Morte dos botos em lago no AM está relacionada a mudanças climáticas, El Niño e seca extrema

Pesquisadores analisam botos no Lago Tefé. (Foto: Miguel Monteiro/ Instituto Mamirauá)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia*

MANAUS (AM) -A morte de 153 botos no Lago Tefé, interior do Estado do Amazonas, desde o dia 23 de setembro, pode estar relacionada a três fatores ambientais: mudanças climáticas, El Niño e seca extrema. Pelo menos é o que indica a primeira avaliação do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) e integrantes de outras organizações, como a WWF Brasil.

Medição de temperatura no Lago Tefé, no Amazonas. (Reprodução/Miguel Monteiro)

Segundo a pesquisa, a temperatura da água do lago chegou próxima a 40°C, quando a média máxima ao longo do tempo tem sido de 32 graus. Do total de animais mortos, 130 eram cor-de-rosa e 23 da espécie tucuxi, significando a perda de cerca de 10% da população de botos do local. No dia 28 de setembro, quando a temperatura da água bateu 39,1°C, foram registradas 70 carcaças dos animais, assim como centenas de peixes.

Além dos fatores já mencionados, pesquisadores da consultoria ambiental Aqua Viridi também identificaram, em um dos pontos do Lago Tefé, um número incomum da alga Euglena sanguinea, que produz uma toxina que pode causar mortalidade em peixes. Os dados coletados até o momento não indicam, porém, que os animais tenham sido afetados por essas toxinas.

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No total, 153 botos já morreram no Lago Tefé, no Amazonas. (Reprodução/Miguel Monteiro)

Os pesquisadores já necropsiaram, desde o início da crise, 104 botos, e enviaram amostras de tecidos e órgãos para laboratórios especializados. Entre o 17 indivíduos já avaliados, até o momento, não
há indício de agente infeccioso como causa primária das mortes. Os diagnósticos moleculares de 18 indivíduos também deram negativo para agentes infecciosos, como vírus e bactérias, comumente associados a mortes em massa.

É estarrecedor o que está acontecendo no Lago Tefé. O impacto da perda desses animais é enorme e afeta todo o ecossistema local”, alerta a analista de Conservação do WWF-Brasil Mariana Paschoalini Frias. “Botos são considerados ‘sentinelas’. Ou seja: são indicativos da saúde do ambiente onde vivem. O que acontece com eles se reflete nas outras espécies que vivem ao redor, inclusive a humana”.

Cento e quatro botos foram necropsiados pelos pesquisadores do Instituto Mamirauá. (Reprodução/Miguel Monteiro)

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Retirada de botos

Como parte da operação, os pesquisadores ainda precisaram mover os botos de lugar, retirando-os da enseada de Papucu, no Lago Tefé, local conhecido como um lugar rico em peixes. A região é considerada crítica para os animais devido à alta temperatura da água e os botos continuam frequentando em busca da abundância de peixes.

Para evitar mais mortes, a área está sendo isolada com uma barreira física chamada “pari”, feita de estacas de madeira e baseada no conhecimento tradicional ribeirinho. Posteriormente, será realizada a condução das espécies para áreas mais profundas e menos quentes.

Ribeirinhos montam a “pari”, estrutura feita de estacas de madeira. (Reprodução/Miguel Monteiro)
(*) Com informações do Instituto Mamirauá e WWF-Brasil
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