Após falar sobre gestos potencialmente racistas de sisters do BBB 22, jornalista sofre retaliação e é notificado

Para o jornalista Gabriel Perline, a intimação é uma forma de "intimidação" e "tentativa clara de censura".(Reprodução/ Instagram)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O jornalista e colunista do Portal IG, Gabriel Perline, recebeu notificação extrajudicial nessa segunda-feira, 31, por relacionar as participantes do Big Brother Brasil 2022, Eslovênia Marques de Lima, de 25 anos, e a goiana Laís Caldas, de 30 anos, ao crime de racismo. A notificação chegou ao profissional de comunicação após assinar uma matéria mostrando a paraibana e a goiana simulando movimentos de um macaco depois de falarem que iriam votar, no paredão de domingo, 30, em Natália Deodato.

“Acabei de receber uma notificação extrajudicial da equipe de @eslomarques dizendo que imputei a ela o crime de racismo por ela ter imitado macaco após falar sobre @oficial_deodato. Em vez de se posicionarem, querem intimidar o jornalista. Francamente…”, escreveu o jornalista, em uma publicação no Twitter, após receber uma notificação extrajudicial da equipe de Eslovênia.

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A cena das sisters fazendo imitações que remetem ao comportamento de macaco aconteceu no último domingo, 30. Laís e Eslovênia estavam conversando com Bárbara e Maria sobre Natália, quando protagonizaram o episódio. Nas redes sociais, após receber as notificações extrajudiciais, Gabriel Perline afirma que no texto em que assina falando sobre o caso não há acusação de racismo, mas de uma exposição de um ato de uma mulher gesticulando como o animal.

“Recomendo que a equipe de @eslomarques leia atentamente ao texto mais uma vez. Nele não há acusação de racismo da minha parte, e sim uma exposição de um ato de uma mulher branca gesticulando como um macaco logo após falar sobre uma mulher negra. O texto aponta a reclamação de DIVERSAS pessoas negras que se sentiram ofendidas com os gestos de @eslomarques. Acho importante, primeiramente, vocês, enquanto equipe, tentarem se posicionar sobre o que ocorreu dentro do #BBB22 antes de apelar para uma atuação vergonhosa como essa”, recomendou Perline, no Twitter.

Reprodução/ Twiter

No mesmo dia, segundo relatos do jornalista, compartilhados nas redes sociais, ele também recebeu uma notificação da equipe da sister Laís Caldas pedindo que ele se retrate.

“Agora chegou a notificação extrajudicial da @Dra_laiscaldass dizendo que eu imputei a ela o crime de racismo e pedindo que EU ME RETRATE. Mas cabe a VOCÊS explicar o que rolou, não a mim. Não é intimidando jornalista que resolverão nada”, relatou o Perline, no Twitter.

Para o jornalista, a notificação é uma forma de “intimidação” e “tentativa clara de censura”. O documento, segundo Gabriel Perline, pede que ele se abstenha de praticar manifestações semelhantes.

“Jornalismo é relatar fatos. Diante da leitura, as pessoas tiram suas conclusões. E se muitas pessoas se horrorizaram com os gestos de @Dra_laiscaldass imitando um macaco após falar sobre @oficial_deodato, é porque algo está errado. E o erro não é a notícia que foi publicada”, ponderou Perline, no Twitter.

Equipe se posiciona

Após a repercussão do caso, apenas a equipe de Laís Caldas se posicionou e disse que a imitação de macaco era, na verdade, relacionada a uma situação vexatória vivenciada pelas sisters. No Twitter, o time que gerencia as redes sociais da participante do reallity show usa a expressão “pagando um mico”, que significa o ato em que uma pessoa está passando vergonha por determinada “gafe” cometida por ela.

“Esclarecendo, com vídeo sem cortes, o ocorrido que tivemos ontem no banheiro. Vemos claramente que a Laís e demais participantes estão falando sobre a Natália e quando uma delas diz que vai votar nela, a Laís imediatamente avisa que a mesma se encontra dentro do banheiro. Sendo assim, elas saem como se tivessem pagando ‘um mico’ (‘dando uma rata’), passando vergonha pela situação. Isso, mostra na verdade, que a ‘brincadeira’ entre elas não se refere à participante Natália, mas sim à situação constrangedora que acabaram de passar“, declarou a equipe de Laís.

O que diz a lei

O crime de racismo está previsto na Lei 7.716/1989, e ocorre quando há discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A pena para quem comete racismo é de três a cinco anos de reclusão. Somente o Ministério Público tem legitimidade para apresentar denúncia contra o agressor.

Veja também: Discriminação contra indígena por sua etnia ou cor também é racismo; entenda

Caracterizado pela Constituição Federal como inafiançável e imprescritível, o crime de racismo vai bem além da discriminação da população negra, como é mais comumente associado. Diferente da injúria racial, em que a ofensa é direcionada a um indivíduo específico, no racismo a ofensa é contra uma coletividade.

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