Há três anos, Manaus registrava ação policial semelhante a do Rio de Janeiro; 17 pessoas morreram

O número de óbitos foi apenas um dígito menor que a operação policial registrada nessa quinta-feira, 21, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (Edmar Barros/Folhapress)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Entre a noite de 29 de outubro de 2019 e a madrugada do dia seguinte, há quase três anos, uma operação policial contra o narcotráfico resultou na morte de 17 pessoas — entre elas, a de um adolescente de 14 anos — em uma área remota de casas de palafita construídas em cima de um igarapé tomado pelo esgoto e lixo, em Manaus.

O número de óbitos foi apenas um dígito menor que a ação registrada nessa quinta-feira, 21, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Ao contrário do Amazonas, o episódio na cidade carioca, no entanto, terminou com um policial executado.

Veja também: No Rio de Janeiro, operação no Complexo do Alemão deixa 18 mortes, diz polícia

O caso na capital amazonense ocorreu em um beco conhecido como JB Silva, entre os bairro Crespo e Betânia, na zona Sul. À época, a ação policial foi a mais violenta no Brasil desde o início do Governo Jair Bolsonaro (União Brasil) e ganhou repercussão em todo o País. Segundo a polícia, integrantes de uma facção chegaram armados na região para tomar o ponto de venda de um grupo rival. Após serem acionados, cerca 60 homens das Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam) da PM-AM foram ao local.

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Policiais conduzem dois homens durante operação nos becos do bairro onde suspeitos foram mortos
Operação ocorreu entre a noite de 29 de outubro de 2019 e a madrugada do dia seguinte, há quase três anos (Edmar Barros/Folhapress)

A polícia afirmou, à época, que a corporação foi recebida a tiros. Os moradores negaram. Ueliton do Nascimento da Silva Junior, de 14 anos, era o nome do garoto que morreu no confronto, após ser baleado nas costas ao tentar fugir.

Além de Ueliton, outros dois adolescentes, identificados como Alexsandro Custódio de Carvalho, de 16 anos, e Erick Osmarino Silva Santos, de 17 anos, estavam entre os mortos. O corpo dos menores de idade e dos outros homens executados foram retirados do local da operação antes da chegada da perícia.

A operação

A denúncia recebida pelos policiais, na noite de 29 de outubro de 2019, na zona Sul de Manaus, era de que cerca de 50 homens estariam em um caminhão-baú seguindo em direção ao beco JB Silva com a intenção de atacar um grupo rival.

Apesar da maior parte dos suspeitos conseguir fugir, 17 pessoas foram baleadas e mortas. A operação da polícia chegou a apreender 17 armas de fogo, mas não localizou o caminhão usado pelo grupo que tentava invadir o beco. Além disso, nenhum PM foi ferido e as viaturas não tiveram marcas de tiros.

Cerca de um mês depois, um inquérito da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) “não encontrou indícios mínimos de dolo homicida na conduta dos policiais” e concluiu que os PMs agiram no “estrito cumprimento do dever legal”.

Em setembro de 2020, contudo, um relatório do Ministério Público do Amazonas (MP-AM) afirmou que a ação policial houve “fortes indícios” da prática de homicídios dolosos, ou seja, quando há a intenção de matar, por parte de policiais militares. O documento apontou, ainda, que a cena foi manipulada.

Rio de Janeiro

A operação no Complexo do Alemão ocorreu nessa quinta-feira, 21. A Polícia Militar e a Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmaram ao menos 18 mortos na ação, entre eles um policial militar e uma mulher que passava de carro. A operação durou, aproximadamente, de 12 horas com intensos tiroteios e foi finalizada por volta das 17h.

Segundo levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF), a operação é a quinta mais letal da história do Rio de Janeiro, considerando a contagem até o momento. Entre as vítimas, está uma mulher de 50 anos, que deixa três filhos. A vítima passava pela região de carro, ao lado do namorado.

Um policial, identificado como cabo Bruno de Paula Costa, de 38 anos, foi baleado e morreu durante a operação. Ele deixa dois filhos com diagnóstico de transtorno do espectro autista.​

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