Líder indígena da Univaja denuncia, em rede nacional, aumento da criminalidade e falta de segurança na Amazônia

A entrevista com o líder indígena foi ao ar no programa "Roda Viva" da TV Cultura (Reprodução/TV Cultura)
Karol Rocha – Da Revista Cenarium

MANAUS – O líder indígena Beto Marubo, integrante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) denunciou o aumento da criminalidade na Região Amazônica e a falta de segurança que continua a mesma, após a morte do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira naquela localidade. A entrevista com o líder indígena foi ao ar no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na segunda-feira, 5, Dia da Amazônia, e contou com a apresentação da jornalista Vera Magalhães.

Beto era amigo e trabalhava ao lado dos dois profissionais que foram assassinados, brutalmente, no início de junho deste ano na região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, no Amazonas. A segurança é uma das pautas principais do líder indígena para a região.

“Nós não temos, lá, a Polícia Federal atuando como nós esperávamos que acontecesse, nós não temos o Exército brasileiro atuando como nós esperávamos que acontecesse. Há algumas conversações, ainda, no âmbito do Estado, com as forças de seguranças do Estado do Amazonas, mas sem nenhum resultado concreto, até então. Por enquanto, nós ainda tentamos sensibilizar o Estado para nossa questão”.

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Na bancada de entrevistadores, o Roda Viva contou com Cláudia Tavares, repórter do programa Repórter Eco, da TV Cultura; Phillippe Watanabe, repórter da Folha de S.Paulo; Ciro Barros, repórter da Agência Pública; Jaqueline Sordi, bióloga e jornalista; e Mateus Wera, fotógrafo e comunicador da Mídia Índia, ativista e liderança guarani.

A falta de segurança foi uma das pautas destacadas pelo líder indígena para a região (Reprodução/TV Cultura)

Criminalidade no Vale do Javari

No primeiro bloco, Beto Marubo foi questionado sobre ameaças no Vale do Javari. E disse, publicamente, que não se sente seguro em atuar naquela localidade. Ele comentou também sobre os conflitos recorrentes na região da Amazônia Legal como um todo.

“Se a gente for analisar esses índices de violência, não está acontecendo só no Vale do Javari, é uma realidade do Brasil atual. Há uma abdicação total das instituições, do governo federal, em algumas situações, dos governos regionais, em não atuar de uma forma contundente, e nós passamos a estar bastante vulneráveis, não somente os povos indígenas, como as pessoas que estão naquela região”.

Em relação ao grau de articulação para chamar a atenção da sociedade para a criminalidade naquela área, Beto Marubo diz que tenta contato com as instâncias federais brasileiras, que pouco ajudam, e a comunidade internacional, como a Organização das Nações Unidas (ONU).

“Exemplo é o caso do Vale do Javari, onde a gente apresentou todas as informações ao MPE, PF e às autoridades competentes e nenhuma providência foi tomada a tempo. Em outro campo, a gente tem tentado informar as instâncias como a ONU e instâncias internacionais, em nível de América do Sul, no sentido de sensibilizar essas autoridades para a nossa questão”.

Marubo também afirmou que o governo federal encoraja e empodera o crime organizado nas áreas indígenas. “Havia uma autorização implícita ou explícita, direta ou indiretamente, onde o presidente da República desqualificava os órgãos de vigilância, como a própria Funai, com a frase do tipo: “Vamos cortar a cabeça da Funai” ou “o Ibama está fazendo uma indústria de multas”.

A criminalidade no Vale do Javari foi assunto da entrevista (Reprodução/TV Cultura)

Abandono da Funai

A falta de representatividade indígena no Congresso Nacional foi um dos pontos tocados durante a entrevista. Segundo Marubo, há uma estratégia do movimento indígena em aumentar as candidaturas em Brasília.

“Tem a bancada da bala, a evangélica, a ruralista e a gente também quer fazer frente, já que a gente não tem essa representatividade no Congresso Nacional. Uma coisa é nos estarmos ali enquanto cidadão, reivindicando, e outra coisa é estar no mesmo nível deles, como deputados federais”, disse ele, relembrando a participação da deputada federal por Roraima, Joênia Wapichana.

O abandono da Fundação Nacional do Índio (Funai) também foi denunciado por Beto Marubo em rede nacional. Ele contou das inúmeras irregularidades promovidas pelo atual presidente do órgão, Marcelo Xavier. “Nós vimos o presidente da Funai dando aval para servidores corruptos, nós vimos presidente nos bastidores querendo aprovar leis para regulamentação do garimpo no interior de terras indígenas, nós sabemos de bastidores da Funai querendo diminuir terras de índios isolados”, apontou.

Ele disse que, na prática, a Funai vem sendo um perigo para os indígenas isolados que, segundo Marubo, são indígenas que não mantêm muita interação com a sociedade por fatores de traumas passados.

“Vemos, na prática, que a Funai é um perigo, sobretudo, para os indígenas isolados, tanto quanto o invasor. É uma Funai contra os indígenas, contra o interesse dos povos indígenas. Para os povos isolados, por exemplo, que dependem de uma proteção direta da Funai e estão muito mais vulneráveis”, disse.

O jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira voltaram a ser assunto no terceiro bloco. Marubo ressaltou que os dois não eram “aventureiros”, como apontou o presidente da República, Jair Bolsonaro, e ainda destacou que a luta dos povos indígenas deveria ser de todos os brasileiros e não apenas dos povos originários.

Veja a entrevista na íntegra:

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