Mesmo com cheia, Rio Negro está três metros abaixo do mesmo período de 2022
11 de dezembro de 2023

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia
MANAUS (AM) – Com o nível do Rio Negro subindo diariamente após o fim do período anual de seca, a cota atingiu, nesta segunda-feira, 11, 15,34 metros, segundo consulta feita ao site do Porto de Manaus. Mesmo com a cheia, este número continua abaixo do normal. Em 2022, a cota era de 18,88 metros, na mesma data.
A estiagem é um fenômeno natural na Amazônia, mas, em 2022, os Estados da região sofreram com uma vazante severa. O Amazonas ainda enfrenta os impactos da pior seca em mais de 120 anos, desde quando a medição começou. Escolas foram fechadas, comunidades ficaram isoladas e as atividades econômicas do Estado também foram impactadas.

Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a marca está abaixo do esperado. A diferença entre a cota do ano passado e a deste ano é de 3,54 metros. A cota atual é de apenas 2,64 metros, acima da menor já registrada, de 12,70 metros, em 26 de outubro deste ano. O Estado viveu mais de 130 dias de vazante e a subida dos rios ainda é considerada lenta.
Desde o dia 19 de novembro, o Rio Negro voltou a subir vertiginosamente. Até esta segunda, já soma 2,38 metros. Apenas no dia 24 de novembro, o rio subiu 18 centímetros. Conforme mostrou a REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, a subida dos rios no Amazonas voltaria a ocorrer em novembro, graças ao período de chuvas previsto para o mês passado, o que se confirmou.
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Emergência
Com a seca no Estado, todos os 62 municípios do Amazonas estão em emergência. De acordo com a Defesa Civil, são 599 mil pessoas afetadas e 150 mil famílias. O governador Wilson Lima (União Brasil) instituiu o Comitê de Intersetorial de Enfrentamento à Situação de Emergência Ambiental em 29 de setembro para alinhar medidas acerca da seca severa e das queimadas que atingem o Estado.
A seca histórica provocou a morte de botos e peixes, em municípios como Tefé e Manacapuru. Em menos de uma semana, o Lago Tefé, no interior do Estado do Amazonas, sofreu uma perda de 10% de sua população de botos, segundo levantamento do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). Pelo menos 155 carcaças do animal foram encontradas.

O preço dos alimentos no Amazonas ainda tiveram variações com a estiagem. Produtos que chegam aos municípios mais distantes começaram a ser vendidos a preços mais altos. Em Tefé, distante 523 quilômetros de Manaus, o quilo do frango congelado, que antes custava R$ 7, foi vendido a R$ 11. Um aumento de 57%.
Além disso, itens perecíveis, como legumes, sequer chegam a essas áreas remotas. Segundo comerciantes da região, os preços estão mais elevados devido às dificuldades no transporte dos produtos. Os custos adicionais são repassados para os consumidores.

A Zona Franca de Manaus (ZFM) também sentiu os impactos da estiagem. Com a redução no nível dos rios, embarcações que trazem insumos para o Polo Industrial de Manaus (PIM) enfrentaram dificuldades para realizar o transporte, o que ocasionou atrasos e falta de insumo. Por isso, mais de 10 mil trabalhadores entraram de férias coletivas. Aproximadamente, 35 empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM) aderiram à medida.
Edição: Marcela Leiros
Revisão: Gustavo Gilona