ICMBio vai apurar causa das mortes de botos em lago no interior do Amazonas

Boto morto encalhado em lago no município de Tefé, interior do Amazonas (André Kumark/Instituto Mamirauá)
Da Revista Cenarium Amazônia*

SÃO LUÍS (MA) – O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) informou no sábado, 30, que vai apurar as causas das mortes de botos em Tefé, no Amazonas.

Desde a última segunda-feira, 23, até a sexta, 29, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá registrou a morte de mais de 100 mamíferos aquáticos como o boto vermelho e o tucuxi, que viviam no lago. 

Até o momento, as causas não foram confirmadas, mas há indícios de que o calor e a seca histórica dos rios estejam provocando as mortes de peixes e mamíferos na região. O ICMBio disse que já mobilizou para a região equipes de veterinários e servidores do seu Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA) e da Divisão de Emergência Ambiental, além de instituições parceiras para apurar as causas dessas mortes.

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“Protocolos sanitários foram adotados para a destinação das carcaças. O ICMBio segue reforçando as ações para identificar as causas e, com isso, adotar medidas para proteger as espécies”, informou o ICMBio.

Diante do cenário, na sexta-feira, 29, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá lançou um alerta à população que mora nas proximidades do Lago Tefé para evitar o contato com as águas do lago e o uso recreativo. Segundo o Mamirauá, em alguns pontos do lago a temperatura está ultrapassando a marca dos 39°.

No sábado, 30, em entrevista à jornalista Mara Régia, no programa Viva Maria, da Rádio Nacional da Amazônia, um dos veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Mamirauá, Miriam Marmontel, disse que esses animais acabam atuando como sentinelas da qualidade da água e são os primeiros a ser afetados com mudanças provocadas no ambiente.

Pesquisadora faz medição e coleta de tecidos de botos mortos em lago no município de Tefé, no Amazonas (Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá)

“Eles nos deram o alerta e, agora, a gente tem que ficar atento a isso. A tendência, se não mudarmos os nossos hábitos, é que esses eventos continuem acontecendo; mais aquecimento global, mudança nos parâmetros climáticos, e eles estão utilizando um ambiente que utilizamos muito, especialmente, no Amazonas. A água é primordial para os amazônidas e essa água que, atualmente, não está propícia para o boto, também não é propícia para o humano. Tanto para nadar, como para consumir. Então, que a gente fique muito alerta quanto a isso”, disse a pesquisadora.

“O corpo [dos animais] sente, a fisiologia sente e, certamente, os animais estão sofrendo com isso. É parte do problema associado à mortalidade deles”, afirmou.

“A situação é muito crítica, é emergencial, é uma coisa inusitada. Nunca tínhamos visto algo semelhante, embora já tenhamos passado por várias secas grandes aqui na Amazônia, aqui na região de Tefé. Mas esse ano, além da seca, da diminuição da superfície dos rios, da dificuldade dos ribeirinhos conseguirem água, de se deslocarem de suas casas até o rio principal, nós tivemos também esse evento de uma mortalidade muito grande de golfinhos. Temos animais, o boto vermelho e o tucuxi perecendo aqui na nossa frente, em um lago que, normalmente, é cheio de vida, cheio de água, e os animais estão encalhados na praia ou boiando ao longo do lago”, completou.

Em nota, o instituto que atua na promoção do desenvolvimento sustentável e para a conservação da biodiversidade disse que vem trabalhando para identificar as causas da mortandade extrema desses animais, realizando ações de monitoramento dos animais ainda vivos, busca e recolhimento de carcaças, coletas de amostras para análises de doenças e da água e “monitoramento das águas do lago, incluindo a temperatura da água e batimetria dos trechos críticos”.

As ações são realizadas em parceria com a prefeitura de Tefé, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Defesa Civil. Para tentar diminuir os danos, entre sábado, 30, e domingo, 1°, será realizada uma ação emergencial para a retirada dos animais ainda vivos.

“A partir desse fim de semana vão chegar equipes que vão nos dar apoio e com experiência em resgate de cetáceos vivo para que nós possamos capturar e resgatar alguns dos animais ainda com vida, analisar a saúde, o sangue, alguns parâmetros vitais dos animais para entender melhor o que está acontecendo. E a partir daí tomarmos decisões do que fazer com esses animais, como melhorar a situação deles, se é possível fazer alguma coisa para que eles não continuem perecendo aqui no lago”, disse Miriam.

Leia também: Ribeirinhos dizem que mortandade de peixes deixou água imprópria para consumo no AM
(*) Com informações da Agência Brasil
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