Indígena morre e outro é baleado no rosto após ataque de garimpeiros na Terra Yanomami em Roraima

No ano passado, indígenas Yanomamis foram vítimas de uma série de ataques de garimpeiros (Reprodução)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um indígena do Povo Yanomami, identificado apenas como Cleomar, 46 anos, morreu e um adolescente foi baleado no rosto na madrugada de domingo, 2, na Terra Indígena Yanomami, após um ataque de garimpeiros nas proximidades da Comunidade Napolepi, no município de Alto Alegre, interior de Roraima. O episódio foi denunciado nesta quarta-feira, 5, pelo Conselho Indigenista de Roraima (CIR) e pela Hutukara Associação Yanomami.

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Os indígenas estavam juntos com outros três Yanomami em uma tenda comercial instalada na comunidade. O ataque aconteceu por volta de 1h da madrugada, quando homens armados atiraram contra os indígenas, informou o conselho indigenista.

Adolescente foi baleado no rosto (Divulgação)

A associação Yanomami disse que ele foi atingido por vários disparos na testa e no tórax. A outra vítima é um adolescente de 15 anos, que teve o rosto atravessado por uma bala que saiu pela nuca. O jovem está internado em estado grave no Hospital Geral de Roraima.

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De acordo com o CIR, o caso já foi registrado na Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e demais órgãos competentes. Os indígenas solicitaram com urgência a presença da força estatal na área da comunidade.

Garimpeiros e caixa de cachaça

Em nota, a Hutukara Associação Yanomami relatou que dois dos garimpeiros que promoveram o ataque são conhecidos como “Lourinho” e “Palito”, e que ambos fazem parte de uma facção criminosa. Os suspeitos chegaram em dois barcos pelo Rio Uraricoera, na “cantina do Dentinho”, próximo à comunidade Napolepi, onde os indígenas estavam.

“Tentando escapar do ataque, os Yanomami se jogaram na água. Cleomar foi atingido por vários disparos na testa e no tórax e faleceu. Cleomar foi enterrado na comunidade Napolepi, onde os indígenas têm por costume sepultar seus mortos, diferentemente de outros grupos Yanomami”, informou a associação.

A associação relatou que dois dos garimpeiros que promoveram o ataque são conhecidos como “Lourinho” e “Palito” (Reprodução)

Ainda segundo o documento, os indígenas disseram não saber a razão do ataque. “Uma das suspeitas colocadas é referente ao sumiço de uma caixa de cachaça no mesmo local e da acusação de furto por parte dos indígenas”, diz a Hutukara, em trecho da nota.

Insegurança Yanomami

Para o CIR, os indígenas da região vivem um clima de insegurança e ameaça de garimpeiros que é de conhecimento público, além de órgãos de segurança do Estado. Por conta disso, moradores das comunidades Yanomami tentam barrar a passagem de homens do garimpo até a chegada de reforços policiais.

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“Já foram centenas de denúncias relatando a presença dos invasores na TI. Diante da gravidade da situação na região, as lideranças pedem providências urgentes, pois o fato pode resultar em conflitos maiores devido à revolta das comunidades indígenas que decidiram fechar a passagem de garimpeiros até a chegada das forças de segurança”, destacou.

A Hutukara também afirma que o ataque demonstra que a insegurança na região ainda não cessou por conta da “circulação desimpedida de garimpeiros”. “É urgente que se proceda com a desintrusão total do garimpo na Terra Indígena Yanomami e, especificamente, seja concluída a reconstrução da Bape Korekorema. Urgente, ainda, a presença da Força Nacional na região para impedir novos ataques”, pede.

A Hutukara também afirma que o ataque demonstra que a insegurança na região ainda não cessou

Ataques

O ataque a indígenas de Roraima é o segundo em menos de uma semana. No último dia 27, um incêndio criminoso foi registrado na casa de uma liderança do povo Tuxaua da comunidade Mutum, na região do Centro Morro, no município de Uiramutá. A denúncia também foi do CIR. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte I e a Pastoral Indigenista de Roraima chegaram a emitir uma nota de repúdio contra o episódio.

Conforme a denúncia, os suspeitos do ato criminoso usaram combustível de um motor da liderança indígena, que teria sido derramado em volta da casa de alvenaria. “O Cimi e a Pastoral Indigenista manifestam sua solidariedade e apoio ao Conselho Indígena de Roraima, à comunidade de Mutum, à liderança e sua família que perdeu casa e pertences, e aos povos originários do Brasil em sua luta coletiva pela efetivação dos direitos constitucionais”, diz trecho da nota.

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No ano passado, uma série de ataques de garimpeiros também foi registrado contra indígenas do Povo Yanomami da aldeia Palimiu, em Roraima. Entre os dias 10 a 16 de maio, foram registrados ataques a tiros e com bombas de gás lacrimogêneo contra a comunidade indígena, no município de Alto Alegre, resultando em morte de crianças e adultos.

Momento do ataque de garimpeiros contra a aldeia Palimiu, no dia 10 de maio, registrado em vídeo pela comunidade Yanomami (Reprodução)
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