Laboratório da UFRR desenvolve estudo sobre ‘narcogarimpo’ na Amazônia

Registros de área desmatada por garimpeiros ilegais na Amazônia (Foto: Agência Brasil)
Bruna Cássia Alves – Revista Cenarium

BOA VISTA (RR) – O Estado de Roraima é uma região rica em minérios e onde ocorre uma grande atividade de mineração desde a década de 30, com crescimento gradativo. Nos últimos cinco anos, as atividades de extração ilegal de pedras preciosas como ouro e cassiterita se intensificaram, conforme dados do artigo “A nova corrida do ouro na Amazônia: garimpo ilegal e violência na floresta“, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de março de 2024.

Com isso, ocorreu a junção da extração legal e ilegal, que iniciou uma rede de “criminalidade com o aumento da violência e ameaças ambientais que desafiam a atuação estatal e afetam comunidades. Dessa forma, um grupo de pesquisadores do estado de Roraima fizeram estudos acerca do tema, a fim de mostrar a realidade local e denunciar os crimes que tornaram-se comum e natural para moradores da região.

Trata-se do Laboratório Interpretativo: Amazônia, Ilegalismos e Violências (LAIV), criado no início de 2024 por uma equipe de pesquisa que funciona na Universidade Federal de Roraima (UFRR), a partir das pesquisas realizadas nos últimos anos, especialmente sobre o fenômeno do “narcogarimpo” e outros temas relacionados, em meio à crise vivenciada na região pela prática da mineração ilegal.

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Entre fatores, pode-se citar as altas taxas de desmatamento da floresta, poluição dos rios, confronto entre facções criminosas e contaminação por doenças e mortes de indígenas. Essa realidade pode ser observada especialmente na Terra Indígena Yanomami (TIY), uma das principais regiões afetadas pelo garimpo ilegal na Amazônia.

Diante dos resultados promissores e da crescente demanda por avanços na pesquisa do Laboratório, tornou-se necessário estabelecer um grupo de pesquisa afiliado, visando potencializar as colaborações e aprimorar as condições de trabalho.

Porta-voz grupo, o sociólogo Rodrigo Chagas pontuou que o LAIV está nos estágios iniciais e tem trabalhado nas regulamentações, fazendo articulações em redes de pesquisa e concorrendo aos primeiros editais de financiamento, a fim de expandir a ideia.

Nosso objetivo é tornar-nos uma referência em pesquisas e na popularização científica sobre ilegalismos e violências em Roraima, estabelecendo parcerias com redes nacionais e internacionais de pesquisadores nessa área”, disse.

Imagem aérea mostra parte da floresta amazônica tomada por atividade mineral (Divulgação)
Tipos de pesquisa da LAIV

O Laboratório atua por dois meios de abrangência de pesquisa, sendo elas de Vertente Sócio-Histórica, que ocorre em parceria com o Laboratório de Pesquisa do Mundo Contemporâneo. Esta linha investiga temas como a gênese social das frentes de garimpagem na Amazônia e a formação das Terras Indígenas em Roraima. Já a outra vertente aborda os Fenômenos Sociais dos Novos Ilegalismos. Esta vertente estuda a chegada e a expansão de grupos criminais de outras regiões do Brasil e de países fronteiriços em Roraima.

“Embora busquemos abordagens multidisciplinares, nossas pesquisas se concentram principalmente na área das ciências humanas e incluem ciências sociais aplicadas, com interfaces em áreas da saúde, como Demografia, Psicologia Social, Direito e Epidemiologia, nossas investigações estão divididas em duas grandes vertentes. Para dar exemplos, temos pesquisadores que estão estudando temas como: guardas indígenas, grupos criminais, garimpagem e narcotráfico, conflitos agrários e segurança alimentar”, explicou Rodrigo.

A última pesquisa em destaque trata do ‘narcogarimpo’ na Amazônia, que investiga a presença de facções criminosas nas áreas de mineração ilegal e a escala industrial da garimpagem, impulsionada pelas novas tecnologias de motores e telecomunicações.

“Os principais achados incluem evidências de que as frentes de garimpagem têm sido usadas como forma de sabotar terras indígenas, a construção de uma ideologia desenvolvimentista pró-garimpo, e a formação de uma clientela política favorável ao garimpo que dificulta a efetividade do combate a tais práticas. Além disso, estamos realizando um esforço de recuperação histórica sobre o tema e identificamos um amplo acervo documental que está ajudando a repensar a garimpagem na região“, disse o pesquisador sobre os resultados obtidos.

Roraima sem garimpo: uma utopia

O pesquisador e sociólogo Rodrigo Chagas destacou que, para conter esses fenômenos relacionados ao garimpo de maneira significativa, é crucial a colaboração entre os diversos níveis de governo — municipal, estadual e federal —, bem como entre lideranças políticas e econômicas, além das instituições de Estado como as Forças Armadas e polícias, que contam com entusiastas das frentes de garimpagem em seus quadros.

“Esse é um desafio gigantesco, dado que os garimpeiros, seus familiares e simpatizantes representam uma parcela considerável do eleitorado em Roraima (e provavelmente também em outras regiões na Amazônia). É fundamental aplicar punições efetivas aos incentivadores e financiadores da garimpagem ilegal. Além disso, são necessárias medidas rigorosas de fiscalização e controle sobre o campo social da aviação na Amazônia, já que os pilotos desempenham um papel crucial tanto na produção e distribuição ilegais de ouro quanto no narcotráfico”, concluiu.

Leia Mais: Garimpo, narcotráfico e facções: líder Yanomami, Dário Kopenawa teme conflito direto nas aldeias
Editado por Jadson Lima
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