Jornalistas relatam hostilidade de Bolsonaro e agressões de seguranças em Roma

Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em frente à embaixada do Brasil em Roma. (Alan Santos/PR)
Com informações do Estadão

SÃO PAULO – Jornalistas brasileiros que acompanhavam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Roma, onde ele participou da Cúpula de Líderes do G20, relataram, nesse domingo, 31, agressões por parte da equipe de segurança do chefe do Executivo. As hostilidades aconteceram, conforme os relatos, antes e durante uma caminhada improvisada de Bolsonaro com apoiadores que se reuniram frente à embaixada do Brasil. 

De acordo com o UOL, nenhum dos policiais explicou se fazia parte da embaixada brasileira, da Itália ou se eram privados. Os relatos afirmam que havia tanto italianos quanto brasileiros no grupo que fazia a proteção do presidente.

Segundo os relatos, Bolsonaro acenou, do alto de uma sacada da embaixada, para os simpatizantes que carregavam cartazes de apoio ao governo. Depois, desceu para falar com o grupo. Durante a espera pelo presidente, uma jornalista da Folha de S.Paulo foi empurrada por seguranças e uma produtora da GloboNews foi hostilizada pelos manifestantes.

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Ao indicar que faria uma caminhada pelo bairro, Bolsonaro foi seguido por equipes de reportagem. Neste momento, jornalistas passaram a ser empurrados pelos seguranças e houve agressões. Um profissional da TV Globo disse ter recebido um soco no estômago. Os veículos que presenciaram o momento foram impedidos de gravar. O celular de um jornalista do UOL foi jogado na via. Repórteres do jornal O Globo e da BBC Brasil relataram agressões verbais.

Com a confusão, a caminhada durou pouco menos de dez minutos e Bolsonaro voltou à embaixada. Os jornalistas estavam com credenciais e identificações no momento das agressões.

Associações de imprensa, veículos e políticos repudiam o episódio

Em nota, a Globo diz que condena as agressões e exige uma “apuração completa de responsabilidades”. “É a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque. Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa”, diz o texto. A Folha de S.Paulo e o UOL também repudiaram o episódio. “Mais um inaceitável ataque da Presidência de Jair Bolsonaro à imprensa profissional”, escreveu o jornal. 

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) chama atenção para a “escalada perigosa” de ataques como o que ocorreu hoje. “A Abraji repudia mais esse ataque à imprensa envolvendo a maior autoridade do país. Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal”, diz a nota divulgada na noite deste domingo.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) também divulgou nota em que repudia o ocorrido. “A violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do próprio presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística”, diz a entidade, que também cobra apuração e a devida punição dos culpados.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que foi vice-presidente da CPI da Covid, criticou o ato em uma rede social. “Atitude típica de ditadores covardes! Bolsonaro e seus capangas são leões contra a imprensa livre e jornalistas. Mas são mansinhos contra os esquemas de corrupção promovidos pelo Centrão e seu governo!”, escreveu. O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), também registrou o seu repúdio: “Ignorado pelos líderes, (Bolsonaro) virou piada na mídia mundial e partiu para a ignorância”.

O Palácio do Planalto não se manifestou.

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