Início » Sociedade » Grupos extremistas: pesquisadora investiga redução de mensagens de ódio
Grupos extremistas: pesquisadora investiga redução de mensagens de ódio
Apesar de contas que foram suspensas terem reaparecido, agora, segundo Michele Prado, os extremistas têm restringido o acesso aos conteúdos (Reprodução/Freepik)
Compartilhe:
15 de abril de 2023
Da Revista Cenarium*
SÃO PAULO – As investigações contra os grupos que incentivam ataques a escolas e formas semelhantes de violência têm conseguido reduzir a circulação desse tipo de conteúdo na internet. Essa é a avaliação da pesquisadora Michele Prado. Apesar de contas que foram suspensas terem reaparecido, agora, segundo ela, os extremistas têm restringido o acesso aos conteúdos. “Algumas contas foram recriadas por usuários que eu acompanho já há muito tempo. A maioria deles está deixando as contas privadas”, diz.
Michele monitora grupos que promovem e incentivam ataques desde 2020. A pesquisadora faz parte do Monitor Do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo (USP) e é autora dos livros “Tempestade Ideológica – Bolsonarismo: A alt-right e o populismo iliberal no Brasil” e “Red Pill – Radicalização e Extremismo”.
Em plataformas de jogos on-line, que parte desses grupos usam para comunicação, os próprios extremistas têm retirado os conteúdos do ar de forma a evitar a identificação. “Às vezes, o próprio criador do servidor desconfia que tem infiltrados e derruba [o servidor]”, conta a pesquisadora a partir do monitoramento feito nas últimas semanas.
PUBLICIDADE
Para Michele, diminuir o acesso a conteúdos que incitam a violência é uma forma de reduzir o risco de ataques. “Quanto mais conteúdo inspiracional circula, mais potenciais imitadores a gente tem. Então, o fato de ter conseguido derrubar esse conteúdo que inspira e atua de forma positiva é necessário para a gente tentar diminuir o potencial de novos atentados”, destacou. Ela está trabalhando em um relatório para ajudar a embasar as ações do Ministério da Justiça nesse sentido.
Uma medida que Michele considera útil para reduzir a circulação desse tipo de conteúdo na rede é a criação de um banco com a identificação digital de conteúdos que já tenham sido apontados como incitadores de violência. “Então, você cria um banco de dados com as impressões digitais e manda para essa plataforma. Ela precisa ter um compromisso para que quando um conteúdo desses subir, ela própria o derrube sem que haja necessidade de denúncia de usuários”, defende.
Comunidades de ódio
Segundo a pesquisadora, essas comunidades reúnem jovens entre 10 e 25 anos, de acordo com o que eles mesmos declaram nesses espaços de discussão. Esses adolescentes se relacionam por afinidade com temas como a misantropia. “Um ódio à humanidade. Ódio ao ser humano. Essa é a principal característica”, enfatiza a pesquisadora. Há, ainda, a misoginia, de ódio a mulheres, e o antissemitismo, de ódio a judeus.
Michele explica que há jovens que estão predispostos ou realmente cometem ataques, como também há outros que se dedicam a criar e disseminar conteúdos para incentivar a radicalização. “Tem pessoas que estão ali só para produzir e disseminar conteúdo inspirador. Os edits [vídeos], que eles chamam armas, os marcadores estéticos. Tem gente que está só para disseminar conteúdo instrucional, com instruções de como você vai deixar a sua arma mais letal, como você tem que fazer para produzir o maior número de vítimas”, detalha.
São esses indivíduos que, segundo ela, distribuem o conteúdo ideológico ligado à extrema-direita mundial e, muitas vezes, sabem, de antemão, dos atentados. “Esses que só fazem isso são uma espécie de catalisadores. Às vezes, eles sabem com antecedência que o atentado vai acontecer tal dia, qual é a pessoa, o nome do agressor”, explica ela sobre os materiais disseminados como forma de incentivar essas ações violentas.
Essas mensagens também são distribuídas por redes sociais e usam, muitas vezes, uma estética chamada de fashwave, com cores brilhantes e visual que remete há década de 1980. Os conteúdos desse tipo têm sido uma marca da extrema-direita, em diversas partes do mundo, como entre os apoiadores do ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.