Governador de Rondônia, Marcos Rocha foi à COP27 e decidiu não assinar a carta pró-Amazônia

(Reprodução/Redes Sociais)
Da Revista Cenarium*

MANAUS – O governador de Rondônia, Marcos Rocha (União), decidiu não endossar a carta com compromisso de desenvolvimento sustentável na Amazônia, não participar da entrega do documento ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e empurra para 2023 um encontro com o petista para tratar do assunto.

A postura de Rocha, o mais bolsonarista dos governadores da região, evidencia uma dissidência no Consórcio Amazônia Legal, formado pelos nove Estados amazônicos: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Desde a eleição de Lula, em 30 de outubro, governadores bolsonaristas, que se elegeram e se reelegeram na onda do movimento antiambiental capitaneado por Bolsonaro, passaram a dar sinais de alinhamento ao presidente eleito.

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Os governadores do Amazonas, Wilson Lima (União), e do Acre, Gladson Cameli (PP), deram sinais de disposição ao diálogo com Lula (Reprodução)

Lula prometeu zerar o desmatamento na Amazônia, retomar a fiscalização ambiental e acabar com garimpos ilegais em terras indígenas.

O movimento é feito, inclusive, por governadores da região chamada de Amacro (sul do Amazonas, Acre e Rondônia), que concentra um dos principais arcos de devastação da Amazônia.

Os governadores do Amazonas, Wilson Lima (União), e do Acre, Gladson Cameli (PP), deram sinais de disposição ao diálogo com Lula.

A exceção, no caso da Amacro, é o governo de Rondônia, que virou um bastião do bolsonarismo, na Amazônia, em meio à explosão de queimadas, após a derrota do presidente, como a Folha mostrou no último dia 18, e a atos golpistas nas rodovias, que incendiaram caminhões, depredaram veículos e terminaram com prisões de manifestantes contrariados com o resultado das urnas.

O governador Marcos Rocha foi à COP27, a conferência do clima da ONU, e decidiu não assinar a carta divulgada pelos governadores da Amazônia, como confirmou a assessoria do chefe do Executivo durante sua participação no encontro, encerrado no último domingo, 20, no Egito.

A carta foi entregue a Lula. Rocha também não participou da entrega do documento ao presidente eleito, segundo integrantes do consórcio de governadores.

À esquerda, Fátima Bezerra, governadora reeleita do RN e Lula, que segura a carta de governadores da Amazônia entregue pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), na COP27 (Joseph Eid/16.nov.2022/AFP)

Em Rondônia, Bolsonaro teve votação superior a 70% dos votos válidos no segundo turno. O índice foi semelhante no Acre.

Os governadores desses Estados surfaram na onda do bolsonarismo para serem reeleitos. Mas, Cameli, o governador do Acre, endossou a carta do consórcio, participou da entrega do documento a Lula, na COP27, e vem dando declarações favoráveis a ações de fiscalização ambiental.

A reportagem questionou a assessoria do governador de Rondônia sobre as razões para não endossar o documento. O governo disse que não apresentará essas razões no momento.

“O governador tratará da pauta em reunião, no próximo ano, com o presidente eleito. Fará agendamento da reunião e tratará da pauta”, disse a gestão, em nota.

Os governos dos Estados da Amazônia Legal estiveram presentes na COP27, na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, em busca de recursos internacionais atrelados à redução de desmatamento e de emissões de carbono.

O único Estado sem delegação representante foi o de Roraima, segundo o consórcio de governadores. O governador reeleito, Antonio Denarium (PP), também é bolsonarista e está alinhado à política de enfraquecimento da fiscalização ambiental.

Na carta divulgada no evento, os governos dizem se comprometer com “políticas orientadas à conservação e ao desenvolvimento sustentável da região”.

Enquanto Rocha estava na COP27, as queimadas, em Rondônia, em novembro, ganhavam proporção nunca vista, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Em Rondônia e no Acre, Estados da Amazônia Legal, houve mais queimadas em novembro do que em outubro de 2022 (Reprodução)

Esses focos de incêndio estão diretamente atrelados ao desmatamento. São uma das formas utilizadas para abrir terreno para criação de gado, a cargo, muitas vezes, de grileiros na região.

De 1° a 16 de novembro, satélites do Inpe detectaram 1.602 focos de calor no Estado, especialmente, nas regiões de Porto Velho e Nova Mamoré. No mesmo período, em 2021, foram apenas 84 focos. O aumento foi, assim, de 1.807%.

Novembro é um mês em que as queimadas tendem a cair, na Amazônia, pela intensificação do período chuvoso. Os picos costumam ocorrer em setembro e outubro. Em Rondônia e no Acre, houve, porém, mais queimadas em novembro do que em outubro, levando em conta a primeira metade do mês.

Em nota, a Sedam (Secretaria de Desenvolvimento Ambiental) de Rondônia disse que atua na prevenção e no combate às queimadas.

Em 2022, houve 29 operações, segundo a secretaria, com 18 autuações por queimada, 289 por desmatamento e 259 áreas embargadas.

“Foram adquiridos diversos equipamentos como drones e viaturas, especificamente, para essa finalidade”, afirmou. Conforme a Sedam, houve ainda operação conjunta com o Ministério da Justiça para combate ao desmatamento.

Nas rodovias federais que cortam Rondônia, manifestantes a favor de Bolsonaro incendiaram caminhões e depredaram veículos. Pelo menos oito pessoas foram presas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no último fim de semana. Na segunda-feira, 21, ainda existiam oito pontos de interdição.

A Polícia Militar (PM) de Rondônia diz dar suporte à PRF nas iniciativas de combate aos bloqueios. Nas rodovias estaduais, houve a desmobilização do que seria um último bloqueio no fim da tarde desta segunda. Segundo a PM, não houve uso de força nem prisão nessas rodovias.

(*) Com informações da Folhapress
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