Hidrelétrica causa morte de árvores centenárias em região da Amazônia Legal, aponta estudo

Árvore símbolo dos igapós amazônicos, que pode viver mais de 800 anos, é mais afetada, segundo a pesquisa. (Divulgação/INPA)

Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium*

MANAUS – Desde a sua implantação, há 30 anos, a hidrelétrica de Balbina, em Presidente Figueiredo (a 128 quilômetros de Manaus), vem causando impactos ambientais na região. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), as operações da usina, ao longo dos anos, foram responsáveis por mudanças no curso da subida e descida anual das águas do Rio Uatumã, afluente do Rio Amazonas. Essas mudanças estariam ocasionando a morte de árvores centenárias da Amazônia que dependem da ação dos rios.

Espécies como macacarecuia ou cueira (Eschweilera tenuifolia), árvore símbolo dos igapós de águas pretas, da família das castanheiras, são as mais afetadas. Árvores que podem viver mais de 800 anos, no entanto, as ações na região têm reduzido o tempo de vida dessas espécies, segundo o estudo “Perturbações do pulso de inundação como ameaça a árvores centenárias da Amazônia” (Flood-pulse disturbances as a threat for long-living Amazonian trees), publicada por pesquisadores do Inpa, na revista científica News Phytologist.

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Segundo a pesquisa, a árvore pode passar até dez meses do ano totalmente ou parcialmente submersa pelas águas, mas precisa de um a dois meses em ambiente seco para executar suas atividades fisiológicas de forma saudável. Porém, as operações da usina interferem no curso correto de inundação do rio, prejudicando, desta forma, o desenvolvimento das espécies, conforme descreve o estudo.

A pesquisa, liderada pela doutora em Ciências Biológicas pelo Inpa, Angélica Resende, faz comparativo um entre o crescimento e a mortalidade da espécie em um ambiente não perturbado pela usina, no Parque Nacional do Jaú, em Barcelos, com a área do Rio Uatumã, no município de Presidente Figueiredo, onde há a perturbação. Segundo Angélica, desde o início das operações da usina, houve mortalidade massiva de árvores em cerca de 13 km² dos igapós a jusante da barragem, no Rio Uatumã.

“As árvores evoluíram durante muito tempo de modo a suportar as condições de inundação anual. Elas precisam da inundação, mas precisam que seja previsível. O natural é que uma vez por ano a água suba e uma vez ao ano desça. Mas com as operações da usina, não existe mais esse ciclo natural”, alerta.

A pesquisadora explicou, ainda, que as subidas e descidas do nível do rio deixaram de seguir um padrão, e o efeito, segundo ela, é devastador para as árvores, já que o nível do rio pode subir e descer mais de uma vez ao longo do ano.

Segundo o Inpa, a Hidrelétrica de Balbina é de administração da Eletrobras e tem potência instalada de 250 MW, distribuída em cinco unidades geradoras de 50MW, e seu reservatório compreende uma área de cerca de 2.360 km². A usina é considerada a menos eficiente do País, com impactos ambientais permanentes.

O estudo sugere que sejam feitos estudos preliminares na área jusante da barragem (parte de baixo), pois na área acima da barragem (montante) já existem estudos, exigidos pela legislação. O ideal, segundo a pesquisa, é que seja realizada uma simulação da natureza, reproduzindo a subida e descida do rio, mesmo que isso comprometa a geração de energia.

“O rio simplesmente perde a previsibilidade. A única forma de contornar essa situação que os operadores imitem ou simulem o pulso natural. Ou seja, na época da cheia, abram mais as comportas para o rio subir, e, durante a seca, que fechem mais as comportas para manter o rio seco”, concluiu a pesquisadora.

Desde a criação da usina, na década de 80, diversos estudos já vêm sendo desenvolvidos acerca dos impactos ambientais da usina, que é altamente criticada pela comunidade científica e por moradores da região.

(*) Com informações da assessoria

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