. Por conta das declarações, o Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito para apurar responsabilidade cível do governador roraimense.

Além das ações de emergência em saúde, o Governo Lula deu início à “Operação Libertação“ para combater o garimpo ilegal no território Yanomami. A operação está prevista para durar de seis meses a um ano e ocorre por meio de ações de patrulhamento, revista de pessoas, veículos terrestres, embarcações e aeronaves e de prisões em flagrante delito.

Leia mais: Lideranças indígenas denunciam retorno de garimpeiros à Terra Yanomami em Roraima
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga
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